Opinião – ‘Idiocracy’: o que o filme tem a nos ensinar

Eric Zanotelli

Pôster do filme (Foto: Divulgação: 20th Century/Fox)

A 20th Century Studios lançou, em 2007, uma produção chamada ‘Idiocracy – Idiocracia’ (84min). O filme destaca uma experiência militar que deu errado e é uma ótima crítica para nos alertar sobre um possível fim dos tempos nem um pouco natural.

Na época em que a produção acontece, cinco pessoas são congeladas em câmaras criogênicas com o objetivo de descongelá-las um ano depois para discutir uma possível preservação da vida. A ideia, até esse ponto, é fazer isso sem afetar a memória e o corpo físico e usar o método massivamente.

O experimento não ocorre como esperado e, para piorar, essas pessoas são esquecidas e acabam acordando no ano de 2505 (quinhentos anos além do esperado). Das cinco cobaias originalmente inscritas no programa, apenas duas dessas pessoas sobrevivem e despertam, totalmente confusas, alguns séculos depois.

Os protagonistas – Joe Bauers (Luke Wilson), um militar mediano e sem muito prestígio, e a prostituta Rita (Maya Rudolph) – se tornam os seres mais inteligentes do planeta. Ao acordar, eles encontram um mundo caótico e se deparam com uma sociedade totalmente automatizada, emburrecida e ignorante de todas as formas possíveis. A humanidade ficou com preguiça de pensar, sem perspectiva de evolução. Tudo se estagnou e somente os “estúpidos” passaram a se reproduzir. Durante o filme percebe-se que não existem pessoas prestando serviços, apenas máquinas.

Propaganda da única bebida disponível no momento, o energético Electrolytes. A tradução do slogan significa: “Tem o que as plantas desejam”

A água, o líquido universal da terra, se esgotou dos reservatórios e rios devido à falta de plantio, devastação de florestas e rios em massa e, também, pelo despejo de lixo em local inapropriado. Com isso, tudo o que os seres humanos têm à disposição para beber é um energético fabricado por uma única empresa detentora de toda a tecnologia da sociedade. Tal corporação manipula profundamente a vida das pessoas, fabricando e administrando os robôs dos hospitais, as armas, os veículos e o sistema de irrigação – ou o que sobrou dele.

Joe e Rita passam por ‘maus bocados’ na história. O sotaque comum do século XXl é ridicularizado pelos brutamontes do mundo atual que, no máximo do esforço, conseguem conversar sem soltar um grunhido. A dupla atemporal desperta a atenção do presidente Camacho (Terry Crews), que, por sinal, é uma pessoa com um extenso currículo qualificado para a ocasião (é um ex-ator pornô e campeão de luta livre). O líder convoca Joe para ser secretário do Interior, pois ele é a única pessoa capaz de salvar o país da fome e da seca.

Joe e Rita participam de uma carreata com o presidente Camacho (Terry Crews)

O longa-metragem não reserva o tom crítico somente às pessoas em geral, também mostra, por meio de um duro julgamento, o que a soberba de grandes corporações omissas da atualidade pode causar ao planeta, como o fim dos recursos naturais e uma poluição desenfreada. 

Dirigido por Mike Judge (ele também é o criador da dupla Beavis e Butt-Head), o filme não teve uma publicidade digna de sua altura. Estreou em poucos cinemas dos Estados Unidos, não teve um trailer oficial divulgado pela produtora e chegou diretamente em Home Vídeo (DVD) no Brasil. Por este motivo, a produção não é muito conhecida.

Presidente Camacho (Terry Crews) ostenta uma arma de fogo em seu discurso. Ferramenta é usada no filme como uma alusão clara à desordem imposta no século em que a história acontece

A escolha do ator Terry Crews foi uma aposta certeira para compor o elenco. Sua famosa imagem, relacionada a outros trabalhos, permite que o telespectador sinta um certo carisma pelo personagem. Terry cativou o público principalmente por atuações marcantes, como no famoso seriado do canal americano The CW “Todo Mundo Odeia o Chris”, em que vive Julius, um pai de família viciado em trabalho e extremamente economista e, também, em “As Branquelas”, atuando como um “ricaço tarado”. Seus trabalhos, quase sempre, envolvem o bom humor e um jeito inusitado de ser.


Após a análise dessa produção cinematográfica, algumas perguntas podem vir à tona, como, por exemplo: “Será possível isso acontecer conosco? A civilização seria capaz de tamanho retrocesso mesmo após chegarmos ao atual estágio de gestão e inteligência adquiridos (incluindo a inteligência artificial e as tecnologias renováveis)?”.

Essas questões somente serão respondidas daqui alguns anos, mas não devem ser ignoradas entre os rumos da sociedade, caso contrário a mensagem humorada e ácida de “Idiocracy” perderá a graça e terá sido um prelúdio para o início do fim.

Edição: Eric Zanotelli

Foto do Destaque: Joe, um dos personagens, acorda em 2505 e se depara com um novo mundo em decadência (Foto: Divulgação: 20th Century/Fox)