Opinião – Jornalismo Cívico, Estado, Sociedade e as Estratégias de Comunicação (Parte 2)

Bruno Laurindo

O Jornalismo desempenha, dentro da sociedade, trabalhos competentes como os de informação e conscientização. Contudo, o papel que o Jornalismo também precisa desempenhar na sociedade é o educativo, pois entende-se que a educação, de maneira democrática, organiza e realiza ações com garantia de futuro para toda uma geração.

Ao avaliar uma possível prática jornalística cívica brasileira, a professora e pesquisadora Dirce de Moraes explica que ela está mais voltada à inclusão de serviços nas matérias do que uma abertura do jornal ao cidadão e à resolução de problemas da comunidade. Para a pesquisadora, a prática do Jornalismo Cívico necessita de um conhecimento sobre temas voltados para economia, história, ciência política, filosofia e humanidades. Ou seja, na visão da estudiosa, os jornalistas ao saírem das universidades precisam estar conscientes de que antes de serem profissionais são também cidadãos que prestam seus serviços nas suas próprias comunidades.

Baseado na visão de Dirce de Moraes, pode-se considerar a Comunicação Comunitária como uma espécie de Jornalismo Cívico, pois a comunicabilidade trabalha com grupos excluídos pelos meios de comunicação comercial. Tal iniciativa se caracteriza por processos de comunicação baseados em princípios públicos, como não ter fins lucrativos, propiciar a participação ativa da população e difundir conteúdos com a finalidade de educação, saúde, cultura e ampliação da cidadania.

(Foto: Reprodução/Brasil escola)

A Comunicação Comunitária age, então, no campo social utilizando-se de meios como rádios comunitárias, rádios de poste, jornais comunitários, entre outras formas de midiatização possibilitando com que grupos sociais ganhem espaço na busca por inclusão e respeito. A capacidade de organização surge de acordo com os recursos disponíveis em cada época. Antigamente, utilizavam-se os meios artesanais e de baixo alcance de comunicação como jornalzinho, megafone, etc. Hoje, utilizam canais de comunicação modernos e eficazes como blogs, redes sociais, chats, entre outros.

A professora e também pesquisadora Cicília Peruzzo entende que a Comunicação Comunitária é feita pela e para a própria comunidade, pois contribui na construção de uma educação focada que inclui jovens e adultos. Para a professora, esse modo de se comunicar garante o direito de exercer a comunicabilidade na prática, ajudando na construção de processos de comunicação grupal e interpessoal na coordenação de ações; de educação informal e não-formal de adolescentes e jovens; de autopromoção de mulheres; de organização de trabalhadores rurais, etc.

Pelas Ondas do Rádio

Para dar clareza sobre o que é Comunicação Comunitária, torna-se importante reconhecer o Rádio como um dos principais veículos responsáveis por uma comunicação local de massa. Ao estudar a história das Rádios Comunitárias no Brasil, o pesquisador Dioclécio Luz lembra que o país foi um dos últimos da América Latina a embarcar nas ondas das Emissoras Comunitárias. O autor relata que as Estações Comunitárias brasileiras surgiram com base em três conceitos: os de Rádios Revolucionárias, Rádios sob controle da Igreja Católica e Rádios Livres.

Entende-se que essas estações ocupam um lugar significativo dentro de uma comunidade. De acordo com dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), uma Emissora de Radiodifusão Comunitária tem importante papel social nas localidades em que são veiculadas, pois oferece informação, cultura, utilidade pública, convívio social, além de dar voz a quem não tem.

As Estações locais têm relevante função social, pois os pequenos projetos de comunicação localizados e integrados à realidade das comunidades são capazes de produzir programação de qualidade e responder a diversas necessidades da população. Cicília Peruzzo vai além e enfatiza que essas Emissoras têm o dever de servir à comunidade, contribuindo para o desenvolvimento social e a construção da cidadania.

(Foto: Reprodução/ FenAert)

Nesse cenário, então, a proliferação das Rádios Comunitárias é um fator que precisa ser considerado em relação à mobilização das comunidades. Esses veículos são as principais fontes de informação sobre os assuntos locais. Ao falarmos sobre a Terra do Meio, localidade citada no artigo anterior (jornalismo cívico como alternativa e prática social para as comunidades), entendemos que esse tipo de localidade necessita de uma comunicação de qualidade, mas a maioria dessas comunidades tem apenas o Rádio como principal veículo de comunicação.

Assim, a Rádio Comunitária é o resultado de todas as vozes de uma comunidade ao somar programação plural e gestão coletiva. A Estação Comunitária, então, é uma ferramenta específica para o fortalecimento das comunidades e o desenvolvimento social.

Para a comunicação entre si, as comunidades existentes na Terra do Meio dependem do Rádio Amador. Esse tipo de equipamento é o grande responsável pelo diálogo harmônico entre os beiradeiros. E para manterem-se informados de tudo que acontece no Brasil e no mundo, as comunidades dependem da comunicação de ondas curtas.

A Rádio Nacional AM de Brasília é a grande responsável por transmitir esse tipo de tecnologia para as comunidades da Terra do Meio. A emissora é uma das poucas rádios no Brasil que trabalha com a transmissão em ondas curtas. Esse diferencial contribui para que a estação exerça o chamado Jornalismo Cívico, pois, além de levar informação para essas comunidades, os locutores aplicam, por meio das ondas radiofônicas, a Comunicação Comunitária.

Na visão do jornalista Alex Pacheco, o Rádio, entre os meios de comunicação de massa, pode ser considerado o mais popular e o de maior alcance do público devido à flexibilidade. O profissional lembra que o veículo é um dos meios de comunicação com maior impacto na sociedade local e regional.

Edição: Daiane Obolari

Imagem de destaque: Bruno Laurindo