Projeto ‘Pequenos Guardiões’ Transforma Crianças e Adolescentes em Defensores das Abelhas
O Projeto “SOS Abelhas”, exemplo de como o Cooperativismo pode construir um mundo melhor, transforma Crianças e Adolescentes em “Pequenos Guardiões” e, ainda, conscientiza a sociedade sobre a importância das abelhas para a vida no planeta

Kariana Ferreira e Rafaela Aguiar
Olhando para as abelhas, insetos tão pequenos, não imaginamos quão fundamentais elas são para o bom funcionamento do meio ambiente e para a vida humana. Mas, os “Pequenos Guardiões” sabem. Os escolhidos têm uma missão clara: compreender e preservar o papel das abelhas para o equilíbrio do ecossistema, cultivar conhecimento, despertar o senso de consciência ambiental e trabalhar em equipe com todos os guardiões para fortalecer a cooperação.
Conscientizar crianças e adolescentes sobre a importância das abelhas e transformá-las em “Pequenos Guardiões” são objetivos do projeto SOS Abelhas, um exemplo de como cooperativas podem construir um mundo melhor. Eles aprendem sobre a necessidade das abelhas não apenas para a natureza, mas, também, para a sobrevivência da humanidade e, ao mesmo tempo, fortalecer o modelo de trabalho das abelhas que tem tudo a ver com o Cooperativismo. Tudo isso acontece por meio da websérie “Cine Abelhas”, oficinas interativas e produção de cartazes, poemas e jogos. Atividades que estimulam tanto a criatividade quanto o aprendizado das crianças.

Nas oficinas, a teoria saiu da tela e ganhou vida nas mãos dos pequenos. Enquanto criavam cartazes coloridos com mensagens de proteção e poemas que comparavam a colmeia a uma comunidade unida, os “Pequenos Guardiões” vivenciam na prática o espírito de Cooperação. Uma das escolas contempladas fica na região de São Pedro, em Vitória: é a escola EMEF Eliane Rodrigues dos Santos. Nessa escola, as turmas do 4º ano foram as escolhidas e ficaram sob a responsabilidade do professor Elias Pereira.
Outra produção feita, em sala de aula pelo professor Elias Pereira e pelos os alunos do 4° ano, foi uma canção. Confira
O “SOS Abelhas” é uma iniciativa do banco Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) em parceria com o Instituto Brasileiro de Apoio ao Desenvolvimento Social e Econômico (IBA) e busca sempre trabalhar com as turmas do ensino fundamental. Segundo a Supervisora de Responsabilidade Social do Sicoob, Sandra Martins, o projeto é focado em crianças dessa idade porque é nessa fase que elas estão formando a visão de mundo e de valores. Ao inserir a importância ecológica das abelhas nesse processo cria-se uma base sólida de respeito pelo meio ambiente.
O professor Elias Pereira conta que, antes do projeto, as crianças tinham uma visão bem distorcida das abelhas.
Os alunos entendiam as abelhas apenas como mais um animal e muitas vezes buscavam até eliminar porque não conheciam os benefícios que tinha, chegando a ter medo. Mas, hoje os nossos alunos entendem que as abelhas são fundamentais para o nosso planeta e para a sobrevivência de muitas espécies de plantas, então hoje a visão deles é outra em relação a esse animais
Elias Pereira
A dimensão desse entendimento é colossal. A presidente do IBA, Karina Nolasco, explica que o desaparecimento das abelhas não é apenas uma questão ambiental, mas uma ameaça direta à vida humana. Para se ter uma ideia, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% de todas as culturas alimentares do planeta dependem da polinização.
São três mil abelhas, em média, que voam num raio de três quilômetros e polinizam mais de dez mil flores por minuto. Não existe nenhum outro animal que se compare à capacidade de polinização das abelhas
Karina Nolasco

