Oceano de lixo: no futuro haverá mais plásticos que peixes no mar
Natalia Vicente
A poluição e a degradação do meio ambiente que se tornou desenfreada, principalmente, nas últimas décadas, geraram forte crise ambiental. O fato preocupa cada vez mais biólogos, ativistas e pessoas comuns que têm a consciência de que o planeta está em perigo. Mudanças climáticas bruscas, perda da biodiversidade e escassez de recursos naturais são só alguns exemplos das transformações que a terra sofre por conta da ação do homem. Os oceanos e manguezais são os que mais agonizam.
Segundo pesquisa recente feita pela Organização das Nações Unidas (ONU), 25 milhões de toneladas de lixo vão parar nos oceanos ao longo de um ano, sendo que, só no Brasil, são 2 milhões de toneladas de lixo no mar. Isso equivale a 30 estádios do Maracanã cheios de lixo, da base até o topo.
O biólogo Valter Có explica que todo material jogado na terra pelo ser humano, como fertilizantes, agrotóxicos, esgoto doméstico, que se diluí em água, pode parar nos oceanos. “Isso causa danos irreversíveis ao meio ambiente e a dimensão é muito maior do que se pode imaginar. O ar que respiramos é produzido pelas plantas que, em sua maioria, estão nos oceanos (fitoplâncton). Se esses seres marinhos morrerem, o ar que respiramos pode acabar. O equilíbrio do planeta depende e muito desses seres que vivem nos oceanos”, alerta o biólogo.
Um dos principais materiais poluentes dos mares e manguezais é o plástico. O relatório britânico feito no início de 2019 pelo Foresight Futures of the Sea Report revela que, até 2025, o número de plásticos nos oceanos pode triplicar e, até 2050, haverá mais desse material do que peixes. O Brasil é o 4º país do mundo que mais gera lixo plástico. Mesmo sabendo disso tudo, por que a poluição gerada pelo ser humano aumenta?
O sociólogo Aloísio Fritzen explica que o comportamento do ser humano é reflexo das condições e do contexto social. Para ele, considera-se que o desenvolvimento social e econômico está baseado no modelo capitalista e que o ser humano acaba caracterizado pelo individualismo e consumismo. “A sociedade capitalista suscita o desejo do ter, que se transforma em necessidade. Todos estão em busca dos interesses imediatos, o que diminui a preocupação com os efeitos e consequências a médio e longo prazo. E isso está sendo refletido no nosso meio ambiente. Quem mais poderia fazer para preservar é o que explora e destrói”, ressalta Aloísio.
Para a designer Larissa Javarini, 31 anos, por mais que se tenha consciência, a produção de lixo é diária. “Poluir o meio ambiente vai muito além de jogar lixo na rua. Estamos falando de uma coisa mais profunda, como o óleo vegetal que jogamos na pia, a descarga de carro que despeja CO2 e, por mais que a gente adote medidas na nossa casa para nossa vida, o sistema capitalista no qual vivemos se importa somente em gerar lucro”, conta a designer.
A jornalista Bruna Almeida, 25 anos, admite que polui o meio ambiente, porém de forma indireta. “A gente polui tanto indiretamente que, às vezes, nem percebemos como, por exemplo, andar de carro. Sabemos que os gases liberados pelos veículos são prejudiciais ao meio ambiente, mas ainda usamos”, revela Bruna.
Na opinião de Vítor Có, o ser humano, mesmo sabendo de tudo isso, ainda não consegue fazer nada.
É da natureza humana, pois a consequência não é imediata. Quem joga uma garrafa pet no chão, por exemplo, não imagina o problema que isso pode causar. Como não está no campo de visão, essa atitude acaba sendo desconsiderada
Valter Có
Para ele, a única saída é erradicar o plástico, substituído por papel ou alguma substância biodegradável que dure pouco tempo no meio ambiente.
