Encontrando a beleza do ordinário com ‘Não Quero Fazer Nada’
Sofia Galois
Em meio a correria do dia a dia, o peso da realidade pode ser esmagador. Viver no “piloto automático” tornou-se comum para muitas pessoas. Entre estudar, trabalhar, ir para a academia e se relacionar, não há tempo sobrando e muitos não param para questionar qual é o sentido da pressa. Essa foi a questão levantada pela série “Não quero fazer nada” (summer strike, em inglês), disponível na Netflix.
A série foi produzida na Coréia do Sul e lançada no final de 2022, porém só chegou à plataforma de streaming no início deste ano. Com um total de 12 episódios, o dorama (série asiática) é uma obra leve que aborda questões do ordinário e leva o espectador a refletir acerca das próprias escolhas.
Sinopse
Presa em uma rotina exaustiva, com chefes e colegas de trabalho mal-intencionados, Lee Yeo-Reum (Seol Hyun) não possui tempo para nada, o que causa o término de um relacionamento de anos. A protagonista tímida e introvertida havia se acostumado a viver todos os dias da mesma forma. Ao chegar em casa tarde da noite, a jovem apenas deitava na cama, sabendo que teria apenas algumas horas de sono antes de acordar e repetir todo o processo novamente.
A série consegue provocar uma intensa agonia nos espectadores, que talvez consigam se identificar com a protagonista, apática à realidade. Cansada demais para questionar os abusos ou injustiças que sofre, Yeo-Reum continua todos os dias seguindo a mesma rotina, pois precisa se sustentar e alcançar algum lugar na sociedade.
No entanto, após uma série de acontecimentos ruins, a protagonista parece atingir o limite com a notícia do falecimento da mãe, a quem não teve tempo de visitar antes. Em um ato repentino e desesperado, Yeo-Reum pede demissão do emprego e vende o apartamento, ficando somente com algumas roupas e objetos que pudessem caber em uma mochila. A jovem então pega um ônibus sem rumo com o propósito de encontrar a si mesma e “dar uma pausa” na vida. Após muito tempo, Yeo-Reum finalmente se sente feliz.
A protagonista, então, encontra uma cidade litorânea de interior, habitada por pessoas simples com seus próprios problemas individuais. Ao chegar no local, a jovem aproveita um banho de mar e sorri, se desfazendo de todas as preocupações e levando os espectadores a sentir o mesmo alívio.
Após decidir se estabelecer na cidade, Yeo-Reum conhece um bibliotecário extremamente tímido, An Dae-Beom (Im Si-wan). Da mesma maneira que ela, o jovem abandonou uma vida problemática na agitada capital Seoul e buscou uma rotina pacífica.
Série não possui foco no romance
Apesar do clima evidente entre ambos os personagens capturar suspiros da audiência, o foco dorama não é o romance. A série aborda a amizade e a busca por si mesmo em meio a uma sociedade ocupada demais. Enquanto mora na cidade, Yeo-Reum amadurece a cada episódio na medida em que conhece mais de si mesma. A obra também mostra a vida de outros personagens secundários e a importância de compartilhar os próprios fardos.
Além de Dae-Beom, a protagonista conhece pessoas muito diferentes e também vivencia momentos traumáticos como assassinatos misteriosos e acusações de crimes. No entanto, juntamente com as novas amizades, a jovem encontra forças para superar os problemas contando com a ajuda de outros.
O que realmente vale a pena?
Vivendo na contramão da cultura atual, a jovem aprende a pensar em um dia de cada vez e leva o público a questionar o propósito da rotina. Em um desapego ao dinheiro e grandes conquistas, os personagens ensinam que a vida passa rápido e o que temos de mais valioso, na verdade, é o nosso tempo. O que temos feito com ele?
Dirigido por Lee Yoon Jung, o dorama se encaixa nos gêneros de romance, mistério e até mesmo suspense. De uma forma calma e tranquila, o espectador é levado enxergar a beleza das coisas simples da vida e encorajado a não ter medo de não atender às expectativas de todos.
Em um contexto em que doenças mentais são a principal ameaça e o estresse parece ter sido normalizado, “Não quero fazer nada” mostra que existem outros caminhos e prioridades. A série é uma ótima dica para estudantes e trabalhadores que sentem o sufoco da rotina.
Ainda não decidi o que irei fazer com a minha vida. Mas, por enquanto, isso é suficiente. Eu vou viver
Yeo-Reum
Edição: Sofia Galois
Imagem do Destaque: Núcleo de Publicidade do Lacos / Bruna Firmes