O aluno Weverton dos Santos, 9 anos, do 4º ano, conta que no início ficou com medo, mas gostou muito de participar do projeto. A percepção dele sobre os insetos mudou rapidamente e completamente: “Eu tenho conhecimento de que a abelha é importante para a gente, pois, se não tivesse abelha no mundo, a gente nem estaria aqui hoje. Por isso que comecei a gostar de abelhas”, revela o “Pequeno Guardião”.
Ele afirma, ainda, que é muito divertido aprender sobre a polinização das abelhas, algo que não sabia que os animais faziam. Weverton ressaltou, também, que uma das partes do projeto que mais gostou foi o “grito de paz e sorte”. Os jovens tinham que escolher qual espécie de abelha seriam. Todos escolheram o zangão, sem saber que ele morre rápido. E foi, justamente, a escolha dele.
Elias Pereira destaca que o trabalho e a comunicação em equipe tem sido bem fomentado com os “Pequenos Guardiões“, ensinando a eles que o trabalho em equipe gera mais resultados, fica menos pesado e fortalece a união da turma: “Estamos trabalhando a questão da inclusão porque para trabalhar em equipe a gente tem que incluir e para incluir a gente tem que fazer uso da mesma comunicação”, disse o professor Elias Pereira.




Guardião Tutor
O projeto “SOS Abelhas” avança para um patamar mais prático com o “Guardião Tutor Mirim“, vertente dedicada à formação de tutores de abelhas. Enquanto o “SOS Abelhas” original trabalha a conscientização de crianças de 9 a 12 anos, a nova frente capacita adolescentes a partir de 15 anos e adultos e idosos interessados em cuidar de abelhas de forma responsável.



Atualmente, em fase de análise e expansão, a iniciativa já está presente em três escolas do sul do Estado, incluindo a Escola Família Agrícola de Belo Monte, em Mimoso do Sul. O diretor administrativo da instituição, Edson Moreno Canchilheri, relata que o projeto se alinha perfeitamente à proposta pedagógica da escola, que oferece ensino médio integrado ao técnico em agropecuária. “Nada é mais justo e estratégico do que termos jovens atuando como tutores dessas criaturas tão importantes para o planeta”, destaca.
O diretor considera ainda o projeto, por meio da parceria com o IBA e apoio financeiro do Sicoob, o primeiro passo para uma formação sólida, que ensina não apenas a importância vital das abelhas para a polinização, mas, também, técnicas de manejo, legislação e responsabilidade ambiental. Aprendizados fundamentais para a profissionalização e capacitação desses jovens.
A presidente do Instituto IBA, Karina Nolasco, explica que o projeto visa ajudar os tutores no cuidado com as abelhas e orientá-los na aquisição de enxames e regularização. “Tem uma legislação, existem regras. Não posso criar qualquer enxame de qualquer espécie em qualquer lugar. Então, tem a região de ocorrência. Isso tudo a gente aborda na formação do Guardião Tutor”, detalha.
Ouça agora o depoimento dos jovens que participam do Projeto
O Jardim de Mel que os alunos explicam no vídeo acima é um meliponário, lugar dedicado à criação, manejo e conservação das abelhas sem ferrão. A realização do Jardim transformou a rotina dos estudantes, pois, agora, eles alinham os ensinamentos teóricos do “SOS Abelhas” à prática.
O diretor da escola, Edson Canchilheri, explica que essa é uma importante iniciativa para a polinização e o aumento da produtividade agrícola, especialmente do café conilon, que é uma cultura forte da região. Ele ainda destaca que a criação do Jardim é para acolher as abelhas e abrir caminho para que, no futuro, os estudantes possam até mesmo estruturar uma mini empresa ou cooperativa mirim.
A diferença é basicamente essa: um projeto estritamente de educação, com objetivo de mobilizar o maior número de pessoas, e outro de formar tutores. A gente ensina a lidar com as abelhas e a cuidar das abelhas
Karina Nolasko
A Importância das Abelhas

O apicultor Francisco de Assis conta que de fato a polinização das abelhas tem um impacto muito positivo para a biodiversidade e a produção agrícola, ajudando no aumento da produtividade, no peso, na qualidade das frutas e dos grãos, além de estimular uma agricultura sustentável e promover a conservação das matas e dos animais.
Karine Nolasko explica também que as abelhas influenciam diretamente na alimentação, destacando que o consumo da carne de boi conecta as pessoas a um ciclo que se inicia no pasto, cujo a renovação depende da polinização feita pelas abelhas. Ela diz ainda que, sem as abelhas, a pastagem não se recompõe naturalmente, afetando toda a cadeia alimentar. E que muitos animais dependem das abelhas para sobreviver direta ou indiretamente.
Ao bebermos a água em nossas casas não nos lembramos que, se as abelhas não fizesse a polinização nas florestas, não teríamos nascentes que abasteceriam os rios que faz com que a água chegue em nossas casas
Francisco de Assis
Isso mostra que as abelhas são verdadeiras heroínas da natureza. Embora muitas pessoas as vejam como vilãs por causa das picadas, que, na verdade, são um mecanismo de defesa, elas desempenham um papel fundamental para a vida no planeta com a polinização.
Ouça o “Guardião Mirim” Weverton da Silva explicando como funciona a polinização das abelhas
O projeto implementa uma metodologia focada em dois eixos: o fortalecimento do Cooperativismo, usando a organização social que as abelhas seguem como modelo inspirador para o trabalho coletivo e na Sustentabilidade, alinhando as ações aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para promover práticas que garantam segurança alimentar, biodiversidade e um futuro mais equilibrado.

