Junho Vermelho – A certeza da cura

Todos os dias vidas são salvas graças a doação de sangue. Na história de Paula Assunção, a solidariedade de 17 pessoas salvou a vida dela após receber 17 transfusões sanguíneas

(Imagem: Núcleo de Publicidade do LACOS/Alyson Ferreira)

Pensando na importância da Doação de Sangue, o LACOS (Laboratório de Comunicação e Mercado) da FAESA Centro Universitário montou uma campanha integrada envolvendo os Núcleos de Audiovisual, Jornalismo e Publicidade e Propaganda para dar visibilidade e convocar pessoas a realizarem a doação. A campanha intitulada “Juntos Pela Vida” motivou ações realizadas, principalmente, pelos alunos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. No Núcleo de Jornalismo uma série de conteúdos foi produzida para refletir essa temática tão importante. Já o Núcleo de Publicidade realizou a campanha de sensibilização dos alunos e o convite para a doação de sangue. E, para finalizar, o Núcleo de Audiovisual elaborou um videocase das ações realizadas. Confira abaixo o sexto conteúdo elaborado pelo Núcleo de Jornalismo e, também, nos links a seguir, os outros conteúdos elaborados pelo Núcleo de Jornalismo: “A Importância de Doar Sangue” , “Mitos e Verdades” , “Emergências Médicas” , “LACOS e o Jovem Doador” e “Solidariedade Faz a Diferença”

José Modenesi

Quando imaginamos uma trajetória de vida atravessada pela doação de sangue, muitos cenários podem vir à mente. Mas uma coisa, eu garanto: nenhuma imaginação consegue ir tão longe até que chegue à história da Paula. Como ela mesmo conta, essa história só pode ser redigida por mim porque ela foi salva pela doação de sangue e, ainda, nas palavras dela, salva também pela fé. No mês da campanha Junho Vermelho, que conscientiza a respeito da doação de sangue, conhecer essa história é uma obrigação.

Paula Assunção, a protagonista dessa história (Foto: Arquivo Pessoal)

No ano de 2005, Paula Assunção descobriu que estava grávida pela primeira vez. Ainda sem saber do diagnóstico de malformação arteriovenosa (MAV), ela enfrentou, ao longo da gestação, o início das mudanças na língua. Dentista de profissão, Paula sabia que inchaços eram comuns durante o período da gravidez e, assim, isso não foi uma grande preocupação. Já na segunda gravidez, o caso se agravou. Ela me explica que os hormônios intensificam o processo da MAV e por esse motivo o desafio passou a ser muito maior.

Num organismo sem a condição, o fluxo de sangue entre as artérias e as veias se conecta por meio dos capilares – pequenos vasos localizados dentro dos tecidos do nosso corpo. Com a MAV, artérias e veias se conectam de forma direta, sem contar com a proteção desses pequenos vasos.

Na maioria dos casos, essa malformação arteriovenosa é presente no cérebro. Para a Paula, a MAV surgiu na língua. A dificuldade da fala era uma realidade, assim como os sangramentos frequentes que desafiavam a rotina e os inchaços na região afetada. Na hora de dormir, ela enfrentava o sufocamento por conta do inchaço da língua.

Isso a levou às primeiras intervenções médicas ainda em Vitória. Entre tantas, as embolizações e as transfusões sanguíneas eram as intervenções mais comuns e necessárias no dia a dia da Paula. Esses procedimentos ajudavam a controlar a condição e a manter uma rotina ativa, já que ela não abandonou o trabalho e ainda lidava com as demandas da maternidade.

Apesar disso, a intensidade dos sangramentos e os desafios para realizar o tratamento na cidade a levaram para São Paulo, em 2015. Em São Paulo,, buscando um acompanhamento mais eficaz, ela começou a frequentar um centro de malformação. Naquele momento, o quadro era grave e a realidade era de muitos desafios.

Registro de 2015, durante o tratamento em São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi justamente neste ano, a virada no tratamento da Paula. Já em São Paulo, ela ficou internada de fevereiro a julho. Passava 20 dias no hospital e 10 em casa. Deixou a família em Vitória e, acompanhada pela mãe, seguiu em direção à cura. Nesse período de tratamento intensivo, precisou da traqueostomia para respirar e da gastrotomia para se alimentar.

Cada sangramento que acontecia era sem parar mesmo. Esguichava sangue. Era bem complicado

Paula Assunção

Também em 2015, no Hospital A.C. Camargo Câncer Center, a maioria das transfusões sanguíneas aconteceu. A internação e as transfusões buscavam controlar o caso, mas, com o diagnóstico incomum, era um desafio para a equipe médica encontrar uma solução ideal que levasse à cura.

Paula no período da Internação (Foto: Arquivo Pessoal)

Ao longo de todo o tratamento, Paula recebeu 17 transfusões sanguíneas. A quantidade de bolsas recebidas era estabelecida a partir dos sangramentos e das avaliações dos hemogramas, que eram feitos diariamente. De fato, as bolsas de sangue foram fundamentais e a solidariedade dos doadores foi essencial para ela.

Para mim as transfusões foram fundamentais, pois eu precisava repor o sangue perdido

Paula Assunção

No hospital, ela se recorda que as campanhas de conscientização sobre a doação de sangue estavam sempre muito presentes. Nos quartos em que o paciente precisava receber as bolsas, assim como ela, informativos sobre a importância das doações eram disponibilizados pelo hospital.

