Dia das Mães: Relatos de Partos… e o Início da Vida

(Foto: IStook/Fotomontagem: Loren Peterli)

Loren Peterli

Contrações. Respira. Força. Às 00h15, 03h45, 9h15, 16 horas. Nasce uma nova vida. O que era um sonho desejado, se torna realidade ao segurar o filho nos braços. O início da vida de uma mãe, na prática, começa agora, sem direito de voltar atrás. Segurar o choro não é uma opção, pois não foi somente uma criança que veio ao mundo, mas uma mãe que renasceu com uma nova história. 

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de três milhões de partos acontecem anualmente no Brasil. Sete a cada 10 mulheres são mães no País é o que aponta uma pesquisa de 2023 realizada pelo DataFolha. As capixabas Gabriela Santos, Júnnia Machado e Gabriela Andrade fazem parte dessas estatísticas. 

O parto, propriamente dito, é o nome dado ao momento em que o bebê deixa o útero da mulher, finalizando o período de gestação. Trata-se, portanto, do nascimento da criança. O descolamento do que antes, era somente um corpo, para duas vidas interligadas.

Confira abaixo os depoimentos sublimes de mães e a conexão com o parto e o nascimento do filhos:

“O meu período gestacional foi tranquilo, sem sintomas pesados e nem enjoo. Dudu nasceu no tempo certo, no 9°mês e de cesariana. Ser mãe é um processo contínuo, nenhum dia é igual ao outro e os desafios nos ensinam a sermos melhores. Quando se trata de uma criança neuroatípica, se torna algo mais desafiador e prazeroso, ao mesmo tempo. Meu filho me faz sair da rotina e me alegra com cada progresso. Durante a gravidez, eu procurei manter meu ritmo normal de trabalho e estudos. A minha alimentação modificou e perdi a vontade de comer carne, doces e grãos. Comia muitos vegetais, frutas e frango grelhado. Fora essas mudanças, que foram naturais da minha gestação, não tive problemas de saúde e nem engordei muito. Fiz o pré-natal com a Dra. Valéria, que esteve, disponível para me receber quando sentia algum incômodo por conta de alergias ou cansaço devido ao peso da barriga. Minha irmã mais velha, Carolina, me acompanhou no momento do parto e registrou o momento. Lembro como se fosse ontem, foi mágico. Para mim, o parto foi um grande alívio. Meu filho pesava muito e encaixou aos 5 meses de gestação. Os pezinhos dele ficavam no meu tórax e isso me dava falta de ar. Fora que ele se mexia muito à noite, nos únicos momentos em que eu podia descansar. Mas a gestação, num todo, foi muito interessante e me sentia uma supermulher. É incrível poder gestar uma vida e acompanhar todos os processos após o nascimento. Meu bebê agora é um adolescente lindo, cheio de opiniões e muito inteligente. Ser mãe é desafiador, é mágico, é estressante, mas, o principal de tudo, é compensador. Nunca tive o desejo de ser mãe, não idealizava esse momento. E, por não ter colocado muitas expectativas, acredito que o processo tenha sido e ainda é mais fácil para mim, pois sempre espero por tudo. Meu filho, desde muito novo, já mostrava que não tinha vindo ao mundo só de passagem, mas para mudar a minha vida e de todas as pessoas que passam pela vida dele. Sou muito orgulhosa do que construímos juntos e de todas as conquistas que tivemos. Sabemos que ser diferente é o que torna o mundo mais interessante, mais alegre e divertido. O parto foi agendado. Eu queria que ele nascesse no dia do aniversário da minha mãe, dia 05/11/2009, mas nesse dia não teria anestesista. Então precisei adiantar para o dia 04. Não senti as contrações pois me adiantei, não queria sentir dor e, no final, deu tudo certo. Quando vi meu filho pela primeira vez foi uma emoção enorme, não sei nem descrever. Foi uma alegria muito grande. Só sabia chorar. E a sensação de segurá-lo no colo, de protegê-lo e garantir que ele fique bem é a melhor coisa do mundo. Eduardo Santos tem 14 anos, possui transtorno de espectro autista (TEA), nasceu no dia 04 de novembro de 2009, às 9h15 da manhã, pesando 4,300kg com 49cm”.

