MENTAL: potente e experimental. Yseult lança um dos álbuns mais interessantes de 2024

A cantora francesa Yseult surpreende o mundo com a capacidade de misturar de forma majestosa o gênero experimental com a estética sonora do rock & roll, do pop, do electropop, do post-punk e outros gêneros alternativos

(Imagem: Núcleo de Publicidade do Lacos/ Alyson Ferreira)

Natan de Oliveira

A cantora francesa Yseult lançou no mês de setembro o álbum musical “MENTAL”. O projeto, que é o segundo álbum de estúdio da artista, explora a estética sonora do rock & roll, do pop, electropop, post-punk e outros gêneros alternativos da música. O disco possui 13 faixas e consagrou a cantora europeia como uma das artistas mais interessantes e autênticas da atualidade. 

Yseult era uma cantora de nicho até pouco tempo atrás. A artista consagrou o nome na cena europeia após participar do reality show musical “Nouvelle Star”, em 2014 e, no ano seguinte, lançou o primeiro álbum de estúdio da carreira, denominado “Yseult”. A cantora conquistou a fama mundial recentemente, após o lançamento da música “Alibi”, em parceria com a cantora iraniana Sevdaliza e a drag queen brasileira Pabllo Vittar.

Yseult é uma das maiores promessas do pop atual (Foto: Tarek Mawad/Reprodução/Instagram @yseult)

MENTAL

Após o sucesso estrondoso da música “Alibi”, que conquistou a 12ª posição no top 50 global da plataforma de streaming Spotify, Yseult lançou o álbum “MENTAL”. O álbum, 100% independente, apresenta uma sonoridade diferente do que a artista já havia lançado anteriormente, explorando instrumentais obscuros e pesados do rock mesclados com a autenticidade do electropop. Um som instigante e diferente do que vem sendo produzido no mainstream.

Capa do álbum “MENTAL” (Foto: Tarek Mawad/Reprodução/Instagram @yseult)

Estética sonora

O disco abre com uma música chamada “PETIT <3“, uma balada majoritariamente instrumentalizada com o piano, muito intimista. A música retrata um relacionamento tóxico, em que um parceiro machuca constantemente as emoções e a integridade psicológica da outra pessoa. O instrumental e a melodia simplória abraçam a intensidade da letra e colocam uma carga emocional na canção. Uma música adorável e uma introdução instigante para o que se segue no restante do projeto.

O álbum não se limita às baladas emotivas. Das 13 músicas que compõem a obra, oito são influenciadas pela estética do rock & roll. As faixas são envolventes e referenciam diferentes vertentes do gênero rock. A música “CUTE”, por exemplo, remete ao gênero musical post-punk, muito consumido pela subcultura alternativa gótica. 

A faixa “SUIC*DE”, descrita pela própria cantora como um pop-rock alternativo, possui um solo de guitarra acompanhado de uma bateria presente, assim como a faixa “TUNING”, referenciando, esporadicamente, a sonoridade do heavy metal. Já a música “MTV”, segunda faixa do disco, inicia de forma intimista, com um violão acústico e, de repente, migra para um som repleto de guitarras, bateria e baixo envolvente. 

Live perfomance da música “SUIC*DE”

O álbum de Yseult agrada a vários e diferentes tipos de gostos musicais. As músicas “ANGER”, “TRANCE”, e “B**** YOU COULD NEVER” possuem uma sonoridade voltada para os estilos musicais electropop e hyperpop. Os instrumentais dessas faixas são compostos por diversos sintetizadores e configurações de músicas eletrônicas ou, até mesmo, o estilo rave. Faixas que exploram pontos eletrizantes e ideais para playlists de clubes. 

Até referência à música latina o álbum Mental tem. A música “GASOLINA” é a mais sensual do projeto e usa de artifícios musicais explorados pela cultura pop latina contemporânea. O instrumental dessa faixa é composto por batidas comumente usadas no reggaeton contemporâneo que, inclusive, ficou muito popular no repertório dos artistas J Balvin, Bad Bunny, Rosalía, Tokischa e Karol G. 

Yseult é dona de um som instigante e autêntico (Foto: Reprodução/Instagram @yseult)

Voz e composição

A voz da Yseult é surpreendente. A artista impressionou o público com a apresentação da música “My Way”, de Frank Sinatra, na cerimônia de encerramento das Olímpiadas 2024. Com a voz potente e extensão vocal admirável, a artista trouxe diferentes camadas vocais para a identidade do álbum “MENTAL”. Yseult mostra a facilidade que tem de ir de um som obscuro para um vocal aberto e agudo. Falsetes, drives, vozes de cabeça, melismas, beltings e outras técnicas vocais são executadas com excelência no projeto.

“MENTAL” é um projeto extremamente pessoal. Não é necessário ser parte de um público assíduo das redes sociais da cantora para compreender as dores e as felicidades que circundam a vida dela. As letras das canções, na maior parte do tempo, são cruas e viscerais. A artista fala abertamente sobre relacionamentos abusivos, depressão, tristeza, a realidade de ser uma mulher preta na sociedade e amor próprio. 

A música “MTV”, por exemplo, fala sobre o constante desafio de se tratar melhor, ser gentil consigo mesmo, saber lidar com as frustrações que a vida oferece e o processo de se entender como uma pessoa bonita, mesmo estando fora dos padrões sociais. “Eu me senti tão pequena. Eu vejo agora, eu sou linda”, canta Yseult. 

Yseult é uma artista 100% independente, sem empresários ou uma grande gravadora (Foto: Tarek Mawad/Reprodução/Instagram @yseult)

Autenticidade e originalidade

É muito difícil misturar diversas referências sonoras e musicais em um mesmo projeto, principalmente quando se coloca músicas de rock com músicas pop dançantes em um mesmo disco. Se não for bem executado, há grandes chances de soar como uma grande bagunça ou mesclagens aleatórias de diferentes referências musicais. Mas Yseult conseguiu. A forma como as músicas foram organizadas e pensadas soa muito coesa e fazem o perfeito reflexo da personalidade da artista.

Yseult é uma artista para aqueles que gostam de pessoas autênticas e originais, para aqueles que gostam de músicas profundas, mas não descartam a possibilidade de se entregarem em uma pista de dança. Com uma estética dark e um requinte de glamour, Yseult mostra para o público que não é uma artista de tendências passageiras, é uma pessoa fiel às suas ambições e com grande potencial na indústria da música.



Edição: Natan de Oliveira

Imagem da Home (Capa): Núcleo de Publicidade do Lacos/ Alyson Ferreira