Seremos história ou seremos culpados?

Eric Zanotelli

O documentário “Before the Flood” entrega ao telespectador uma inovadora produção sem repetir as mesmas discussões de décadas que envolvem a camada de ozônio e o derretimento das calotas polares. Fique tranquilo, o efeito Déjà vu não acontece dessa vez.

Pôster do excelente documentário “Before the Flood” (Imagem: divulgação Disney Media Networks)

“Seremos História?” (Before the Flood, 2016), do National Geographic Channel, reúne uma série de entrevistas com influentes personalidades globais que abordam a importância da diminuição de emissão do gás carbônico na atmosfera, consumo consciente por meio de energias renováveis e alerta de que o mundo que nós conhecemos não será o mesmo nos próximos anos.

Barack Obama e Leonardo DiCaprio (Foto: Reprodução/Before the Flood)

A produção se diferencia logo de cara, tendo Leonardo DiCaprio como narrador. Dos Estados Unidos à China, de Barack Obama ao Papa Francisco, DiCaprio, que também é ativista ambiental nomeado em 2014 representante para alterações climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), percorre diferentes países e regiões remotas para mostrar o que esses lugares sofrerão com as consequências do aumento do nível dos oceanos devido ao derretimento das geleiras e o rápido aquecimento global. O ator demonstra fascínio e choque ao ver de perto o que o descuido e os demais estragos provocados pelo homem estão causando ao meio ambiente do planeta Terra.

O mais interessante neste documentário são as imagens e a qualidade impostas sobre essa superprodução. O espectador pode conferir as ideias do presidente dos Estados Unidos, a realidade da população de Nova Déli, na Índia, local em que até 30% da população não tem acesso ao fornecimento de energia e uma conversa com o Papa Francisco. Tudo isso feito presencialmente, em diversos países, com entrevistas e diálogos reveladores.

A emissão de gases na atmosfera pode dar um fim ao planeta Terra (Foto: Reprodução/Before the Flood)

Trazendo a discussão para uma – irônica – conveniência atual, vemos de perto um recorte das impressões de políticos negacionistas que decidem ignorar as projeções estudadas minuciosamente por pesquisadores e cientistas sobre o que a emissão de gases na atmosfera e o esgotamento de recursos naturais pode ocasionar.

Elon Musk, o bilionário dono da SpaceX e da Tesla, ganha um destaque perceptível em tela. Como uma forma de se aproveitar para dizer o que a sua empresa de armazenamento de energia pode fazer pela civilização, Musk deixa claro para quem assiste que as consequências podem ser revertidas a longo prazo, basta cada país se conscientizar e fazer acontecer.

A pintura “O Jardim das Delícias Terrenas”, do artista brabantino Hieronymus Bosch, que atuou nos séculos XV e XVI na região dos Países Baixos, descreve a história do mundo a partir da criação, representando o paraíso terrestre, o inferno nas laterais, e aborda a celebração dos prazeres carnais com participantes desinibidos e sem sentimento de culpa. O quadro é utilizado no documentário como uma forma peculiar de análise e comparação sobre uma espécie de culto à autodestruição promovido pela humanidade, um ciclo que se repete ao longo dos anos.

“O Jardim das Delícias Terrenas” de Hieronymus Bosch. Obra está exposta no museu mais importante da Espanha, o Museu do Prado, localizado em Madri (Imagem: divulgação Museu Del Prado)

O documentário não decepciona, são 96 minutos de duração muito bem aproveitados. Mas a Amazônia, uma das três principais florestas tropicais do planeta, ficou um pouco apagada entre os curtos recortes em que aparece no vídeo. Talvez por falta de tempo, logística ou simplesmente preferência dos produtores.

Após a exibição, fica a critério de cada um fazer uma avaliação pessoal. Se seremos e faremos história para as gerações futuras ao reverter todo o desgaste causado ao planeta Terra ou se seremos grosseiramente culpados e negligentes ao ponto de observar todo um ecossistema entrar em colapso.

Edição: Eric Zanotelli

Imagem em destaque: Arte feita pelo núcleo de publicidade/Bruna Firmes