Cultura do cancelamento: na era virtual é proibido errar
Michel Lisboa
Cancelamento é a palavra que mais percorre as redes sociais nesses últimos meses. Seja no Twitter, Instagram ou Facebook, sempre há alguém sendo cancelado e massacrado virtualmente pelos internautas. Sendo assim, vemos que o aumento de erros são cada vez mais expostos por aqueles que se acham no direito de julgar a vida alheia. Uma das novas ações produzidas em grande escala nas novas mídias é o “exposed”. Derivada do inglês, a palavra significa a exposição dos erros cometidos pelas figuras públicas.
A cultura do cancelamento tem como alvo, na maioria dos casos, artistas famosos. Uma postagem antiga, um posicionamento considerado errado pelo grande público ou qualquer outro tipo de falha faz a figura popular ser execrada na internet.
É sabido que todos os seres humanos são dotados de falhas. Ainda que estejam cercados de holofotes, brilho e glamour, os famosos não são deuses, mas pessoas que estão suscetíveis a cometerem falhas: algumas sem relevância social, outras gravíssimas, como roubar, agredir ou matar alguém.
O sociólogo Lion Mendes diz que o fenômeno que explica o “cancelamento” é a projeção indevida ao artista que comete algum ato que a sociedade acredita ser repugnante. “No modo particular de pensar de quem expõe a falha, é que ela mesma jamais cometeria tal erro”.
Para o sociólogo, engana-se, ainda, quem pensa assim. Quanto mais exposição do “eu”, mais erros virão à tona, pois o ser humano é dotado de complexidades, erros, temores e qualidades.
O alcance virtual torna o ato falho em crime imperdoável e isso faz com que, muitas vezes, o culpado da ação seja linchado e condenado pela Internet sem direito ao perdão
Sociólogo Lion Mendes
O empresário Victor Costa acredita que o cancelamento não visa corrigir, mas punir aquele que está no lugar onde o “cancelador” não conseguiu chegar. Se fosse um ato de correção, seria válido, mas não é. Sempre haverá novos artistas, figuras de destaque errando e sendo canceladas. Portanto, não haverá uma transformação no modo de pensar do coletivo.
“Todos nós temos motivos para sermos cancelados, mas não a ponto de sermos excluídos da sociedade. Seja uma figura famosa ou não, penso que deve haver o bom senso do público na hora que for julgar e olhar para si mesmo”, conclui Victor.
Edição: Gabriela Jucá
Imagem de destaque: Shutterstock