Gabriela Santos, 37 anos, Professora do Ensino Médio

“O período da minha gestação foi muito tranquilo, pois não tive enjoo, nenhuma cicatriz. Ela nasceu de 39 semanas, não tive inchaço. Tudo certo nos exames, só uma intolerância a cheiros fortes. Considero que a minha gravidez foi perfeita. Amei estar grávida, apesar de estar tentando entender tudo que estava acontecendo no começo por não ser uma gravidez planejada. Inclusive estava morando na Bahia e, na época, ainda sem saber da gravidez, me candidatei como Miss Porto Seguro, só que uma das restrições era não ser casada e não ter filho. Na semana, descobri que estava grávida. Hoje, tenho outro pensamento, mas, na época, criar amor pelo filho foi pela convivência. O processo de você amar e ver que é um amor incondicional, que é o que eu sinto por Julietta, foi construído. Foi uma descoberta horrível na época, considerando as circunstâncias. A minha vida mudou e os planos viraram outros. Hoje, penso em adaptar o meu trabalho em função da minha filha. A gente tem muito medo né? O medo do desconhecido. Eu nunca tinha trocado uma fralda na vida. A primeira fralda foi a da minha filha. Então, em tudo, ela foi a primeira. Eu penso que a mãe sempre vai conseguir fazer melhor pelo seu bebê. A ideia inicial era ter um parto normal, mas não compensou pelo fato de que eu teria que pagar uma doula por fora. Por isso, optei por utilizar o serviço do plano de saúde. A cesárea estava marcada um dia depois, mas contrações começaram no dia anterior. Eu pesquisei muito sobre parto. Na teoria era uma coisa, mas quando eu vivi na prática foi outra. Eu estava muito tensa na cirurgia, talvez não tenha sentido muita coisa por causa da anestesia.  Queria ter aproveitado mais o barrigão, curtido esse processo. Foi pela ultrassom que eu consegui assistir ela e ter uma realidade melhor do que estava acontecendo. Mesmo eu não alimentando direito e não seguindo tudo à risca, me senti poderosa de estar formando uma vida. Como eu sou evangélica, você começa a acreditar mais ainda que Deus existe. A gravidez é um milagre. O nascimento é um milagre. E eu olho para a Julietta e penso: é um milagre todos os dias da minha vida. Julietta Vianey Pinheiro Vieira Machado tem 8 meses, nasceu no dia 09 de agosto de 2023, às 03h45 da manhã, pesando 3,315kg, com 49cm de altura”.