Além disso, o trabalho de informar os pacientes também era recorrente. Paula relata que sempre entendeu que as doações de sangue eram totalmente seguras e não apresentavam nenhum risco à ela. A conscientização a tranquilizava e evitava que uma nova preocupação surgisse sem motivo.

Isso me deixou muito segura porque existia uma transparência muito grande desses procedimentos dentro do hospital

Paula Assunção

Depois das 17 intervenções, por questões médicas, ela não poderia mais receber novas bolsas de sangue. Por conta disso, o procedimento de interromper a irrigação sanguínea da língua foi a alternativa escolhida pela equipe médica para solucionar o caso. Muitas pessoas duvidavam da cura e observavam a realidade da Paula sob um olhar fatalista. “Para muita gente, eu iria morrer ou então precisaria remover a língua”.

Com o procedimento, a principal artéria da língua foi interrompida. A questão mais eminente para os médicos era que o órgão acabasse necrosado. Paula esclarece que, apesar do risco, isso sequer chegou perto de acontecer com ela. Sendo assim, o dia 17 de abril foi a data da última intervenção cirúrgica.

Desde então, ela comemora esse dia e encara quase como um aniversário. Para ela, 17 de abril é o dia do renascimento e uma data em que ela aproveita para se lembrar de todo o caminho para chegar até aqui. Hoje, Paula vive uma vida tranquila.

Para chegar até a cura, a trajetória de Paula foi de muita fé. Em todas as etapas do tratamento, ela tinha a certeza dentro do coração de que tudo daria certo. Entre internações e intervenções médicas, buscava o espaço para encaixar o otimismo na rotina e seguir em frente, encontrando o conforto no acreditar.

Primeiro a minha fé. Eu tinha certeza que eu iria sair dessa. Eu sempre fui de entregar e confiar, pois eu acreditava que Deus iria operar um milagre

Paula Assunção

Os dias mais intensos do tratamento, em São Paulo, foram ao lado da mãe Sônia. Com muitas dores e inchaços ao longo do período, Paula encontrava na mãe o lar do qual estava fisicamente distante. Sônia deixou tudo em Vitória para acompanhar a filha e esteve ao lado dela todos os dias do tratamento.

Paula Ao lado dos pais (Foto: Arquivo Pessoal)

Também no tempo de internação, Paula recebia visitas do pai (Paulo), de amigos e de outros familiares que chegavam para dar suporte durante o tratamento. Por conta da distância, ela ficou afastada das filhas, que foram visitá-la em duas ocasiões. Apesar da alegria ao receber Lívia e Lara – na época, respectivamente, com 10 e 3 anos de idade – era muito difícil deixar que as filhas a vissem num momento de fragilidade.

Ao entrar no tema “filhas”, bastaram poucas palavras para que a emoção tomasse conta dela. Era justamente na Lívia e na Lara que a certeza da cura ficava ainda mais latente e cheia de fé. Paula sabia que precisava estar ao lado das filhas e a vontade de ver as pequenas crescendo era o combustível diário.

A visita das filhas Lívia e Laura, em 2015, no hospital (Foto: Arquivo Pessoal)

Eu não admitia a ideia de ter que deixá-las. Elas não podiam ficar sem mãe

Paula Assunção

Com as filhas, ao longo dos anos de tratamento, surgiram muitos assuntos sobre a condição e, principalmente, sobre a cura. Em um desses momentos de conversa entre mãe e filhas, a mais nova quis saber: “Mamãe, como você ficou curada?”.

Parecia que a resposta já estava pronta, apenas esperando a pergunta. Paula, então, explicou para a filha. Em primeiro lugar, “Papai do Céu” a acompanhou durante todo o tratamento. Depois, estavam ao lado dela os médicos e toda a equipe do hospital. E, por fim, a importância da gratidão por todas as pessoas doadoras de sangue que ajudaram a Paula sem nem mesmo saber.

Elas questionavam se eu iria ficar ‘sem sangue’. E eu explicava: ‘Mamãe vai ficar viva porque vai receber doação de sangue de pessoas que mamãe nem conhece’

Paula Assunção
Mãe e Filhas, curtindo a vida, em 2024 (Foto: Arquivo Pessoal)

Depois de tudo o que enfrentou, Paula deixa algumas lições que aprendeu. A mais latente, sem dúvidas, é a importância da doação de sangue. Sem essa ajuda solidária das pessoas que decidem doar, muitas vidas seriam perdidas – por isso, é tão importante ser doador. “O maior gesto de amor é você se doar para qualquer pessoa que precisa de ajuda naquele momento”, defende.

Paula viveu momentos de muita dúvida sobre o dia de amanhã e por isso escolhe viver intensamente o hoje. Diante da fragilidade da vida, o valor está nas pequenas coisas do dia a dia. Com um sorriso no rosto, ela me diz que a alegria e a gratidão são constantes independentemente das circunstâncias – além da fé, sempre presente.

Da esquerda para a direita: os pais Paulo e Sônia, Paula e as filhas Lara (mais nova) e Lívia (Foto: Arquivo Pessoal)

Antes de finalizar a conversa, Paula me fala que a certeza da cura também tinha a ver com uma vontade avassaladora de estar viva. Ela me relata o sentimento latente de querer contar uma história de superação e poder dar o próprio depoimento sobre a cura. Logo, só posso finalizar dizendo que, aqui nesse texto, estão registrados, então, a história de superação e o depoimento de cura da Paula.


Edição: José Modenesi

Imagem do Destaque: Núcleo de Publicidade do LACOS/Alyson Ferreira)