TBT CAPIXABA – Tradição Pomerana
Karol Costa
Colonizada majoritariamente por imigrantes europeus, o município de Santa Maria de Jetibá é considerado uma das cidades mais pomeranas do Brasil. A cultura dos antepassados se mantém viva por meio de tradições praticadas no dia a dia de grande parte da população e, caminhando pelas ruas da cidade, pode-se ouvir a língua pomerana sendo conversada entre crianças, adultos e, principalmente, idosos.
No dia 28 de junho de 1859, os primeiros imigrantes pomeranos desembarcaram no Espírito Santo, trazendo na bagagem uma cultura rica que rapidamente se enraizou no novo lar. Cerca de 27 famílias receberam um pedaço de terra em meio à floresta virgem e tiveram que providenciar as próprias habitações, adaptando-se a um ambiente totalmente diferente da Pomerânia.
Pomerfest
Há 33 anos, o município de Santa Maria de Jetibá celebra o passado glorioso e a tradição pomerana com a Festa Pomerana – Pomerfest. Uma vez por ano, a cidade toda se agita com as diversas manifestações culturais herdadas dos antepassados. Com muita dança, música e comidas típicas, a festa é marcada pela eleição da Rainha e Princesa Pomeranas, Concurso Lenhador, representação do Casamento Pomerano, apresentação de contos e causos na língua pomeranas, entre outros.
Confira abaixo fotos da 33° Pomerfest feitas pelo estagiário do Núcleo de Jornalismo do Lacos Thiago Soares:
Cultura e Tradição Pomerana
Um dos costumes mais conhecidos e que ainda é realizado, atualmente, é o casamento tradicional pomerano. O anúncio do culto religioso acontece cerca de um mês antes da oficialização da união. Nesse período começam os preparativos para a festa, que dura três dias e é realizada na casa dos pais da noiva. Segundo a tradição, a época ideal para casamentos é o mês de maio, mês das noivas. Evita-se casar na quaresma, no mês de agosto, no período das Doze Noites Santas e em ano bissexto.
O convite para o casamento é feito pelo irmão caçula da noiva. Ele vai às casas levando uma garrafa de vidro pequena, enfeitada no gargalo com um pingente de fitas coloridas de cetim, ramos de tuia ou alecrim e contendo cachaça. Ao se aproximar da casa, ele anuncia com três gritos característicos. O convidador entra na sala sem saudar as pessoas e profere a sua fala-convite para o casamento em forma de versos. Após a fala, um membro da casa toma um gole de cachaça para selar o compromisso de comparecimento. Na hora de partir, o convidador recebe da casa um lenço colorido.
As festividades duram três dias, iniciando-se na quinta-feira, véspera do casamento. Toda a comida utilizada na comemoração é feita durante a quarta-feira. À noite, é realizado o ritual do Quebra-Louça. Na sexta, é realizado o casamento, primeiro no cartório e depois na igreja. O trajeto entre um local e outro é feito por meio de um caminhão enfeitado de ramos e flores.
Depois de seguirem para a casa dos pais da noiva, todos os participantes são servidos com uma refeição farta. À noite, há o jantar e a dança dos noivos, iniciada por eles próprios, seguidos dos pais e demais convidados. Ao final da dança, os homens dão uma quantia em dinheiro como retribuição. Por volta da meia noite, inicia-se a dança da grinalda e logo após a dança da vassoura. No último dia de festa, os convidados encontram-se para visitar os recém-casados, comer e beber o que sobrou do dia anterior.
Outro costume marcante da cultura pomerana, que inclusive faz parte do casamento, é o ritual do quebra-louça. Nele, quebram-se louças de porcelana fazendo muito barulho e algazarra. Esse ritual tem como objetivo afastar os maus olhares. Geralmente, conduzido por uma mulher idosa, o quebra-louça é realizado em meio a fala matrimonial de felicitações. Em cima dos cacos, tem início o baile e, enquanto as pessoas dançam, os noivos tentam varrer os cacos para fora do salão.
Até a década de 1940, as descendentes pomeranas praticavam o costume de casar-se de preto, com uma fita verde amarrada à cintura. Algumas histórias explicam o motivo: a primeira, porque o preto simboliza a morte da vida social da esposa, que sai do próprio ambiente familiar para morar com o marido. Já a segunda justificativa remete à antiga Pomerânia. Quando uma moça se casava, a primeira noite pós-casamento não era com o marido, mas com o senhor feudal. Portanto, as mulheres começaram a vestir-se de preto como forma de protesto à violência sofrida.
Edição: Karol Costa
Imagem Destaque: Bruna Firmes/Núcleo de Publicidade do Lacos