A volta da Fotografia Analógica
Natan de Oliveira
A maior parte da história da fotografia foi liderada pelas famosas câmeras analógicas, mas, depois do surgimento das máquinas digitais, foram abandonadas por muitas pessoas. Contudo, nos últimos anos, percebe-se um movimento de resgate e de “renascimento” da fotografia com filme e, ainda, um aumento do interesse das pessoas por essa área.
Um fator que mostra que a fotografia analógica voltou a ser consumida foi as empresas Kodak e Fujifilm (grandes nomes da indústria fotográfica) voltarem a fabricar filmes e câmeras antigas devido a alta demanda dos consumidores. Antes desse marco, as últimas produções de filmes em larga escala aconteceram por volta do começo dos anos 2000.
Muitos fotógrafos, cineastas e grandes produtoras voltaram a entregar materiais analógicos em seus trabalhos. Um dos maiores exemplos disso é a série Euphoria do canal HBO, lançada em junho de 2019, e que está em exibição até hoje. A obra relata a história de Rue Bennet, que vive conflitos adolescentes e passa por problemas psicológicos ao lado de amigos. A equipe de Euphoria gravou a segunda temporada com uma produção de filmagem criada com filmes analógicos 35mm.
Além das filmagens, as fotos de divulgação e backstage da série postadas nas redes sociais também são, em sua maioria, feitas por câmeras de filme. Após o sucesso da série, foi possível acompanhar vários telespectadores participando de “trends” nas redes sociais, não só dublando as falas dos personagens e criando “edits” para as plataformas, mas, também, reproduzindo a estética visual da série em suas fotos.
A vestibulanda de Medicina e apaixonada por fotografia analógica Bianca Teixeira relata que o mais interessante dessa área fotográfica é a fuga do imediatismo que a sociedade vive hoje. As pessoas passam vários minutos tirando diversas fotos e em grandes quantidades até chegarem no resultado perfeito.
Bianca conta que a fotografia analógica torna tudo mais único, sem uma segunda chance de alcançar a perfeição. Para ela, cada foto se torna especial quando o filme se adapta ao ambiente e consegue captar aquele momento com uma coloração inusitada e um efeito diferente, que somente é possível descobrir quando o filme passa pelos processos químicos e é revelado.
Temos que esperar dias, às vezes meses, para conseguir ver como ficaram as fotos. Se ficaram do jeito esperado ou não. Isso torna tudo mais extraordinário e, sem dúvidas, é a melhor parte e o que mais me incentivou a começar a fotografar
Bianca Teixeira
Vários famosos e figuras públicas passaram a publicar fotos analógicas nas redes, influenciando os seguidores a aderirem a essa tendência. Vale ressaltar que a fotografia vintage não é uma atividade acessível, pois as câmeras e os filmes estão sendo vendidos por preços elevados. Contudo, há pessoas que manipulam a imagem utilizando aplicativos de edição e filtros que se popularizaram e, assim, replicam a estética e características dos filmes nas fotografias digitais, como as manchas, cores e a granulação.
Mercado e Consumo
O que explica a fotografia analógica ter voltado a ser tão consumida a ponto de duas das maiores empresas de fotografia voltarem a investir nesse mercado? Existe hoje uma era de massividade tecnológica, de excesso de informações e cibridismo (Fim da separação entre o online e o offline). A fotografia analógica vai contra essa massividade, desde o processo de tirar fotos sem ver o resultado imediatamente, até o limite de poses por filme, processo longo de revelação química e digitalização.
Fotografar analogicamente, hoje, significa fazer parte de uma cultura do desaceleramento e contra a volatilidade que já nasceu com a geração Z. A massividade tecnológica faz querer voltar para uma realidade em que tudo acontece de maneira mais lenta e com processos que exigem paciência, mesmo que algumas pessoas nunca tenham vivido tal realidade.
O fotógrafo, fotojornalista do portal A Gazeta ES e professor da FAESA Centro Universitário, Vitor Jubini, explica que provavelmente o que fez a fotografia analógica voltar foi o aspecto visual, a estética vintage e o grão desse estilo de imagem. O grande diferencial da fotografia que tem química é o efeito do grão, pois passa a sensação de ser algo vintage e retrô, características que são buscadas pelas pessoas por conta de fatores de tendências e costumes cíclicos.
Sobre a era da massividade, Vitor Jubini conta que em um contexto proporcionado pela fotografia digital, as pessoas têm um excesso de informações e de imagens padronizadas. E um fator muito importante nesse processo é a fotografia do celular, a câmera mais utilizada do mundo. “Somos bombardeados de imagens iguais diariamente, criando, assim, uma excessividade visual”.
O que fazer para se diferenciar disso? Para chamar atenção num mundo viciado visualmente? Essa busca vai em torno de ter um processo mais lento e de ter uma fotografia que você pensa e observa mais. É um exercício de fuga e de descondicionamento do olhar.
A fotografia analógica é uma maneira de contemplar em um mundo muito acelerado, muito corrido. Você vai encontrando outras formas de experiências. É mais visceral, imprime aquilo que está presente na cena e deixa aquela marca característica. Dependendo do conceito do seu trabalho, ainda tem espaço para o filme
Vitor Jubini
A fotografia analógica, provavelmente, é uma tendência passageira por conta da lógica de mercado. Está cada vez mais difícil encontrar o material analógico. Talvez sobreviva por um nicho que consome esse produto, mas, naturalmente, não vai se sustentar devido questões ambientais, ecológicas e financeira.
O filme é feito com produtos químicos, assim como o revelador. Existe toda uma questão da poluição envolvida por trás desse processo. A sociedade tem cada vez mais “batido nessa tecla” e estando atenta às questões de reduzir agentes poluidores no meio ambiente.
Edição: Natan de Oliveira
Imagem do Destaque: Natan de Oliveira