Poder dos livros na infância

A leitura na infância ajuda no desenvolvimento cognitivo e social das crianças. Especialistas destacam o papel da escola e da família no incentivo ao hábito de ler. Apesar disso, o uso excessivo de telas representa um desafio nesta fase da vida

De acordo com a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura, 86% das crianças de cinco a dez anos têm interesse pela leitura, sendo que, deste percentual, 41% dizem gostar muito de ler (Foto: Ana Clara da Cruz/LACOS)

Ana Clara da Cruz

A literatura é uma forma de manifestação artística que se utiliza da linguagem escrita para produzir diferentes tipos de obras. Na infância, período de desenvolvimento físico, cognitivo e da personalidade da criança, a leitura é crucial para auxiliar na promoção do pensamento crítico e do intelectual infantil. Com o intuito de alcançar essa finalidade, é necessário que a escola e a família incentivem esse hábito, já que são os núcleos mais presentes nessa fase.

A engenheira de produção Eliane Bankert, 41 anos, conta que compra livros mais de uma vez por mês para a filha Clarice de 4 anos e 8 meses. Eliane afirma que lê para a filha antes de dormir, mesmo antes dela falar, e que esse momento virou um hábito na rotina das duas. A engenheira ainda diz que a leitura influenciou na fala de Clarice, já que a dicção dela é boa em comparação com os amigos da escola e também porque ela já forma frases mais elaboradas.

A publicitária Thamyres Setimi, 30 anos, diz que na escola em que os filhos estudam existe um projeto paradidático de leitura. Esse programa consiste em ler um livro por semana e, quando finalizam, as crianças respondem perguntas sobre a história. Thamyres afirma que essas leituras semanais contribuem para o desenvolvimento da linguagem e da compreensão textual do Caio Henrique, 7 anos, e do João Thiago, 6 anos.  

Thamyres conta que lê para os filhos antes de dormir, prática da qual os meninos adoram. (João Thiago, Thamyres e Caio Henrique; Foto: Arquivo Pessoal)

A com a pedagoga Letícia Venturini Lacerda, 23 anos, explica que o contato com a literatura na infância pode parecer, de início, importante apenas para a alfabetização, mas, gera algo além disso. Para Letícia, o indivíduo que lê conhece mundos por meio dos livros e, nessa ação, a criança começa a refletir sobre sua realidade. A literatura é uma ferramenta essencial para a convergência do mundo imaginético com o real e tem o poder de criar, no futuro, um cidadão ativo, que critica, argumenta e rompe as imposições da sociedade.

A  professora de ensino infantil Sabrina Arpini, 42 anos, defende que a literatura é primordial para a formação crítica da criança. Sabrina diz que as histórias estimulam a imaginação e a interpretação e isso desperta a curiosidade e amplia o vocabulário infantil. A professora afirma que os livros promovem o contato com diferentes realidades e culturas e isso ajuda a criança a refletir, questionar e formar as próprias opiniões.

As obras influenciam os pequenos a criarem uma visão ampla do mundo e isso fortalece a capacidade intelectual de cada um.

O estudante Caio Henrique, 7 anos, afirma que gosta de diferentes tipos de leitura, como livros informativos e contos. O estudante diz que lê tanto em casa quanto na escola, mas que a prática favorita é levar livros no dia do brinquedo, às sextas-feiras. Caio conta também que o  livro preferido é o “Livro Informativo para Garotos”, que aborda diversos temas que todas as crianças deveriam saber.

Dificuldades

Apesar de ser notória a importância do incentivo ao hábito de leitura no período da infância, ainda existe uma precária influência nesse meio. Segundo a pesquisa do Projeto Pipas “Primeira Infância Para Adultos Saudáveis”, realizado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal em 2022, 33% dos pequenos, entre os 13.435 entrevistados, passam mais de duas horas por dia em frente a telas de TV, tablet ou smartphone. Esses dados mostram como as tecnologias atuais afetam o interesse das crianças pela literatura.

Para Letícia, a era digital em que a sociedade atual está inserida é o principal desafio para estimular a literatura infantil. A pedagoga ainda conta que as crianças são expostas a diversos estímulos desde pequenas, como áudios, imagens e cores. Essa imersão cria uma dificuldade para exercitar o imaginativo, fator fundamental nos livros, já que a criatividade não é praticada. Assim, Letícia afirma que os professores possuem um papel essencial ao usar a literatura de forma sensível, fazendo com que as crianças se identifiquem com a leitura.

Pedagoga Letícia Lacerda (foto: Ana Clara da Cruz/ LACOS)

Já Sabrina explica que utiliza diferentes recursos e estratégias para despertar o interesse e a curiosidade dos alunos pelos livros. A professora conta que utiliza ilustrações, fantoches e leva constantemente os estudantes à biblioteca com o objetivo de deixá-los livres para escolher as leituras. Ela também utiliza as rodas de conversa como meio de troca das histórias que estão lendo, criando um ambiente de aprendizado.

A professora de ensino infantil Elisa Guimarães, 23 anos, afirma que, quanto antes se introduzir os livros na vida da criança, melhor. Para a professora, os pequenos se moldam a partir do que veem. Logo, o hábito de ler é construído de forma lenta mas eficaz se for feito desde cedo. Elisa, que trabalha com crianças de 2 anos, diz que, nesse período, elas são movidas pela curiosidade. Dessa maneira, ela deixa os alunos manusearem os livros como forma de interesse, além de proporcionar rodas de leitura em locais diferentes, auxiliando na atenção.