Opinião – A importância do Mês do Orgulho LGBTQIA+

O Mês de Junho é marcado por ações da Comunidade LGBTQIA+ (Imagem: Freepik)

Camila Buzzette

Junho é um mês marcado pelas Comemorações do Orgulho LGBTQIA+ com diversas passeatas e movimentos em prol da Comunidade. Contudo o que muitos não sabem é a história por traz da escolha de celebrar o Orgulho nesse mês e, também, as consequências que a homofobia traz para a a comunidade.

Fazendo uma viagem no tempo, mais precisamente no dia 28 de junho de 1969, em Nova Iorque, no bar gay chamado Stonewall Inn, houve um confronto entre os policiais e o público do local. Cansados de serem reprimidos, a comunidade LBTQIA+, que frequentava o espaço, resolveu se revoltar contra os ataques.

Os protestantes se confinaram no bar, enquanto várias pessoas ficaram em frente ao estabelecimento para ajudar. A revolta durou cerca de 5 dias, reunindo diversas pessoas que aderiram a causa, criando, assim, um grande marco para a comunidade. Todos perceberam a data como uma oportunidade para celebrar a força e a luta da causa.

Confronto entre os policias e a comunidade do bar Stonewall Inn (Imagem: Getty Images)

Uma figura importante dessa revolta foi  Marsha P. Johnson, uma mulher trans, afro-americana e drag queen. Ela estava dentre as Drag queens que ficaram na linha de frente do confronto. Posteriormente, ela criou o Gay Liberation Front, um dos primeiros grupos a buscar o fim da repressão à diversidade. E, juntamente, à amiga Sylvia Rivera, ativista transgênero, elas criaram a Street Transvestite Action Revolutionaries (S.T.A.R) para buscar e garantir moradia à Comunidade LGBTQIA+ que se encontrava na época sem-teto.

Nós alimentávamos, vestíamos as pessoas e mantínhamos o prédio funcionando. Saíamos para as ruas e pagávamos o aluguel. Nós não queríamos que os jovens estivessem nas ruas se prostituindo

Sylvia Rivera em entrevista concedida na época
Martha P. Johnson (esquerda) e Sylvia Rivera protestando em 1973 (Imagem: Domínio Público)

No Brasil

No Brasil, as pessoas buscavam uma estrutura social contra as violências policias. Assim como no Estados Unidos, a Comunidade LGBTQIA+ sofria diariamente com as opressões, principalmente com o início da ditadura militar, que durou entre os anos de 1964 a 1985.

O delegado José Wilson Richetti, na época, defendia a ideia de limpar a cidade dos assaltantes, traficantes de drogas, prostitutas, travestis, homossexuais e desocupados. Ele declarou em uma entrevista que cerca de 300 a 500 pessoas eram levadas à delegacia todo dia. Para se proteger contra esses ataques, a Comunidade começou a produzir publicações alternativas, como:  Lampião da Esquina e o ChanacomChana, periódicos de nicho. Vendia-se escondido em bares e bancas, buscando informar sobre as operações contra a Comunidade LGBTQIA+.

A primeira parada de Orgulho LGBTQIA+ que ocorreu no Brasil foi em São Paulo no ano de 1997 e foi Influenciada pela marcha de orgulho da Marsha P. Johnson. Hoje, a parada em São Paulo é uma das mais frequentadas no mundo.

Parada do Orgulho LGBTQIA+ na cidade de São Paulo (Imagem: Felipe Siston/ONU/Brasil/Reprodução)

Com os avanços e busca por igualdade, em 2019, o Brasil declara crime a homofobia, podendo levar de 1 a 3 anos de prisão e uma multa. Apesar dos diversos progressos, ainda há muito a aprender e mudar no País para que ocorra efetivamente o fim dessa discriminação.

Porque Celebrar o Mês?

Apesar no Brasil não realizar estatísticas oficiais, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) identificou que cerca de 10% da população faz parte da comunidade LGBTQIA+, sendo isso 20 milhões de pessoas. Apesar disso, a pesquisa realizada em 2022 pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) identificou que o Brasil registra um assassinato de pessoa LGBTQIA+ a cada 34 horas, colocando o País como o o lugar com mais mortes da Comunidade LGBTQIA+ no mundo pela 14ª vez consecutiva.

Uma outra pesquisa realizada por meio das denúncias recebidas por meio do Disque 100, iniciativa do Ministério dos Direitos Humanos, confirmou que um jovem LGBTQIA+, rejeitado pela família, tem 8,4 vezes mais chances de tentar suicídio. E os outros jovens da comunidade têm 5 vezes mais chances de cometer do que um jovem heterossexual.

Com esses dados, pode-se notar que é mais que necessário uma ação em busca dos direitos da comunidade. Apesar de tantas lutas, é importante ter um espaço para celebrar as conquistas e a liberdade de ser quem são. Dando, assim, visibilidade às dores, às celebrações, às vontades e aos desejos. Sendo assim, é imprescindível que a sociedade busque entender a luta da Comunidade e dê visibilidade ao movimento.

Deve-se buscar ainda entender conceitos, piadas e falas que geram a homofobia indiretamente para que seja excluída do cotidiano e todos possam viver igualmente e fraternamente. Todos devemos tratar com respeito a diversidade e é isso que esse mês transmite. Que ocorram muitas manifestações, marchas e que, por fim, gerem o fim dessa discriminação. Viva a diferença!


Edição: Camila Buzzette

Imagem do Destaque: Freepik