Descarte inadequado do lixo gera consequências para o ser humano e para o planeta
Ana Lara Venturini e Eduardo Chiari Pilão
O mês de junho é marcado pelas ações de conscientização em relação aos cuidados com o meio ambiente e, assim, preservar a vida no planeta Terra. E um dos maiores problemas enfrentados pelo ser humano na busca por melhorias no meio ambiente é o descarte inadequado de lixo. O aumento populacional nas cidades, aliado a uma sociedade consumista, gerida pelo capitalismo, faz gerar várias questões ambientais, sendo o lixo urbano um dos problemas. Desse modo, a falta de responsabilidade ao descartar esses resíduos pode ser a causa de muitas consequências que refletem em danos tanto para a população quanto para a natureza, fazendo-se necessário rever essas ações.
Uma pesquisa do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, feita pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), demonstra dados sobre essa situação do descarte inadequado. Segundo a pesquisa, das mais de 72 milhões de toneladas de lixos que foram coletadas no ano de 2020, 40% foram descartadas incorretamente, ou seja, cerca de 29,5 milhões de toneladas de resíduos foram parar em aterros controlados ou lixões.
O biólogo Walter Luiz Oliveira Có destaca os problemas ambientais causados pelo descarte indevido do lixo. Segundo ele, as pessoas descartam sobras de comida nas ruas o suficiente para alimentar uma grande quantidade de ratos, baratas e moscas e, assim, promover a proliferação de doenças. Além disso, o lixo plástico jogado na rua pode entupir os esgotos e aumentar o risco de alagamento. Có ressalta ainda que pode haver contaminação do solo e das águas pela presença de substâncias poluentes nesses resíduos, pois a infiltração do chorume no solo atinge o lençol freático.
A engenheira ambiental Lorena Dornelas Marsolla comenta sobre o problema do depósito dos resíduos no lixão.
O lixão é uma forma inadequada de disposição final de resíduos que se caracteriza pelo simples descarte de lixo sobre o solo sem nenhuma medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública
Lorena Dornelas Marsolla
Lorena Dornelas afirma ainda que os aterros sanitários são as obras de engenharia destinadas ao recebimento de resíduos sólidos mais eficientes, visando o menor impacto ao meio ambiente. O solo desses aterros é impermeabilizado e os líquidos e gases gerados na decomposição são tratados.
O professor de Engenharia Ambiental da FAESA, José Alves Rodrigues, relata sobre o destino adequado. Ele afirma que os resíduos devem ser destinados corretamente em função da composição e que muitos dos resíduos que são adequadamente separados podem não se tornar “lixo” quando bem gerenciados, mas algo reutilizável. O engenheiro diz também que, para diminuir o lixo nas ruas, os programas de reciclagem deveriam ser melhor conduzidos pelos governos municipais e que as políticas públicas são as melhores ações, pois poderiam ajudar os recicladores a gerenciar melhor os materiais recicláveis.
A dona de casa Ana Célia Tonoli Cordeiro relata que, visivelmente, a limpeza das ruas não é feita corretamente por conta das políticas deficitárias. Além disso, ela aponta que o problema da grande quantidade de lixo nas ruas é tanto da população, quanto do governo municipal. Ana Célia ressalta a importância de medidas para solucionar o problema. “Para diminuir o lixo nas ruas é necessária uma ação conjunta. É preciso mais postos de coleta e mais conscientização da população por meio de propagandas do governo”, finaliza.
Prática da reciclagem
A reciclagem é um processo que transforma o lixo descartado em matéria prima. De acordo com especialistas, reciclar é importante e reduz impactos significativos no meio ambiente. No mundo, há aproximadamente 8 bilhões de pessoas e, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), nos últimos anos o planeta Terra produziu cerca de 300 milhões de toneladas de lixo e apenas 14% desses objetos descartados foram para reciclagem.
O aumento do número de habitantes nos últimos anos tem relação com o crescimento de consumo e lixo. Segundo a ONU, 3 bilhões de pessoas em todo o planeta não tem um local apropriado para o descarte dos materiais. Dados da Organização também apontam que nos continentes africano e asiático, o número de lixo poderá dobrar até 2030. Com a intenção de diminuir os impactos causados pelo descarte inadequado do lixo, a ONU sugere ações para que aumente a prática de reciclagem e a reutilização de produtos.
O processo da reciclagem é desconhecido por muitas pessoas. A funcionária da empresa Faria Reciclagem Ariane Rosa Faria explica que os catadores da própria comunidade fornecem os materiais para a empresa. Depois de serem comprados, os produtos são separados por categorias como pet, papelão, papel branco e PVC. Ariane acrescenta que, após essa separação, os materiais são vendidos para empresas do Espírito Santo que são atravessadoras e fazem os objetos chegarem até as grandes indústrias e são transformados em matéria prima.
A professora de biologia aposentada e estudante de meio ambiente Maria Aparecida Stefanini Leonelli, 62 anos, explica que a reciclagem visa criar estratégias para prevenir e reduzir a geração de lixo com o intuito de enfrentar os problemas ambientais. Maria informa que os principais benefícios dessa prática são: diminuição da poluição do ar, da água e do solo; economia da energia; geração de empregos e preservação dos recursos naturais.
Tampinha do Bem
Alunos do ensino infantil e fundamental da escola Sesi Vitória participam do projeto Tampinha do Bem. A coordenadora pedagógica da escola, Flávia Tesolini Bittencourt, conta que o projeto é uma ação de preservação do Meio Ambiente, pois visa retirar do lixo matéria prima que pode ser revertida em renda para entidades assistenciais. Flávia diz também que o projeto é realizado por meio da campanha de recolhimento de tampas plásticas e que tudo é doado para Associações de Catadores.
A coordenadora explica que o objetivo desse projeto é conscientizar as crianças e os adolescentes para o descarte adequado do material plástico, incentivando o recolhimento das tampinhas para reciclar ou reutilizar e gerar renda para famílias que trabalham com as Associações de Catadores. “Queremos despertar nos alunos a importância da educação ambiental, a importância da coleta e de um descarte consciente para salvar o mundo”, relata.
Edição: Karol Costa
Imagem do Destaque: Dreamstime