Estereótipos reforçam a exclusão de minorias na publicidade

Kamily Rodrigues

O estereótipo presente em propagandas e campanhas publicitárias tornou-se um assunto relevante e muito debatido na atualidade.  Para compreendê-lo, é necessário entender os padrões que a sociedade reproduz em seu cotidiano, uma vez que as marcas anunciantes tomam como base o público consumidor para a realização das campanhas.

Padrão esse que muitas vezes ainda é seguido nas propagandas, reforçando os preconceitos advindos da sociedade, como a homofobia, o racismo, o machismo e a imposição sob a mulher de ter o corpo considerado perfeito. Sendo assim, todas essas questões trazem consigo impactos negativos.

Impactos que a comunidade LGBTQIA+ sofre de maneira acentuada, visto que a publicidade tende a reforçar o estereótipo do gay sempre afeminado e o melhor amigo das mulheres para ‘fofocar’. E também da lésbica masculinizada. Ambos sempre sendo alvo de humor. A situação se agrava ainda mais quando relacionados a comunidade trans que sofre com a falta de espaço e representatividade no ambiente publicitário.

Além disso, reforça os padrões impostos as mulheres de terem sempre que ser magras para se encaixarem no convívio social, sendo sexualizadas e objetificadas. O homem hétero também é alvo desses estereótipos impostos e sempre é retratado como o chefe da família e responsável pelas finanças

No entanto, a situação se atenua ainda mais para às pessoas de pele negra. Assim como os deficientes físicos, que sempre tendem a ser excluídos de grandes campanhas por não se encaixarem no perfil.

Seja para o público LGBTQIA+, negros ou deficientes físicos, existe uma luta constante por espaço e representatividade. Isso ocorre devido a famosos costumarem estrelar grandes campanhas, principalmente de cosméticos. No caso das mulheres negras, a situação é ainda mais delicada, uma vez que, além de todos os estereótipos que as mulheres carregam, ainda sofrem com o preconceito racial.

O professor do curso de Publicidade e Propaganda da Faesa Centro Universitário Victor Mazzei, declara que o ponto principal disso reside no fato da publicidade ser uma ferramenta importante para a divulgação das marcas. “Um grande contingente de anunciantes prefere apostar em velhos padrões e estereótipos em vez de apostar na valorização das diversidades das minorias sob risco de sofrerem represália dos públicos, assim como aconteceu na campanha do Dia dos Namorados do Boticário em 2016”, explica.

Tem-se discutido muito a respeito das consequências desses posicionamentos das empresas e a postura delas em relação a inclusão. Isso se deve à procura do público por empresas que tem se preocupado em trazer propagandas com essas pautas. Desse modo, o usuário passou a pesquisar nas redes sociais sobre os posicionamentos e compromissos das marcas antes de adquirir algum produto.

Marcas como a Casas Bahia e a Salon Line, tem investido em anúncios que promovam tanto a empresa quanto a diversidade. É o caso da propaganda da Casas Bahia para o Mês do orgulho LBTQIA+ que tem como pauta a luta pela liberdade. A Salon Line, por outro lado, tem explorado nas propagandas a diversidade feminina.

Para Mazzei, o caminho a ser seguido pelos anunciantes é observar o que o público busca. E além de se preocuparem com os estereótipos, tem se voltado para as questões ambientais, pois o tema se tornou relevante para os consumidores. Há anunciantes que trazem consigo a representação do cuidado para com o meio ambiente como a Natura. A empresa se preocupa com os impactos provenientes do carbono, que desde 2007 é neutro, bem como com a extração de matéria prima e descartes de produtos.

Mais do que uma mudança das marcas, temos percebido como os públicos têm exigido uma mudança de postura das marcas anunciantes. Elas estão sendo cobradas a se posicionarem ideologicamente no que diz respeito a causas ligadas ao meio ambiente, em relação a tópicos como homofobia e racismo. Em tempos de redes sociais ativas, uma prática que vá de encontro a esses valores pode ser divulgada em questões de segundos, fazendo com que reputações de marcas sofram abalos. Logo, penso que anterior a mudança corporativa, vemos um contingente de consumidores que querem saber de verdade quais as práticas no dia a dia das empresas que tentam vender os produtos e serviços a eles

Victor Mazzei

É importante ater-se para o fato de que embora a postura das instituições esteja mudando e se tornando mais inclusiva, a exclusão das minorias nesse cenário ainda se faz presente.

Edição: Kamily Rodrigues

Imagem do Destaque: Freepik