Olhares: Retratos sobre o Sagrado

Larissa de Angelo

Com pouco mais de um século de existência, a Umbanda é a religião monoteísta de origem afro-brasileira. Criada no Rio de Janeiro, em 15 de novembro de 1908, pelo médium Zélio Fernandino de Moraes com a orientação do espírito do Caboclo das Sete Encruzilhadas. A religião é repleta de crenças e rituais belíssimos.

Desde as saudações até as tatuagens, a Umbanda se mostra presente como uma religião que aceita a diversidade. Os rituais de descarrego, as incorporações, as produções de guias e tantos outros ritos da religião mostram a importância da existência da Umbanda para a cultura. Fazendo parte da expressão cultural brasileira por conta das raízes, a Umbanda é um patrimônio de resistência, de preservação histórica e do sagrado.

A palavra “Umbanda” pertence ao vocabulário Quimbundo, de Angola, e quer dizer “Arte de Curar”. A Umbanda é fundamentada em três 3 conceitos: Luz, Caridade e Amor

Para conhecer mais sobre o ato da manifestação do sagrado presente em objetos, em ações e no ambiente da Umbanda, os alunos do curso de Jornalismo da FAESA Centro Universitário Danilo Ascaciba, Renan Benha, João Vitor Tavares e a aluna Larissa de Angelo visitaram a Fraternidade de Umbanda Tabajara, em Cariacica. O grupo aprofundou-se no sagrado, repleto da conexão humana com o divino, e produziu um fantástico registro fotográfico intitulado “Umbanda: mais que uma religião, um modo de vida”.

O documento imagético faz parte do Projeto Integrador II – “Olhares: Retratos Sobre o Sagrado“. Todo o processo de produção da atividade foi orientado pelos professores Fabiano Mazzini, Vitor Jubini e Valmir Matiazzi.

Conheça o primeiro registro fotográfico da sérieOlhares: Retratos Sobre o Sagrado“: “Velas: a luz como guia da Fé”

Confira abaixo algumas imagens do registro “Umbanda: mais que uma religião, um modo de vida”
“Oi, salve a umbanda/ Vamos saudar as sete linhas dos orixás/ Na natureza, sete são as vibrações/ Que pai Olorum criou e aqui estão neste congá” é como os umbandistas cantam a saudação à religião. Ao centro do terreiro da Fraternidade Tabajara, em Cariacica, os fiéis fazem a saudação pedindo amor e respeito pelos trabalhos. Após o ritual, é dado por aberto os trabalhos de incorporação – Autor da Foto: Danilo Ascaciba
Feitas de miçangas, louças ou sementes e utilizando pequenos pingentes, as guias são objetos sagrados que remetem aos colares. É uma manifestação material da espiritualidade e um objeto de conexão entre o médium e as entidades com as quais ele trabalha. Cada guia é única e personalizada para o médium e é confeccionada a pedido da entidade ou do sacerdote. Consagradas, as guias são instrumentos de proteção, direcionamento espiritual e são carregadas de energia – Autor da Foto: Danilo Ascaciba
Na Fraternidade há sete anos, Rafael Tápias é o presidente mensal mais jovem da Casa. Ele possui a segunda maior quantidade de guias, um total de 13, todas feitas por ele mesmo. Por ter o Caboclo Sete Flechas como guia, Rafael recebe a vibração dos sete Orixás da Umbanda, além das vibrações próprias de juremeiro e capangueiro, que são espíritos guerreiros, além de Exú. “São as guias que fazem a ligação entre os filhos de fé e os Orixás” – Autor da Foto: João Vitor Tavares
O chefe da casa, Luiz Augusto Labuto, está à frente da Fraternidade Tabajara há 47 anos. É por meio dele que o Caboclo Rosas passa as orientações para os fiéis da casa. Labuto é responsável por passar a maior parte das informações para umbandistas que se preparam para o descarrego antes da incorporação. “Praticar a fé, a esperança e a caridade devem ser os objetivos das nossas vidas” – Autor da foto: Renan Benha
O ritual mais famoso da Umbanda ocorre dentro da sala verde da Fraternidade, o descarrego. Ali, as energias negativas são afastadas por meio de orações, passes, elementos físicos (velas ou ervas), defumação ou banhos. Com orientação dos guias espirituais, que conseguem perceber a necessidade do outro, ocorre uma limpeza interior para o acoplamento do espírito posteriormente. Esse rito só pode ser feito com a permissão da Lei Divina – Autor da Foto: Danilo Ascaciba
Com o cachimbo de fumo, muito utilizado para descarregar o próprio médium, o Caboclo Rosas dá conselhos no ambulatório para quem precisa. O Caboclo sempre se apresenta de forma alegre e bondosa para tirar os espinhos da vida dos fiéis por meio dos trabalhos espirituais feitos na casa. É ele quem orienta todas as mudanças no Santuário por meio do médium Luiz Augusto Labuto, o chefe da Casa – Autora da Foto: Larissa de Angelo
A vela é um elemento que traz luz e representa a vida espiritual na terra. Na Umbanda, o significado é o mesmo, mas cada vela tem o próprio significado. A vela branca está associada a Oxalá e busca a limpeza e a purificação por ser a junção de todas as outras cores. Nas sessões de descarrego, momento em que as velas são muito utilizadas, elas passam a ser símbolo de guia para a busca pela verdade e auxílio para a meditação – Autor da Foto: Renan Benha
Rafael Tápias carrega na pele a tatuagem do Caboclo Sete Flechas, que na Fraternidade é chamado de Flecheiro de Xangô. A tatuagem foi feita porque Sete Flechas é o guia espiritual de Tápias e, por isso, carrega consigo a energia de todos os sete Orixás da Umbanda. Cada Orixá é representado por uma cor. “Saravá Seu Sete Flechas, ele é o rei da mata/ O seu bodoque atira, ô paranga/ A sua flecha mata” é como cantam no ponto do Flecheiro de Xangô – Autor da Foto: João Vitor Tavares
Dentro do terreiro, os pontos guiam os momentos mais importantes dos rituais, como é o caso da incorporação. Os pontos são cantigas utilizadas para louvar, chamar e se despedir dos Orixás nos ritos da Umbanda. Guiados por atabaques, os tabaqueiros ajudam a dar ritmo aos cânticos e conseguem demonstrar a fé por meio deles. “Salve o Caboclo, é o rei das matas / Seu Tabajara é o rei deste congá” é o ponto que cantam na Fraternidade sobre o Caboclo Tabajara – Autora da Foto: Larissa de Angelo
A conexão do mundo material e espiritual tem o ponto máximo no momento da incorporação que, na realidade, é uma acoplagem do espírito no corpo do médium. Cada um tem uma forma diferente de incorporar determinada pelo guia que está recebendo e a forma como as linhas espirituais se conectam. É daí que vem a beleza da Umbanda: conectar-se com o seu eu interior para que, por meio do corpo, possa receber mensagens vindas do mundo espiritual – Autor da Foto: Renan Benha

Edição: Redação do FaesaDigital

Imagem do Destaque: Renan Benha