Júnnia Cruz Vieira Machado, 26 anos, Jornalista

“As minhas duas gestações foram muito tranquilas. Inclusive, nas duas, fiz atividade física até o último dia pós-parto. Eu fiz treino de CrossFit um dia antes do meu bebê nascer. Então, assim, não tive qualquer intercorrência, qualquer sintoma pesado, nem enjoo. As duas gestações foram maravilhosas. E, o bebê, o primeiro nasceu com 42 semanas e o segundo com 41 semanas e 1 dia. Eu esperei nas duas o tempo do bebê. No primeiro foi cesariana, no segundo foi parto normal. Em ambos, eu busquei um parto normal humanizado. Infelizmente, não tive sucesso no primeiro, mas realizei esse grande sonho de gestar um filho de parto normal totalmente humanizado e totalmente sem intervenção. O primeiro parto, eu decidi por não pagar disponibilidade médica e contratei somente uma doula. Eu acredito que foi o meu maior arrependimento na primeira gestação porque eu tinha um sonho muito grande de ter parto normal. Eu acho que a ausência de uma disponibilidade médica fez toda a diferença porque fiquei muitas horas em trabalho de parto. No meu primeiro parto, eu fiquei rodando na mão de vários médicos e isso vai causando um desgaste muito grande na mãe que está ali em trabalho de parto. Enfim, não foi uma experiência legal para mim na minha primeira gestação. Já na segunda, eu fiz exatamente o contrário. Graças a Deus, foi a realização do meu grande sonho que era o parto normal humanizado. Foi maravilhoso. Eu não tive nenhuma única intervenção no meu segundo parto, diferente do meu primeiro que foi cheio de intervenções, medicações. Eu consegui reescrever a minha história com o segundo parto. O período de 9 meses foi um momento para aproveitar a fase. Lidar com uma criança depois do nascimento é uma experiência bem única. Eu falo que é uma mudança drástica na vida de uma mãe e de um pai. Até então você chegava do trabalho e pensava o que queria fazer. Agora, você não tem escolhas sobre a vida. Essa fase inicial é prioridade de 100% no bebê. E é uma revolução, mas que certamente melhora a gente como ser humano, como cidadão e faz se refletir sobre vários aspectos da sua vida. Te torna uma pessoa melhor e traz uma responsabilidade muito grande, ao mesmo tempo que traz uma gratificação, um amor, assim, inexplicável e mensurável. O processo de ser mãe de primeira viagem é contínuo e ainda aprendo a ser mãe todos os dias. Cada maternidade e cada gestação é uma experiência única. Eu falo que você pode criar o filho com os mesmos hábitos, oferecendo as mesmas comidas, morando na mesma casa, dormindo no mesmo berço e, mesmo assim, a experiência vai ser diferente. São personalidades diferentes, nascendo em momentos diferentes. Então, você pode dar exatamente a mesma educação, mas é incrível como eles reagem de forma diferente àquela mesma educação que você vai dar aquele mesmo amor. Muitas mulheres enxergam o parto como uma forma de renascimento. É renascer numa nova mulher. A partir do momento que nasce um filho, você renasce e você começa a enxergar a vida com outros olhos. Você vive um processo de adaptação radical na nova vida. Matheus Henrique Lube tem 1 ano, nasceu no dia 19 de dezembro de 2022, às 00h15 da madrugada, com 3,950 kg e 49cm. Já o Theo Henrique Lube tem 4 anos, nasceu no dia 27 de agosto de 2019, às 16h da tarde, pesando 4kg com 50cm”.

Gabriela Andrade de Carvalho, 37 anos, Capitão do Corpo de Bombeiros

Doulas e o Parto

A Socióloga, especialista em educação para os direitos humanos e coordenadora da Associação de Doulas do Espírito Santo, Aline de Almeida, é mãe, e doula há sete anos. Ela explica que a profissional é importante para mostrar às mulheres o caminho que elas precisam percorrer para conquistar o parto desejado

Quando a gente entende o parto, a gente passa a dar menos valor a parte médica e mais valor para outras questões. Hoje, com esse olhar mais técnico do corpo sendo uma máquina e sendo dominado pela ciência médica, é vislumbrado que o parto é uma ciência médica, mas não é. É um ato fisiológico, pois ele vai acontecer mesmo sem o médico. Claro que a assistência médica só tem a agregar, mas o médico não faz o parto, ele assiste. Quem faz o parto é a mulher e o bebê. O parto foi feito para dar certo, 85% dos partos dão certo

Aline de Almeida

Aline de Almeida comenta também que o parto é uma travessia. Ele é um rito de passagem e não é à toa que o parto é desse jeito. A doula afirma que o parto prepara a mulher para maternidade. “Para aquela que optou por gestar, o processo de parto vai marcar a vida dessa mulher. É o momento mais importante. É onde a mãe vai conhecer aquela pessoa que esperou por tanto tempo”.

Aline Almeida explica ainda que a mulher não é preparada para ser mãe, não é biológico. Ela acredita que é biológico a partir do dia que a criança nasce, pois há mecanismos hormonais para conexão, mas esses mecanismos sozinhos no ser humano não faz muita diferença, pois existe questões culturais envolvidas no processo. “Biologicamente quando o bebê nasce, pelo parto normal, é uma injeção de ocitocina, que é o hormônio do amor, tanto no bebê como na mãe. Eles se olham e entram em êxtase”.  Assim, é criado um portal de um bebê que estava dentro da mulher, que era idealizado, e passa a ser real. A partir do dia que a criança nasce, a mulher vai conhecer realmente o que é ser mãe.


Edição: Loren Peterli

Imagem do Destaque: Foto: IStook/Fotomontagem: Loren Peterli

Fotos ao longo do conteúdo: Todas de Arquivo Pessoal