Um relato sobre Ditadura Militar por Tatiana Moura

Tatiana Moura, egressa de Jornalismo da FAESA Centro Universitário, escreveu um livro sobre a Ditadura Militar no Espírito Santo como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Para contar essa história ela entrevistou diversos jornalistas que trabalharam na época e sofreram com a censura.

Os entrevistados para desenvolver o livro foram Rogério Medeiros, Oswaldo Oleares, Tinoco dos Anjos, Milson Henriques, Rubinho Gomes, Luiz Paulino Trevizan, Adam Emil Czartoryski e Álvaro José Silva.

“A imprensa capixaba, antes de 1964, não era imprensa, eram partidos políticos. Ninguém estava atrás de fatos, não havia fatos, havia jornais que defendiam posições políticas”, declaração do jornalista Rogério Medeiros para o livro da egressa.

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Personagens do livro / Foto: Tatiana Moura

Ditadura no ES

Durante o período de mais de 20 anos de ditadura, os jornalistas deveriam tomar muito cuidado com o que publicavam sobre o Governo ou então a respeito de notícias sobre a sociedade. Cada palavra escrita nos jornais passava por uma vistoria e o que não estava de acordo com as orientações do Regime Militar poderia se transformar em problemas para o jornalista e para o veículo no qual a matéria seria publicada.

Para fugir da censura, alguns jornalistas começaram a desenvolver uma imprensa alternativa para denunciar as barbaridades que aconteciam no país nesse período. Eles trabalhavam divulgando de forma oculta aquilo que acontecia com as pessoas na ditadura.

Charge sobre a censura na ditadura / Foto: Internet

O livro

O livro se destaca por focar no cenário capixaba durante o período do Regime Militar. Muito se fala sobre a ditadura, mas a maioria das publicações acabam focando no que aconteceu em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Com o objetivo de contar como foi a censura aqui no estado, a aluna resolveu desenvolver como TCC o livro Ditadura eu vivi. A ideia é mostrar como os jornalistas da época faziam para sobreviver a um dos períodos mais críticos do país.

Comissão da Verdade

O livro dedica uma parte a Comissão Nacional da Verdade, que foi instituída em maio de 2012 e teve como objetivo investigar os crimes de agentes do Estado contra cidadãos que lutaram contra a repressão, mostrando as consequências físicas e psicológicas que estão marcadas nas vítimas até os dias de hoje. Um caso que Tinoco dos Anjos destaca em sua passagem no livro é o da jornalista Miriam Leitão, que foi torturada naquela época.

“Ela viveu aqui no Espírito Santo muitos anos, começou a trabalhar conosco aqui e foi presa em Vila Velha, foi torturada. Tem uma história muito forte dessa experiência dela aqui”, disse Tinoco dos Anjos.

Entrevista de Milson Henriques com Dom Helder

No capítulo que fala sobre Milson Henriques, o jornalista conta sobre uma entrevista que fez com Dom Helder e dos receios de falar com ele por causa de uma charge que havia feito. Além disso, a entrevista seria feita com os militares observando tudo, o que deixou o jornalista ainda mais nervoso.

“Ficaram seis agentes da censura em pé em volta da mesa, e eu pensei: ‘O que eu vou perguntar?'”, disse Milson.

Ele fez uma charge com uma foto de Dom Helder que tinha uma cruz na frente, justamente a que era utilizada quando a reportagem não podia ser publicada. Acabou que a charge sobre a censura foi censurada. Milson Henriques contou que durante a entrevista fez as piores perguntas possíveis para o entrevistado, eles conversaram sobre música, se a Wanderléia podia usar minissaia e outros assuntos dessa linha porque não podia falar sobre política e nem algo sobre o governo.

“Eu não podia perguntar nada de política, então comecei uma entrevista
engraçadíssima, perguntando besteira e ele respondendo besteira”, comentou o jornalista.

Entrevistados

Os entrevistados para fazer o livro foram:

Rogério Medeiros

Jornalista, especializado em crônicas políticas e grandes reportagens geográficas. Foi redator chefe dos principais jornais de Vitória, diretor da filial do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro.

Oswaldo Oleare

Jornalista, radialista, publicitário, e editor do Portal Don Oleari, sendo um dos mais respeitados comunicadores e pesquisadores de música do estado. Iniciou sua carreira no rádio, no final dos anos 50, tendo passado por diversos veículos de comunicação, incluindo Rádio Vitória, Rádio Capixaba, Rádio Espírito Santo e Rede Tupi de Rádio e Televisão, em São Paulo. Na Rádio Capixaba criou o Clube da Boa Música (CBM), transformado por ele na Rádio Clube da Boa Música, no ar, atualmente, no Portal Don Oleari.

Tinoco dos Anjos

Iniciou a carreira em 1968, no jornal O Diário da Rua Sete. Trabalhou em A Tribuna e em A Gazeta, onde trabalhou por 20 anos, e presidiu o Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo de 1982 a 1985.

Milson Henriques

Fluminense, radicado no Espírito Santo, desenhista, jornalista, ator, diretor, poeta e autor de peças teatrais. Ficou conhecido por sua contribuição no teatro, literatura e, principalmente, como chargista – criando a personagem Marly, em 1973. Faleceu em 25 de junho de 2016.

Charge de Marly

Charge de Marly / Foto: Internet

Rubinho Gomes

Jornalista, publicitário, escritor e militante da causa ambiental, atualmente é coordenador de imprensa da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social e diretor de comunicação do Centro Educacional Brasileiro e Centro Cultural Majestic. Trabalhou nas redações de O Diário, A Tribuna, TV Gazeta, Correio Braziliense, Radiobrás/Agência Brasil e A Gazeta.

Luiz Paulino Trevizan

O jornalista iniciou a carreira em A Gazeta, passou por A Tribuna, TV Educativa, Rádio Espírito Santo e atuou na Assembleia Legislativa do Espírito Santo.

Adam Emil Czartoryski

Começou trabalhando no jornal Folha do Povo. Passou pelos jornais A Tribuna, A Gazeta, Revista Vida Capixaba, Rádio Espírito Santo, O Diário da Rua Sete e TVE. Trabalhou na Fundação Educacional Distrito Federal e no Jornal do Brasil, entre outros.

Álvaro José Silva

É jornalista e trabalhou no jornal A Gazeta. Atualmente faz assessoria e consultoria empresarial. Autor de vários livros, escreveu recentemente Patrulha da Madrugada: uma história de aviadores, no qual resgata parte do início da aviação comercial no Espírito Santo.

Dica para fazer um Livro

A egressa de Jornalismo e autora do livro deixou uma dica para os alunos que querem fazer um livro como trabalho de TCC. “Escolher um tema que te encante e te mova, isso facilita muito na hora da produção e no desenvolvimento do trabalho. Precisamos trabalhar com algo que nos enche os olhos”, afirma Tatiana.