Aula no cemitério: estudo dos mortos para entender os vivos

Andressa Alves

Alunos do 2° período do curso de Jornalismo e do 1º período do curso de Publicidade e Propaganda da FAESA Centro Universitário tiveram uma aula um tanto quanto diferente. O professor Antônio Alves, ministrante da disciplina de Humanidades, convidou os estudantes para vivenciarem novas experiências no cemitério Santo Antônio, localizado em Vitória.

Fundado em 1912, o cemitério, mais tradicional da cidade, é composto por vários planos, seis no total. O local é cercado de símbolos e rituais, constituído por inúmeras culturas e religiões distintas. Cruzes, estátuas, rosas e oferendas remetem a natureza do falecido. As sepulturas variam a cada pavimento. Os túmulos dependem das classes sociais. Enquanto uns são estruturas grandiosas, outros são enterrados de maneira simples, apenas com areia.

A análise, por meio do olhar antropológico, causou reflexão nos alunos após o debate de temas importantes como preconceito, etnocentrismo e machismo, pontos de discussões e questionamentos por parte dos estudantes presentes.

O conhecimento também está fora da sala de aula. O cemitério é um museu, com estradas e avenidas. Uma cidade construída por memórias. Através dele conseguimos entender a história de quem foi enterrado. Além do mais, também é possível saber se a sociedade é violenta ou homofóbica, por exemplo. Uma vez que é um reflexo dos vivos

Professor Antônio Alves
O professor Antônio Alves revelou o desejo de realizar mais aulas como essa para que haja uma desmistificação do senso comum (Foto: Isabela Wilvock)

Os coveiros são responsáveis pelo o sepultamento. Futuramente, os corpos, em grande maioria, são exumados. Marcelo Moreira, 47 anos, atua na profissão há mais de uma década e explicou para os alunos como o local funciona. Além de demonstrar na prática que todos são iguais.

De todas as profissões que exerci, em nenhuma eu lidava dessa maneira com as pessoas. Tento mostrar a importância do ser humano, da família e da humildade. É uma grande experiência

Marcelo Moreira

Marcelo atesta ter ouvido histórias inacreditáveis. Inclusive de grande repercussão na mídia. A mais conhecida é a da cigana Adélia Kostichi, que, além de estar entre os túmulos mais antigos, também recebe o maior número de visitantes anualmente. Devotos recompensam ela pela “graça alcançada” com oferendas e rituais.

A aluna Julia Vitória, 21, foi uma das participantes da aula e afirmou que sentia uma aversão ao ambiente. Contudo é correto afirmar que a visão apenas ruim do cemitério vem de uma construção social comum. Emocionada, ainda alegou ter ficado impactada com as histórias ouvidas no local.

Achei a aula muito interessante por ser diferente e nova para todo mundo. Senti um pouco de medo, mas foi importante entender como algumas pessoas foram parar ali. Vimos como cada pessoa tem a própria história e refletimos sobre o lado mais cruel do ser humano. Conseguimos ter diferentes olhares de inúmeras situações

Julia Vitória

Foto do Destaque: Isabela Wilvock