Participação feminina na Semana de Arte Moderna
Daiane Obolari
Anita Malfatti, Guiomar Novaes e Zina Aita. Essas são as únicas mulheres que, em meio a mais 22 artistas homens, conseguiram vencer a barreira da desigualdade de gênero e participar da Semana de Arte de 22. Dar visibilidade às mulheres que quebraram preconceitos, lutaram pelo seu lugar na história e entender o que é necessário fazer para mudar a maneira que as artistas são tratadas na sociedade é fundamental para o reconhecimento.
A historiadora e artista Inah Durão Cunha diz que a mulher não é apagada somente do meio artístico, mas também de todos os campos de atuação e aspectos de maneira ao longo da história. A historiadora completa dizendo que os trabalhos de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral (não participou da semana, mas criou pinturas no manifesto antropofágico) na Semana de Arte são fundamentais para a entrada da arte brasileira na modernidade.
São pouquíssimas mulheres que aparecem na história da arte como pintoras. Sempre fomos menosprezadas por sociedades patriarcais que nos criavam para ser donas de casa e cuidar de filho
Inah Durão
Para se ter uma ideia do preconceito contra as mulheres no universo da arte, o escritor Monteiro Lobato, em 1917, fez várias críticas às obras de Anita Malfatti. Expondo o machismo e a descriminação da época, ele fez com que várias pessoas devolvessem obras que haviam comprado da artista. A crítica de Lobato teve reação inversa e gerou insatisfação em intelectuais que criaram posteriormente a Semana de Arte
Vale ressaltar que Anita, por exemplo, vinha de uma família milionária cafeeira paulista e teve acesso à educação fora do País. Mesmo sendo da elite, encontrou diversos impedimentos. Isso faz refletir em como era a situação de mulheres com menos recursos e discriminadas. “Hoje, temos uma recepção melhor, no entanto, as barreiras ainda prevalecem, principalmente para nós, mulheres negras. É necessário questionar o tempo todo o sistema de arte”, expressa a artista Ione Reis.
A professora e artista Eveline Cabral, para demonstrar a relevância dessas mulheres, conta que se em 1930 fez diferença para Tarsilla ser esposa de Oswald, hoje faz muito mais diferença para Oswald ter sido marido de Tarsila. “Possivelmente todo brasileiro já tenha visto uma obra dela. Quantos já leram um livro completo de Oswald? Até mesmo de Mário de Andrade, de quem tanto se ouve falar como gênio literário do modernismo”, questiona Eveline.
A artista plástica e professora Lívia Campos se incomodou ao observar as pouquíssimas referências a mulheres nas aulas. A partir disso, se dedicou para levar esses nomes às crianças, porém relata que, até na própria formação universitária, teve pouco contato. “Acredito que o problema esteja na própria forma como a história vem sendo escrita, hegemonicamente destacando os homens”, relata.
Por isso, ela indica a página no Instagram “The Great Women Artists”, criada pela britânica Katy Hessel, para divulgar o trabalho de várias artistas ao redor do mundo. Lívia finaliza dizendo que artistas como Anita, Guiomar e Zina são nomes, entre outros, importantes que ousaram sair de casa e brigar pelo espaço que merecem.
Confira abaixo algumas das principais obras das artistas:
Edição: Daiane Obolari
Imagem de destaque: Anita Malfatti, Guiomar Novaes e Zina Aita (Arte: Daiane Obolari)