Trilhas da Verdade: Pega na Mentira

Em um cenário de desinformação, música de Erasmo Carlos, lançada em 1981, continua atual

Heitor Robers

A mentira é um desvio moral, que fere a confiança e enfraquece as relações. Quando se torna um hábito, ganha contornos complexos. Uma música pode nos ajudar a refletir sobre isso?

Sobre a canção

Na música “Pega na Mentira”, Erasmo Carlos utiliza do humor e da ironia, por meio de afirmações contraditórias e mentirosas, para refletir e tecer críticas à sociedade brasileira.

“Acabou-se a inflação”; “Amazônia preza sua mata,” são frases direcionadas ao espectro político, encontradas na letra da canção, que denunciam problemas econômicos e ambientais.

“Barato é o marido da barata”; “Vi papai-noel numa favela”; “O Brasil não gosta de novela”; “Carnaval agora é um dia só,” são citações direcionadas à população, de forma mais generalizada. O cantor brinca com festas e costumes populares, mas demonstra a preocupação com as diferenças sociais e a discriminação.

Com a melodia animada e dançante, a música em alguns momentos leva o ouvinte a rir da situação, talvez até relevando os absurdos ditos na letra por conta do envolvimento causado pela batida.

Mas com o refrão: “Pega na mentira, pega na mentira, corta o rabo dela, pisa em cima, bate nela, pega na mentira,” repetido algumas vezes na canção, o compositor reitera a necessidade do combate à mentira e à desinformação.

O passado e o presente

A obra, lançada no passado, continua atual, e ganha no presente novas interpretações.

Em meio a um cenário complexo, em que os limites entre o que é ou não verdade são cada vez mais nebulosos, o contraste entre a letra e a melodia nos faz um convite à reflexão. Até quando a mentira será tratada como algo normal?  O que nós, enquanto cidadãos, estamos dispostos a fazer para mudar esse cenário?