O sucesso e as decepções das adaptações literárias

O cinema deu uma nova vida à literatura, mas entre os cinéfilos e leitores, as adaptações continuam dividindo opiniões

Cartazes de adaptações literárias que marcaram o público por motivos diferentes: algumas conquistaram fãs, outras dividiram opiniões. (Foto: Divulgação/Summit Entertainment, Divulgação/Netflix, Divulgação/Warner Bros)

Estefany Benachio

Sabe o que Crepúsculo, Amor e Gelato, e O Iluminado têm em comum? Todos são histórias que saíram das páginas dos livros para ganhar vida nas telas. As adaptações literárias despertam curiosidade e altas expectativas, seja pela escolha do elenco ou pelas mudanças no enredo. Ao mesmo tempo, elas mostram como o cinema pode reinventar a literatura, ampliando o alcance das histórias, mesmo que o resultado nem sempre agrade a todos. 

Nos últimos anos, as editoras e estúdios têm apostado cada dia mais em obras já conhecidas pelo público. Um exemplo é a saga Crepúsculo, que já era considerada um sucesso na versão escrita e se tornou um fenômeno ao chegar aos cinemas. Mesmo com críticas à atuação e ao tom melodramático, muitos fãs gostaram da trama e a bilheteria ultrapassou US$3 bilhões de arrecadação, conforme o levantamento do Box Office Mojo

A estudante de língua e literatura inglesa Fernanda Simadão defende que a atuação foi boa, considerando que os atores, muitas vezes, seguem as regras dos produtores, e por isso, não conseguem entregar todo o potencial. A estudante complementa que a história do livro, em geral, foi bem desenvolvido, considerando o tempo de tela disponível e conseguindo manter a essência da escritora. Fernanda, porém, apresentou uma insatisfação com a representação de Edward, um dos personagens, já que nos livros ele não se mostra tão frio quanto nos filmes. 

Fernanda Simadão encontra na leitura a essência que muitas adaptações tentam trazer para o cinema. (Foto: Estefany Benachio)

Por outro lado, há obras que não possuem a mesma sorte. Amor & Gelato, por exemplo, foi uma decepção para grande parte dos fãs. Segundo o site crítico Rotten Tomatoes, ele teve apenas 17% de aprovação das pessoas que assistiram. A estudante Fernanda, que já leu e assistiu à obra, comenta que o filme mudou demais a história original, se afastando da essência das páginas,  modificando os personagens e a cidade de origem, que tinha grande importância. Esse é um exemplo para mostrar as dificuldades de transmitir o sentimento dos livros através das telas. 

Visão da Crítica

Em conversa com o crítico de cinema Gustavo Guilherme, formado em Cinema e Audiovisual, com publicações em A Gazeta e sites especializados, ele reflete sobre o olhar do público e os desafios por trás das adaptações literárias.

O público julga como deve julgar, da única maneira que lhe é possível, que é por meio da própria percepção tanto do que é cinema quanto do que é literatura. Acredito, inclusive, que essa ideia de análise “justa” de qualquer obra artística é supervalorizada em nossos tempos.

Gustavo Guilherme

Quando se trata de fidelidade ao livro, Gustavo cita que a linha entre seguir o original e ter liberdade criativa é quase inexistente. Ele utiliza como exemplo a versão de O Iluminado escrita por Stephen King e dirigida por Stanley Kubrick, que o autor não aprovou, e muitas pessoas usaram essa informação para diminuir o filme. Entretanto, o crítico defende que Kubrick, ao decidir fazer um filme, se inspira na obra, mas que ele usa o próprio estilo e linguagem. Dessa forma, é importante perceber que os dois são grandes profissionais, mas de áreas diferentes: um de literatura e outro de cinema. 

Gustavo também aponta o maior desafio das adaptações: a linguagem. Enquanto a literatura exige tempo e imaginação do leitor, o cinema depende de ritmo, imagem e som. 

“O grande desafio é entender o que é essencial em uma história e transportá-la para a tela sem perder sua essência”

Por fim, o crítico responde a maior dúvida de todas: é possível agradar leitores e cinéfilos? O qual foi revelado um sincero “Não”, que pode ser explicado na exigência que os dois públicos têm. O que não é um problema, já que a crítica é um modo de pensar na obra e guarda-lá na memória.