Escolas lutam contra as injustiças climáticas

A utilização da educação ambiental como ferramenta de combate às mudanças climáticas para alunos em situação vulnerável

A conscientização sobre o tratamento ao lixo é uma das funções da educação ambiental nas escolas (Foto: Guilherme Trindade)

Guilherme Trindade

As mudanças climáticas estão, cada vez mais, prejudicando a realidade da população. Embora sejam as menos poluidoras, as pessoas em situação de vulnerabilidade são as mais afetadas pela devastação ambiental, como a falta de saneamento básico e água potável, por exemplo. Nesse cenário, a educação ambiental escolar é instrumento essencial na formação de cidadãos conscientes, críticos ambientalmente e capazes de mudar a realidade em que vivem.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em estudo realizado em 2024, constatou que 1,17 milhão de crianças e adolescentes brasileiros tiveram os estudos interrompidos por eventos climáticos. A análise afirma que a seca na Amazônia foi uma das grandes dificultadoras da educação, deixando 1.700 escolas sem atividades, sendo 100 delas em áreas indígenas, impactando 436 mil estudantes. A pesquisa demonstra como o clima pode atrapalhar a vida dos alunos, principalmente os vulneráveis.

Doutora em biocombustíveis e professora de Biologia e Ciências na rede estadual de ensino do Espírito Santo, Isabela Reis observa que a educação ambiental é fundamental para a formação de cidadãos conscientes e críticos ambientalmente. Isabela diz ainda que, no ensino contextualizado para vulnerabilidade, o aluno adquire noção de pertencimento social e direitos de cidadania, especialmente em relação a condições básicas, como saneamento e limpeza urbana.

Isabela relata que a realidade de seus alunos é bastante afetada por questões ambientais, influenciadas pela área em que vivem. A professora narra uma situação em que os estudantes compararam a vivência do Morro do Frade, no sul do Espírito Santo, e de um bairro nobre de Vitória. Apesar de ambos serem de áreas elevadas, apresentam saneamentos básicos diferentes: “Enquanto um contava com infraestrutura adequada, o outro não possuía sequer a distribuição correta da rede de esgoto”, declara  a doutora.

Professor de Geografia em uma escola estadual do Espírito Santo, Kaique Caramuru afirma a importância da Geografia para a educação ambiental, pois discute a relação entre o ser e o ambiente, caminhando desde a geologia até a geopolítica. Kaique diz também que a disciplina vai além do desenvolvimento sustentável, mas, também, é fundamental para a saúde, a dignidade e a posição social de mais respeito para o aluno.

O estudante Lucas Scardua, 14 anos, se preocupa com a extinção humana por conta da poluição provocada pela ganância do ser humano. Lucas diz ter poucas esperanças para o futuro ambiental, mas que ainda assim tem consciência de sua parte: “Ajudo não jogando o lixo no chão. Procuro gastar o mínimo de energia em casa, pois sei de onde a energia é retirada. Não desperdiço água e cuido das plantas e animais”, relata.

DESAFIOS
Um estudo realizado pelo Censo Escolar em 2024 constatou que 33% das escolas no Brasil, 62 mil em números absolutos, não tem educação ambiental. Em confirmação, uma pesquisa do Datafolha, em 2024, apurou que 20% dos entrevistados acreditam que as mudanças climáticas são parte da natureza, com pouca ou nenhuma interferência humana.

Kaique Caramuru acredita na necessidade de uma educação ambiental com discussões críticas sobre a influência negativa do sistema econômico. Apesar disso, ele relata a dificuldade em tratar esses temas por conta da situação política do Brasil, em que alguns alunos apresentam resistência a assuntos críticos ao sistema. O professor diz que isso obriga o docente a agir com muita cautela e que essa descrença mina o debate.

Já a professora Isabela Reis relata que um dos grandes desafios é a extensão da grade curricular, ocasionando falta de tempo pedagógico para a disciplina. Isabela observa que falta incentivo e fomento para desenvolver atividades práticas, essenciais para a formação crítica do aluno, que se torna muito mais significativo quando o aluno vê a realidade.

EDUCAÇÃO INDÍGENA
A temática ambiental é impossível de ser retratada sem que os povos originários sejam ouvidos. Os povos indígenas têm conhecimentos ambientais centenários, não sendo conhecidos apenas por tradição e cultura, mas, também, por serem símbolos de resistência. A educação ambiental em escolas indígenas não pode ser ignorada, pois, além de viverem o meio ambiente no dia a dia, sofrem na pele as piores consequências da devastação.

Os povos indígenas carregam conhecimentos ambientais essenciais (Foto: Arquivo Pessoal)

A Escola Indígena Aldeia Caieiras Velha, em Aracruz, é símbolo da luta pela preservação da cultura originária brasileira. Atendendo estudantes de seis aldeias, das etnias Guarani e Tupinikim, a escola tem projeto pedagógico diferenciado para priorizar as tradições, culturas e conhecimentos dos povos indígenas presentes, mas sem ignorar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

A diretora da Escola Indígena Caieiras Velha, Priscila Queiroz, relata que a educação ambiental é trabalhada de forma transversal, com foco no respeito ao meio ambiente, desde o manejo da terra para o plantio até o respeito pela Lua, sem deixar de lado as tradições originárias: “Nós somos da Terra e não o contrário”, disse a diretora. Ela afirma que os povos indígenas são guardiões da natureza.

Priscila Queiroz relata as injustiças ambientais sofridas pelos povos indígenas de Aracruz. A diretora revela o caso do Rio Piraquê-Açu, tradicional da Aldeia Caieiras Velha, que não é mais próprio para a tradição de banho e pesca por conta do rompimento das barragens de Mariana, em 2015. Ela diz ainda que a monocultura de eucalipto prejudica o solo da região. Por fim, Priscila afirma que a secura do solo e a falta de chuva causadas pelas mudanças climáticas dificultam o plantio.