Fazendo arte com o corpo
Ana Clara Gonçalves
A obra do artesão, o artesanato, na semântica mais crua, é uma produção manual destinada para fins lucrativos ou não. A arte manual finalizada ou em processo carrega em si várias histórias: as de como surgiu, de quem faz, de como faz, as de quem usa e como usa. A arte manual ainda é vista como uma forma de expressão, foco e liberdade.
A psicanalista e instrutora de bordado Isabella Azevedo define o processo do artesanato como artesani: aquilo que foi feito com as mãos, a coluna, os olhos, os joelhos dobrados e o trapézio rígido. Além disso, o processo criativo em que a singularidade do sujeito que produz se destaca na peça, trazendo as marcas e histórias vividas em meio aos pontos ou pinceladas presentes na arte.
Por se tratar de artes milenares, os ensinamentos geralmente são passados de geração para geração, criando, assim, um ciclo de ajuda para que a técnica não desapareça. A comunicóloga, estudante de artes visuais e bordadeira Fernanda Fassarella conta que faz parte de uma família de artesãos e está na quarta geração de artistas.
Sempre ouvi falar nas habilidades manuais dos meus antepassados. Então, vejo que nessa família o amor pelo belo já existe muito antes de mim
Fernanda Fassarella
A psicanalista Isabella em conjunto com a assistente social Mônica Rezende explicam que apesar dos momentos individualizados, por cada um produzir a partir da própria história, há momentos de rede de apoio, de solidariedade e do fazer compartilhado, sendo perceptível que pessoas que criam juntas, trocam experiências de vida e formam vínculos afetivos a partir de identificações.
Mônica detalha ainda que ao longo da vida percebeu que tinha a missão de contribuir para o desenvolvimento das pessoas. Para tanto, se dedica em elaborar, criar, buscar parcerias e coordenar projetos com esse objetivo. Um desses projetos é o “Fazendo Arte Vitória”. Ele é voltado para contar a história da vida de mulheres moradoras da periferia da Grande Vitória a partir do artesanato.
Os projetos analisados por Isabella e Fernanda – também membros de grupos voltados para a artesania – recebem qualquer pessoa que queira aprender, estando prontos para ensinar e dividir os conhecimentos, além de colaborarem com a valorização da arte em geral.
Temos vários relatos de mulheres que foram encaminhadas pela Unidade de Saúde e que a partir do Projeto puderam inclusive diminuir consideravelmente o uso de medicamentos
Mônica Rezende
Os grupos também servem como entrada para uma nova renda financeira ou tratamento psicológico paliativo de quem insere a produção manual na rotina. Fernanda mostra que após 11 anos trabalhando em uma empresa privada começou a trabalhar como autônoma com aulas de bordado e aquarela e teve melhoras emocionais. A coordenadora de projetos sociais Mônica afirma também já ter presenciado momentos parecidos.
Edição: Karol Costa
Imagem Destaque: Ana Clara Gonçalves