O islamismo além da ótica ocidental

Atualmente, o Islã tem se espalhado pelo mundo, gerando um elevado número de fieis às práticas mulçumanas

A maioria dos convertidos do islã são mulheres (Imagem: Danilo Muniz)

Danilo Muniz e Janderson Vicente Júnior

O Islamismo é uma das religiões mais cultuadas no mundo, em especial no oriente médio. Um estudo de 2017 pelo centro de pesquisas Pew Research Center constatou que em 2070 o Islã será a religião com mais adeptos no mundo. Atualmente, o número se aproxima de 2 bilhões de pessoas em todo o globo. No Brasil, existem entre 800 mil e 1,5 milhão de mulçumanos, segundo divulgado pela Federação das Associações Muçulmanas no Brasil (Fambras). 

As tensões entre Israel e Palestina, o Talibã no Afeganistão ou a vida civil das mulheres no Oriente Médio gira em torno dos mulçumanos. Por muitas vezes, a narrativa criada pela veiculação de informações distorce a verdadeira essência dos religiosos. O islamismo existe desde o início do século VII e é uma das religiões que não tiveram muitas alterações nas doutrinas. Por mais que grupos terroristas usem a bandeira da fé para propagar o ódio, a essência da religião é o amor. 

A consultora de imigração Anna Cristina da Silva Pereira, 58 anos, conheceu o Islã durante uma viagem ao Egito em 2015. Após passar meses estudando sobre a religião, resolveu ingressar no islamismo. Atualmente, além de fiel, Anna Cristina também é tesoureira da Mesquita de Vitória, um projeto conquistado por esforços dela e do conjunto de ajuda mútua. Antes do templo ser instalado em Jardim Camburi, em Vitória, os Mulçumanos tinham um espaço na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) para realizar os cultos.

Anna Cristina destaca que os mulçumanos são caridosos e foi isso que despertou nela o querer fazer parte, já que gosta de ajudar as pessoas. Ela, que trabalha ajudando imigrantes, enfatizou o papel de solidariedade e acolhimento que a religião agrega. A consultora de imigração reforça que a religião muda os fiéis e que isso fica perceptível às pessoas próximas. Anna Cristina diz que o Islã é de extrema importância para ela e que se sente bem no ambiente em que está inserida.

O islã é tudo para mim. É a minha vida!

Anna Cristina
Anna Cristina é formada em direito, além de outras formações acadêmicas (Imagem: Danilo Muniz)

Durante a conversa, Anna Cristina citou a história da revolta dos malês. Por mais conhecida que seja, algo passa despercebido: o fato de que os participantes do levante eram africanos mulçumanos. O acontecimento foi em Salvador, na Bahia, e culminou no fracasso dos guerrilheiros. A palavra ”malês” é de origem africana, que na língua iorubá imale significa ”mulçumano”. Os combatentes lutaram de abadás brancos e filás, roupa característica do grupo.

A psicóloga clínica especialista em análise do comportamento Carla da Silva Cândido Thomaz, 33 anos, explica que a religião pode oferecer conforto em momentos de crise. Ela ressalta que a crença religiosa não foca no sofrimento vivenciado, e sim em algo além de toda dor, no propósito de cada sofrimento. Diante disso, ela destaca que a religião faz parte da identidade pessoal do indivíduo, influenciando mudanças de comportamentos, ressignificando o modo de viver, com base nos princípios da fé.

A criação das narrativas é o que faz a religião ter sentido na sociedade, como pontua a socióloga Rafaela Soares da Silva, 43 anos. Ela destaca que as religiões vêm para completar a humanidade. Rafaela enfatiza que a fé é um refúgio para quando a razão não tem resposta. A socióloga salienta que as religiões não são as causadoras das desigualdades, porém podem fortalecê-las. Rafaela finaliza constatando que a religião é um meio de influência e um pilar estruturante da sociedade.

O sheik da mesquita de Vitória, Abdul wahab habibullah khwarezme, 41 anos, mora no Brasil há seis anos. Ele chegou recentemente na capital capixaba para liderar o templo islâmico. Anteriormente, liderava um templo em São Paulo. Abdul destaca a facilidade para fazer amizade com os brasileiros visto que são muito cativantes e dispostos a ajudar. O sheik ressalta que, apesar das diferenças culturais, gosta muito do país. 

Fady Srour e Abdul wahab habibullah khwarezme, da esquerda para direita (Imagem: Danilo Muniz)

O líder do templo islâmico é de origem árabe e para melhorar o entendimento das falas durante a entrevista foi necessário um intérprete. Fady Srour, 37 anos, é libanês. Ele mora no Brasil há oito anos e o motivo para vir ao país foi ter conhecido a atual esposa no Facebook. Fady é mulçumano, mas a esposa não. O respeito, embora com a diferença religiosa, é o pilar da vida do casal. 


Edição: Danilo Muniz

Imagem de Destaque (Home): Janderson Vicente Júnior