A luz azul emitida pelos celulares, tablets e computadores trazem riscos à saúde ocular e prejudicam a qualidade do sono

Douglas Motta

Celulares’, ‘tablets’ e computadores. Apesar de serem aparelhos eletrônicos diferentes, possuem algo em comum: o uso de telas – muitas vezes LCD, LED ou OLED – que podem trazer riscos à saúde dos usuários. Toda tela de dispositivos digitais emitem uma luz visível de alta energia, denominada luz azul. Por sua vez, a luz azul é um grande inimigo da saúde ocular e do sono, podendo causar fadiga ocular, problemas com sono e, em determinados casos, a aparição ou a piora da miopia.

A luz azul artificial, emitida por aparelhos eletrônicos, pode causar uma série de problemas à saúde (Imagem: Freepik)

A oftalmologista Marina Ferreira explica que há dois tipos de luz azul: a natural, emitida pelo próprio sol que, na quantidade correta, é um grande aliado à saúde; e a luz azul artificial, a mesma emitida pelos mais variados aparelhos eletrônicos por meio de das telas. Por se tratar de algo produzido artificialmente, esse tipo de luz emitida possui grandes riscos para a saúde ocular e, também, afeta diretamente a qualidade do sono do ser humano.

O uso do celular, principalmente antes de dormir, faz com que os olhos diminuam ou até mesmo interrompam a produção de melatonina, hormônio do sono, causando, assim, uma fadiga ocular e interferindo na qualidade do sono

Marina Ferreira

Usuário assíduo de aparelhos eletrônicos devido ao trabalho, o gerente de projetos na área da tecnologia da informação Theo Lopes, 44 anos, declara que usa telas por cerca de 10 horas diárias, alternando entre o computador e o próprio celular. Lopes diz que já tinha problemas com sono e, recentemente, descobriu ter vista cansada, após uma consulta ao oftalmologista, quando tentou ler uma mensagem no celular e não conseguiu. “Segunda e terça-feira, consigo ficar tranquilo. Na sexta-feira, eu já tenho que usar óculos, pois não consigo ler nada”, queixou o gerente.

O hábito de utilizar aparelhos eletrônicos antes de dormir pode prejudicar o sono (Imagem: Freepik)

O neurologista, Rodrigo Corcino alerta para a importância de aliar o uso de aparelhos eletrônicos juntamente à regulação do sono. Corcino explica que o cérebro humano, ao utilizar aparelhos eletrônicos, entende que a luz proveniente das telas é, na verdade, a luz do dia e, com isso, continua ativo hormonalmente mesmo à noite. Assim, há uma desregulação hormonal crescente e, por conseguinte, da melatonina. Além de prejudicial, é difícil de reverter.

É importantíssimo reduzir o uso do celular na parte da noite para que o cérebro entenda que está na hora de descansar e, assim, manter uma rotina saudável de sono

Rodrigo Corcino

Dispositivos digitais

É inegável que, no cenário atual, o uso de aparelhos eletrônicos se torna indispensável para o cotidiano do brasileiro. Dados de uma pesquisa realizada no ano de 2020 pelo Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da FGV (FGVcia) apontam que no Brasil há cerca de 424 milhões de dispositivos digitais em uso. Dados esses que indicam quase 2 aparelhos eletrônicos por pessoa, o que explicita o quão exposto os brasileiros estão, diariamente, as telas e, consequentemente, a luz azul artificial.

Cada vez mais brasileiros estão conectados. A exigência descontrolada dos canais digitais nas atividades profissionais tem prejudicado diversas pessoas (Imagem: Freepik)

Marina Ferreira ainda chama a atenção para a crescente da miopia causada pelas telas que emitem a luz azul artificial e, na maioria das vezes, a piora de quem já possui o distúrbio visual. Além disso, a oftalmologia também inclui a necessidade de óculos com o filtro de luz azul, comuns nas atuais óticas, que reduzem os danos que a exposição direta às telas causam. “Hoje, é indispensável o celular e o computador, por exemplo. Mesmo assim, há maneiras de reduzir os danos que as telas causam com a utilização dos óculos com filtro de luz azul”, conclui Marina.

Perigo para as crianças

A infância das crianças atuais não são as mesmas de antigamente. O futebol na rua foi trocado pelo futebol dos ‘videogames’, os deveres de casa são ‘onlines’ e até mesmo os desenhos da televisão se tornaram obsoletos, sendo trocados pelo ‘Youtube’. O ponto comum em todas as atividades recreativas da nova geração é a utilização exacerbada de dispositivos eletrônicos que trazem um perigo eminente: a exposição a telas e o risco à saúde visual das crianças.

A exposição de crianças aos aparelhos eletrônicos pode prejudicar o desenvolvimento saudável (Imagem: Freepik)

A oftalmologista Marina Ferreira alerta aos pais a necessidade de intervir na “minutagem” de exposição a telas que as crianças se permitem. Segundo a médica, o uso justificável e aconselhado é de cerca de duas horas apenas por dia. Qualquer tempo acima disso, pode trazer sérios riscos à saúde ocular da criança. “O que sempre aconselho aos pais em uma consulta é apenas duas horas. Mais que isso pode trazer problemas sérios como hipermetropia e miopia, problemas que não são comuns nessa idade”, explica Marina.

Mãe do pequeno Enrico, de 5 anos, a nutricionista Maria Clara Motta, conta que o filho passa cerca de 5 horas, diariamente, em frente a telas, variando entre celular, ‘tablet’ e televisão. Maria Clara ficou assustada ao saber que o recomendado era de apenas duas horas. “O Enrico vê muito desenho durante o dia. Sempre pulando do telefone para a televisão ou para o ‘tablet’ que comprei para ele”, disse a nutricionista.

A oftalmologista tem, ainda, preocupação com o sono das crianças. Segundo a médica, a prática comum de permitir os filhos verem desenhos ou vídeos antes de dormir pode se tornar um problema com a qualidade do sono da criança. “Não é nada recomendado deixar as crianças assistirem desenhos no ‘Youtube’ antes de dormir, ainda mais com o celular ou ‘tabletmuito perto dos olhos. Isso retarda o sono por meio dos hormônios e prejudica o sono e a rotina da criança”, conclui Marina.

Após o susto, a nutricionista Maria Clara Motta explicita que vai procurar outras atividades no dia a dia para que o filho tenha uma melhor saúde ocular e, também, um sono de qualidade. “Vou procurar entreter o Enrico com jogos de cartas ou livros. Não quero que ele tenha problemas de visão e precise usar óculos”, conclui.

Edição: Sofia Galois

Imagem em destaque: Freepik