Desbravando o universo das fanfics
Ana Clara Gonçalves
As “Fan Fictions” ou fanfics, em tradução livre, significam ficções escritas por fãs. O estilo de escrita, expoente da cultura pop, se popularizou no século XXI e, hoje, são inúmeras as histórias escritas e publicadas com o intuito de, alguma forma, saciar a curiosidade de como seria uma continuação do livro preferido daquela pessoa ou como um cantor famoso se portaria no dia a dia.
Neste primeiro texto da série especial “Fan Fictions”, o leitor vai desbravar um pouco desse universo literário e, por ser um conteúdo pop, é comum que os leitores e autores das fanfics tenham entrado na “nave” durante a pré-adolescência e ficado nessa viagem até a vida adulta. A publicitária e autora de livros criados primeiramente como fanfics Tatiana Barroso explica que conheceu esse universo com 12 anos em grupos de fãs no facebook e acredita ser divertido e reconfortante se sentir mais próxima dos ídolos por meio das histórias. Tatiana conta ainda que sempre gostou de escrever, mas só começou a tornar público depois de ler muitas histórias. Hoje, com 25 anos, tem dois livros publicados formalmente na Amazon e diversas outras histórias na gaveta que ainda pretende publicar.
Normalmente, as fics são escritas independentemente e sem qualquer pretensão lucrativa, o que se torna cansativo para os autores. A bióloga, pesquisadora na área do câncer e também escritora Kels Peres – pseudônimo – fala que o processo de escrita é longo, pois além de escrever, inclui a revisão dos capítulos e, em conjunto, surge a insegurança sobre o trabalho feito. A autora afirma que vale a pena o trabalho devido as conquistas.
As fanfics me trouxeram as melhores coisas na minha vida. Minha criatividade, minha válvula de escape e minhas amigas. Eu não seria a mesma sem as fanfics. E isso vale tanto para a Kels autora como para a leitora
Kels Peres
Apesar de atualmente acontecer um grande movimento de pessoas que começaram escrevendo fanfiction na internet e transformam essas histórias em livros físicos, há uma discussão sobre a marginalização do tema, pois ele está localizado num “limbo” da lei brasileira de direitos autorais. A advogada atuante do direto sobre a realidade dos artistas e escritores com problemas jurídicos Gabriela Junqueira explica que o tema ainda está em construção e as discussões são muito polarizadas e sem precedentes judiciais.
Gabriela segue o pensamento dizendo que se uma obra se vale de personagens pré-existentes, dando continuidade a uma saga, ela pode ser enquadrada como obra de derivação, mas, se o autor da obra originária se sentir atingido pela criação de uma derivada, nada o impede de acionar o fã na justiça para obter reparação por danos morais e eventuais danos patrimoniais. Por outro lado, se tratando de celebridades, por serem pessoas concretas, que possuem honra para serem violadas, afetaria os Direitos da Personalidade. Logo, sendo passível de reparação civil.
Tatiana e Kels defendem as fanfics como gêneros literários e concordam que, apesar das autoras estarem se profissionalizando e aperfeiçoando os trabalhos, ainda há um longo caminho para quebrar a imagem marginalizada criada ao longo dos anos.
Muitos autores de fanfics migraram para os livros por ser justamente algo com mais credibilidade e onde você pode, de forma legal, por motivos de direitos autorais, ter alguma renda
Tatiana Barroso
Edição: Karol Costa
Imagem do Destaque: Núcleo de Publicidade do Lacos/Bruna Firmes