Ivana Sonegheti de Mingo: conheça a trajetória da egressa do curso de Jornalismo da FAESA e destaque no 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

Sofia Galois

Ivana Sonegheti de Mingo, 42 anos, é a vencedora do 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom – 2022) na categoria de Mestrado Acadêmico com a dissertação: “As emissoras estatais de rádio e a radiodifusão de serviço público – Estudo de caso sobre as emissoras rádio vinculadas ao poder executivo no Brasil”. Ivana, ex-aluna do curso de jornalismo da FAESA Centro Universitário, contou um pouco da vida, da jornada acadêmica e profissional para o FaesaDigital. 

Ivana atuou na Petrobrás de Vitória e do Rio de Janeiro. Ela desenvolveu um projeto de formação de lideranças nas comunidades (Imagem: Acervo Pessoal)

Graduada em 2004, Ivana buscou uma especialização em gestão e assessoria de imprensa e, logo, já estava atuando dentro da Petrobrás e subsidiárias na área de comunicação com as comunidades impactadas pelas atividades da empresa. Durante um período de mais de 10 anos, Ivana desenvolveu técnicas de relacionamento e relação com a população, aplicando vários conhecimentos que aprendeu nos anos de universidade, como: diagramação, métodos de entrevista, comunicação comunitária, formação de lideranças, utilizou o conhecimento de comunicação organizacional e relações públicas. “Esse tipo de atuação veio diretamente da formação do curso de Jornalismo da FAESA”, conta. 

Para Ivana, o maior desafio do período foi a falta de valorização na área. Saber explicar o porquê da importância da comunicação e, principalmente, na relação com a sociedade. Vender o próprio trabalho era um trabalho diário no setor. A área da comunicação era sempre a primeira a ser cortada para economizar verba e dificilmente era realizado um investimento digno. Assim, estar constantemente tentando “vender o peixe” internamente foi uma dificuldade encontrada pela jornalista. 

No entanto, no auge do desenvolvimento profissional e reconhecimento no cargo, Ivana viu a empresa mergulhar em escândalos de corrupção. Desse modo, foi preciso realizar uma reavaliação interna sobre qual era o papel que esperava realizar como profissional e propósitos, questões as quais confessou ainda estar buscando respostas. Contudo afirmou acreditar que, em se tratando de empresas grandes e com um impacto tão grande, o relacionamento precisa ser motivado pela formação das lideranças na comunidade.

É necessário levar informações relevantes para as populações com o objetivo de serem agentes ativos da mudança no meio ambiente onde vivem. A finalidade é que possam ter argumentos e sentar na mesa de negociação com a empresa de forma justa e igualitária. Mais do que ser porta-voz da empresa, é necessário um olhar humano“, relata Ivana. Após realizar essas autorreflexões, Ivana decidiu definitivamente se afastar da área de assessoria, porém ainda é uma área que tem muito carinho e apreço.

A autorreflexão e estabelecimento de propósitos são essenciais para o desenvolvimento de uma carreira. Para Ivana, o profissional deve entender que mudanças são inevitáveis e faz parte da jornada (Imagem: Freepik)

Rádio

Durante a especialização em gestão e assessoria de imprensa, Ivana estudou com o produtor de conteúdo da Rádio Espírito Santo Danilo Souza. Ambos começaram a discutir em 2007 um plano de comemoração dos 70 anos da rádio que aconteceria em 2010. Após muitas pesquisas e conversas, o planejamento foi realizado como Trabalho de Conclusão de Curso e entregue na secretaria de comunicação da rádio. 

Lançamento do livro “Nas Ondas do Rádio, o Espírito Santo  em  Sintonia: Rádio Espírito Santo 70 anos no ar” na sede da Rádio (Imagem: Arquivo Pessoal/Folha)

Como forma de agrupar e registrar todos os documentos históricos e importantes da Rádio Espírito Santo, foi conseguida uma verba e a liberação para a produção de um livro, lançado em 2010, pelo Diário Oficial: Nas Ondas do Rádio, o Espírito Santo  em  Sintonia: Rádio Espírito Santo 70 anos no ar. A obra dos 70 anos da rádio é cheia de memórias e histórias. A partir desse momento, o interesse de Ivana pela área do rádio e da pesquisa aumentou e foi o começo da dissertação em que ela venceu o prêmio Intercom.  