Remando contramaré
Há 35 anos tirando o sustento da família do mar, de forma consciente, o pescador Alexandre, morador da Barra do Riacho, em Aracruz, agradece muito por tudo que já viveu diariamente “maré adentro”. Além disso, revela a preocupação que tem por ver cada dia que passa o lixo se alastrar pelas correntezas. “O mar já me deu tanta coisa boa que até me emociono. Já vi muita coisa bonita nesse mar, mas noto que, de uns tempos para cá, a poluição e o lixo tomaram conta dele. E isso deixa a gente muito preocupado”, conta o pescador.
Pensando nisso, Alexandre montou um grupo junto com os pescadores e moradores da região, que, de tempos em tempos, faz um mutirão de limpeza na praia e nos manguezais da Barra do Riacho.
É uma forma de proteger, de cuidar e de agradecer ao meio ambiente por tudo que ele já me deu. Quero poder também fazer algo para que meus filhos e netos não sintam tanto os impactos que o meio ambiente sofre por conta do homem
Morando a aproximadamente 35 quilômetros do litoral, na cidade de Ibiraçu, norte do Espírito Santo, a funcionária pública Roseane Maioli Monteiro toma atitudes sustentáveis para poder não poluir o meio ambiente. “O óleo de cozinha é um dos que mais poluem nossas águas e não temos um meio correto de descarte. Aqui em casa, então, resolvemos utilizar o óleo para fazer sabão. Uma maneira fácil, econômica e que a natureza agradece”, comemora Roseane.
Alexandre Barbosa, pescador (Foto: Reprodução/ TV FAESA) Alexandre Barbosa retira lixo em face da poluição no manguezal (Foto: Reprodução/ TV FAESA) Voluntários se reunem para a limpeza das praias (Foto: Reprodução/ TV FAESA) Barco utilizado para transportar lixo, devido a grande quantidade (Foto: Reprodução/ TV FAESA) Há cidadãos conscientes que se preocupam com o aumento da poluição (Foto: Reprodução/ TV FAESA) Voluntária limpando restinga (Foto: Reprodução/ TV FAESA) Barco em transporte (Foto: Reprodução/ TV FAESA) Barco abarrotado de lixo (Foto: Reprodução/ TV FAESA) O que deveria ser um espaço saudável, vira cenário de acúmulo de lixo (Foto: Reprodução/ TV FAESA) Espaços com grande concentração de pessoas são alvos da poluição (Foto: Reprodução/ TV FAESA) Voluntários reunidos para ação de limpeza da praia (Foto: Reprodução/ TV FAESA)
Da mesma maneira que Alexandre, que por meio de uma atitude individual montou um coletivo para ajudar o meio ambiente, e Roseane, que por conta própria toma atitudes sustentáveis, várias outras pessoas seguem o mesmo caminho.
Valter Có diz que para ajudar o meio ambiente, ações que fazem toda a diferença podem ser tomadas, individualmente e coletivamente, como, por exemplo: separar o lixo adequadamente, fazer o descarte correto de resíduos, diminuir o consumo excessivo, torcar material de plástico por material de papel quando possível, engajar-se em movimentos de limpeza de praias ou reflorestamento, substituir petróleo por energia eólica ou energia solar, reduzir a quantidades de agrotóxicos optando pela agricultura orgânica.
O biólogo conclui que não apenas essas medidas, mas várias outras podem ser adotadas pela população. Contudo, na atual conjuntura, existe uma que ele destaca como a mais importante:
Eu diria que ultimamente a atitude mais importante que podemos tomar é escolher melhor nossos representantes no poder e optar por aqueles que tiverem proposta mais concretas e viáveis para o meio ambiente
Valter Có
Confira abaixo o programa especial sobre o dia mundial da limpeza produzido pelos alunos do Núcleo de Audiovisual da FAESA.
Edição: Diogo Cavalcanti/ Núcleo de Jornalismo
Foto de Destaque: Reprodução/ Giphy.com