HIV E AIDS SÃO TEMAS FREQUENTES EM LIVROS E PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS
Ana Carolina Effgem e Fernanda Sant’Anna
Esta é a última matéria da reportagem sobre o HIV e Aids. Para quem perdeu o conteúdo da série, vale conferir as matérias anteriores: Retrato da epidemia de aids nos anos 80 no Brasil, Preconceito contra soropositivos ainda é presente na sociedade, Avanços no tratamento melhoram a qualidade de vida de pessoas que convivem com HIV e Infecções Sexualmente Transmissíveis aumenta entre jovens.
Uma das formas de promover o debate na sociedade sobre o vírus do HIV e sobre a Aids é abordar o assunto em obras fictícias ou filmes biográficos. Não é à toa que diversos livros, filmes e séries contam histórias de personagens que tiveram que lidar com o vírus e as complicações da doença. Como exemplo, pode-se citar o livro “Gostaria que você estivesse aqui” escrito pelo jornalista Fernando Scheller; a série original Netflix “Os 13 porquês”, que expõe a história de Justin Foley; o filme Bohemian Rhapsody, que mostra a vida de Freddie Mercury e o momento que conta aos parceiros de banda que era soropositivo; e o também filme Philadelphia, que traz reflexões sobre intolerância, discriminação, preconceito e homofobia.
O psicólogo Nielson Vicentini relata que quando se abre uma discussão sobre determinado tema, o coloca em evidência. O profissional diz que é urgente e necessário debater sobre HIV e Aids para ampliar o nível de informações e reflexões sobre a doença e as vias de contaminação, dialogando com a população em geral e com os gestores públicos para a manutenção e ampliação de políticas públicas na prevenção, promoção e tratamento. Nielson também destaca que a discussão do tema é importante para continuar a quebrar preconceitos direcionados à pessoa soropositiva.
O livro “Gostaria que você estivesse aqui” foi escrito pelo jornalista Fernando Scheller e é um produto exclusivo para membros do clube de livros por assinatura da empresa TAG Livros. O romance é a segunda obra ficcional do escritor e entrega um enredo sob a visão de cinco protagonistas: Inácio, Baby, César, Selma e Rosalvo. Os personagens estão imersos no Rio de Janeiro da década de 80. A vida desses personagens se cruza em perspectiva da existência de César, um jovem universitário apaixonado pela vida e pela música. Na transição de adolescente para adulto, César decide assumir para si mesmo, algo que estava escancarado desde a infância, a homossexualidade. E em meio às descobertas dessa nova fase conheceu Henrique, o recepcionista da Sauna Leblon, lugar que começou a frequentar e compartilhar parceiros, prática comum no ambiente.
Um dos acontecimentos mais marcantes da década de 80 do século passado foi a epidemia da Aids. Naquela época, a conscientização de sexo seguro era inexistente e, por conta disso, a doença atingiu muitas pessoas, inclusive César. Após o resultado positivo para Aids do rapaz, todo o futuro promissor, as alegrias, amores e sonhos se transformam na espera constante de alguma mudança significativa que o levasse à morte. Em entrevista para a TAG, o autor do livro diz que a história é “sobre tudo aquilo que a gente perdeu”, sobre pessoas saudáveis que tinham tudo para viver por 60, 70 anos e que não tiveram tempo.
O jornalista Acácio Rodrigues era criança durante os anos 90 e relembra que muitas novelas tinham personagens que viviam com HIV como uma forma de alertar a população. Naquele período, as novelas tinham um papel educativo. “Quando mostrava algo para retratar pacientes com Aids, eram imagens de pessoas aparentemente debilitadas e em estado grave, perto da morte”, relembra o jornalista.
Na série original da Netflix “Os 13 porquês” (2017), o personagem Justin Foley contrai HIV por ter feito sexo sem proteção e por ter compartilhado agulhas contaminadas, pois era dependente químico. O personagem Justin não sabia da doença e, quando fez o teste, obteve resultado positivo para HIV. O estado já evoluído para Aids, uma vez que apresentava lesões de Sarcoma de Kaposi.
Outra obra que também aborda o tema é o filme biográfico Bohemian Rhapsody (2018), dirigido por Bryan Singer e Dexter Fletcher, com o ator Rami Malek interpretando o cantor Freddie Mercury. No filme é mostrado a ascensão do músico e da banda Queen. Assim como é narrado o sucesso que a banda obteve, há também uma cena em que “Freddie Mercury” conta aos colegas de banda que tem Aids. Freddie Mercury faleceu em 1991, sendo vítima de broncopneumonia por decorrência da doença. Após o falecimento do cantor, os amigos criaram em 1992 a “Mercury Phoenix Trust”, uma fundação que tem como objetivo combater a Aids no mundo.
Já o filme filme Philadelphia (1993) traz a batalha de Andrew Beckett (Tom Hanks), um brilhante advogado que trabalha para um prestigiado escritório na Filadélfia e é demitido quando descobrem que ele é homossexual e tem Aids. O filme é um debate constante para garantir e resguardar direitos contra o preconceito, a intolerância, a homofobia e a discriminação.
O estudante de Jornalismo Leonídio Ricardo Donato conta que assistiu ”Pose” (2018), uma série disponível na Netflix, que também aborda HIV e Aids. Ele diz que para ele é de extrema importância a abordagem de temáticas relevantes para a sociedade em filmes ou séries, seja em um enredo de ficção científica ou uma história mais focada na realidade. “Acredito nessa importância porque a ficção pode funcionar como uma maneira de gerar reflexões”, afirma o estudante.
Edição: Fernanda Sant’Anna
Imagem de Destaque: Fernanda Sant’Anna