Buscando um olhar crítico do Poder público em relação às rádios do Estado, Ivana, dentro de uma perspectiva da economia política da comunicação, encara as rádios de difusão pública como um ideal balizador, ou seja, como algo que foi idealizado na década de 20, 30 do século passado e precisa ser olhado como um horizonte. “Há no Brasil uma apropriação histórica desses meios por parte do poder executivo e do mercado. Existe um grande entrelaçamento de mercado e governo com as emissoras públicas e se torna necessário transformar essas emissoras públicas em entidades do Estado. Há políticas de governo, não de Estado”, afirma Ivana. 

 
Ivana alcançou o 1⁰ lugar na categoria de Mestrado Acadêmico em 2022 (Imagem: Divulgação)

De acordo com o conteúdo da dissertação, as rádios deveriam ser legitimamente da sociedade. É isso que se busca como princípio, além da diversidade, pluralidade e independência. Da sociedade para a sociedade. “Essas emissoras possuem o dever de se portar legitimamente como públicas. É um ideal, algo que se almeja“. A pesquisadora termina a dissertação acreditando que isso é de fato possível, mas é preciso que o Poder Público e a sociedade se alinhem nessa missão. Faz-se, assim, necessária uma evolução do pensamento. 

A produção da pesquisa contou com uma grande parcela de obstáculos. A pandemia entrou no meio da dissertação. O ambiente home office, juntamente com a incerteza e a tensão, o afastamento da universidade, dos núcleos de pesquisa, dos contatos e dos professores tornou a atividade muito mais extensa.

Área de Pesquisa

Atualmente, mestra em Comunicação e Territorialidades pela Ufes, Ivana optou por se dedicar inteiramente à área de pesquisa na comunicação, buscando formação para efetuar efetivamente dentro da área acadêmica. A profissional decidiu realizar um redirecionamento profissional acreditando que por meio da pesquisa é possível redirecionar o olhar para a comunicação e para rádio de difusão pública no Brasil. 

Há diversos desafios que cercam a área. Primeiramente, Ivana destaca que o incentivo financeiro é muito escasso e as bolsas praticamente inexistentes, o que afasta muitos estudantes e dificulta o desenvolvimento de pesquisadores. Além disso, o bloqueio a informações tidas como públicas também é um grande obstáculo na carreira de pesquisador. No entanto, Ivana se sente grata por ter uma rede de apoio que dá suporte para que possa além de criar os filhos, trabalhar voluntariamente em busca do sonho acadêmico. 

Ivana afirma que falar de realização profissional é muito complexo. Para a pesquisadora há muitas conquistas e alegrias durante os 18 anos de formada, mas é preciso estar sempre olhando para frente e nunca satisfeita.

Trabalhar dentro de uma perspectiva ética e moral do que se acredita, sempre vai trazer vitórias ao longo do caminho. Claro, receber o prêmio do Intercom foi um momento de grande felicidade, um reconhecimento. A vida profissional e a vida acadêmica se encontram

Ivana Sonegheti de Mingo

Mensagem

Ivana conta que decidiu cursar jornalismo porque não gostava do que via na sociedade. Tinha o sonho de trazer, por meio da informação, um pouco de democracia, ou seja,  trazer conhecimento para que as pessoas pudessem discutir de forma democrática a própria sociedade. 

O jornalista deve humanizar o conteúdo e trazer a informação como ato democrático (Imagem: Freepik)

Pensando no jovem universitário, a jornalista aconselha que reflitam os propósitos e tentem entender o porquê de estarem fazendo isso ou aquilo. Para ela, não é uma resposta simples ou universal. É uma questão de entender a si mesmo. “Acreditar no potencial e no que te move para que possa buscar o melhor para si mesmo pensando nos outros”, acrescentou. Para finalizar, Ivana faz questão de lembrar que é preciso ser realista e não é possível “abraçar o mundo”. “Comunicadores não são donos da verdade e sim porta-vozes. Saber qual é o papel que exerce e estar sempre refletindo sobre ele é essencial“.

Edição: Sofia Galois

Imagem Do destaque: Acervo Pessoal