Olhares: Retratos Sobre o Sagrado

A fé, culturalmente e historicamente, é um dos assuntos mais ligados ao povo brasileiro. Em uma sociedade majoritariamente composta por católicos e evangélicos, o Brasil também possui inúmeras outras religiões e crenças de cunho popular. Contudo, por diversas vezes, essa pluralidade não é respeitada, sendo alvo de preconceitos durante mais de um século. Diante da problemática, o estudo de um pequeno objeto, a Vela, demonstra o poder de união e de respeito por todas as religiões, inclusive as que não a utilizam.

Os alunos de Jornalismo da FAESA Centro Universitário Luiz Edmundo Araújo e Tiago Taam e as alunas Clara Fafá e Beatriz Thompson estudaram a conexão da Vela com as religiões e produziram um belíssimo registro fotográfico intitulado “Velas: a luz como guia da Fé”. O documento imagético faz parte do Projeto Integrador II – “Olhares: Retratos Sobre o Sagrado“. Todo o processo de produção da atividade foi orientado pelos professores Fabiano Mazzini, Vitor Jubini e Valmir Matiazzi.

“Velas: a luz como guia da Fé” retrata como a vela pode ser utilizada de diversas maneiras por várias culturas e religiões. O objetivo foi mostrar como um mesmo objeto pode ser utilizado em diferentes crenças, porém de forma sagrada e com interpretações distintas. Dessa maneira, pode-se notar que a vela, apesar dos preconceitos cotidianos vividos por inúmeros fiéis, é um símbolo de união entre as religiões. Isso é explicado pelo sentido idealizado do candelabro que constantemente é ligado às palavras “fé” e “esperança”.

O estudo das velas auxilia ainda mais na proximidade e respeito por todos os credos. Ao longo de séculos, a vela aproxima o planeta de maneira espiritual, une o povo para que haja mais fé e esperança de boas energias e paz em meio ao caos das guerras e intrigas do mundo moderno.

Confira abaixo algumas imagens do registro “Velas: a luz como guia da Fé”
As velas são vistas como um símbolo de luz e esperança, significando a presença de Deus e a graça na vida dos fiéis. Acender uma vela pode ajudar a criar um ambiente de oração e reflexão. Dessa forma, o indivíduo mortal e pecador se conecta com Deus, imortal e sem pecados. Esse ato é uma tentativa de uma constante melhora pessoal do ser humano, buscando, de maneira perseverante, a vida eterna – Autor da foto: Tiago Taam
 
Segundo a fé cristã, Deus mandou Jesus Cristo à Terra para ser crucificado, morto e sepultado, garantindo, então, a vida eterna dos humanos. Dessa forma, a luz da vela se torna um objeto guia do caminho traçado pelo Senhor. Em passagem bíblica de Isaías, presente no capítulo 9, versículo 2, a trilha da crença é traçada: “O povo que andava na escuridão viu uma forte luz; a luz brilhou sobre os que viviam nas trevas” – Autor da foto: Tiago Taam
Algumas pessoas acreditam que, quando morremos com pequenos pecados, vamos para o purgatório para nos purificarmos e, assim, conquistar o Reino dos Céus. E, por isso, rezam pelas almas do purgatório. É um costume dos antigos ir ao cemitério às segundas-feiras, onde parentes e amigos foram sepultados, para acender velas. A luz é acesa para iluminar o caminho dessas almas até o Paraíso – Autora da foto: Clara Fafá
Segundo a crença católica, nos momentos de descrença e desolação em que a vida e os objetivos pessoais perdem sentido, o fogo da vela que contém a chama inspiradora sempre estará presente para trazer luz em momentos de escuridão. O significado da fé passa, também, por acreditar no poder de Deus ainda sob as situações mais desesperançosas. Enrolado por uma fita de Nossa Senhora da Penha, diante da rege do Convento que a protege, o vento tende ao caimento da vela, esbarrando, porém, na proteção da padroeira capixaba – Autor da foto: Tiago Taam
 
Nossa Senhora da Penha, padroeira do Espírito Santo, é uma figura reverenciada no catolicismo. E, além disso, é considerada a padroeira dos Lares e das Famílias. Muitos fiéis recorrem a ela em busca de sua proteção, auxílio e intercessão junto a Deus para obter ajuda com problemas específicos ou para pedir suas bênçãos. Ao acender uma vela diante da imagem de Nossa Senhora da Penha, os católicos expressam sua fé e confiança em sua intercessão – Autora da foto: Clara Fafá
 
Na Umbanda, as velas são utilizadas para ter uma ligação das pessoas com os orixás ou entidades. Na foto, temos a vela vermelha e preta que são utilizadas para exu e pombagira. O Pai de santo responsável pelo “Terreiro de Umbanda Caminhos para Oxalá (TUCO)”, localizado em Bicanga, na Serra, Weslley Lucio, disse que a pombagira representa a mulher e seu poder. As entidades espirituais se portam como gente para mostrar, assim, a correlação entre a vida e o espaço de respeito e moralidade  – Autora da foto: Beatriz Thompson
A vela é um dos mais comuns e importantes elementos nos rituais da Umbanda. Ela pode ter diferentes cores e significados simbólicos específicos. Cada cor representa um tipo diferente de energia e é usada para atrair certas qualidades ou intenções. Por exemplo, a vela vermelha representa a energia da paixão, do amor e da sexualidade. Já a vela azul, traz a paz, a calma e a cura – Autora da foto: Clara Fafá

 
No “Terreiro de Umbanda Caminhos para Oxalá (TUCO)”, em Bicanga na Serra, as velas também são utilizadas para iluminar o ambiente. Elas criam um espaço de aconchego para que as pessoas possam se sentir acolhidas e relaxadas, algo que a luz elétrica não faz. Segundo a jardineira da casa, Gaúcha, a vela é importante para a atmosfera durante a gira. “A vela, para mim, tem a função de acalmar a pessoa, deixá-la segura” – Autor da foto: Tiago Taam
 
O altar utilizado nas sessões da umbanda é preparado com imagens de entidades espirituais, oferendas e velas de cores diferentes, cada uma com a função específica. No local da gira, nome dado à sessão religiosa da umbanda, é possível perceber uma variação de temperatura no solo, ficando mais quente quando próximo aos pontos de conexão e mais gelado quando distante. Os pontos de conexão são os locais de maior ligação do sagrado entre as entidades espirituais e os seres humanos – Autor da foto: Luiz Edmundo Araújo

 
Antes de iniciar a gira, nome dado à sessão religiosa da umbanda, os frequentadores da casa acendem as velas para entrar em sintonia com as as entidades. Pai de santo responsável pelo “Terreiro de Umbanda Caminhos para Oxalá (TUCO)”, Weslley Lucio, relatou que cada participante residente tem sua fé em uma entidade. Também são utilizados incensos para purificar o ambiente e as pessoas antes de dar início aos rituais – Autor da foto: Luiz Edmundo Araújo