De acordo com dados do Instituto IBA, em 5 anos foram 1.513 educadores capacitados, 7.685 alunos capacitados com 158 escolas envolvidas nos municípios de: Afonso Cláudio, Aracruz, Baixo Guandu, Brejetuba, Cariacica, Divino de São Lourenço, Domingos Martins, Governador Lindenberg, Ibatiba, Ibiraçu, Itarana, Iúna, Jaguaré, João Neiva, Linhares, Marechal Floriano, Mimoso do Sul, Muniz Freire, Rio Bananal, Rio Novo do Sul, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa, Serra, Vila Velha e Vitória.
O IBA informa, ainda, que, somente em 2025, a iniciativa passará por 14 municípios, beneficiando 1.814 crianças em 34 escolas, ampliando cada vez mais a rede de “Pequenos Guardiões” em defesa das abelhas e do meio ambiente.
A supervisora de Responsabilidade Social do Sicoob, Sandra Martins, explica que a instituição vai além de ser uma cooperativa financeira e que o Sicoob tem como propósito promover o desenvolvimento sustentável das comunidades onde atuam.
O ‘SOS Abelhas’ é um exemplo concreto disso. É a união de educação ambiental, cooperativismo e responsabilidade social para formar cidadãos conscientes desde a infância
Sandra Martins
Ouça o áudio da Karina Nolasco sobre a parceria IBA com o Sicoob
O Projeto “SOS Abelhas” está alinhado, então, ao Programa de Educação Cooperativista do Sicoob, que tem como premissa o quinto princípio do cooperativismo de promover educação, formação e informação, não apenas para seus membros, dirigentes e colaboradoress, mas, também, para a sociedade. O programa visa planejar e executar ações que disseminem os valores cooperativistas, formem novas lideranças e fortaleçam vínculos comunitários. Já o Instituto IBA entra nessa união para estimular uma rede de desempenho colaborativo para compartilhar conhecimentos e para potencializar a preservação das abelhas. Fundado em 2003, é uma organização sem fins lucrativos que se sustenta a partir de três pilares: Pessoas, Conhecimento e Conectividade.
Confira abaixo como o Projeto “SOS Abelha” se conecta com a sociedade
Opinião das autoras – Conhecer e escrever sobre o projeto SOS Abelhas foi uma experiência diferente, de muito aprendizado e que nos levou de volta para a época em que ainda estávamos no ensino fundamental, quando o aprendizado de diferentes formas se fazia tão necessário. Com um tema tão relevante, as crianças aprendem e, também, ensinaram, mostrando como as abelhas são importantes para o meio ambiente e como o trabalho em cooperação é essencial para a construção de uma sociedade que preza pela sustentabilidade e pela justiça social. Ouvir os relatos desses “Pequenos Guardiões”, contando sobre o projeto, o que aprenderam e o quanto gostaram de participar foi, de certa forma, muito divertido, pois tudo ficou à maneira deles. É sempre único conversar com crianças, que são tão sinceras e diretas. Quando descobrimos que o projeto era desenvolvido para crianças, ficamos logo interessadas, por ser algo diferente. Quando imaginamos crianças e abelhas, pensamos logo no medo que as crianças devem sentir. Também sentimos um certo receio, pensando que, talvez, elas não quisessem participar ou que os pais não permitissem, mas, felizmente, tudo deu certo. É muito interessante pensar que esses guardiões mirins, mesmo sendo tão jovens, puderam participar e realizar algo tão significativo e bonito.
Diagramação: Redação Lacos
Edição Final: Kariana Ferreira
Imagem do Destaque: Divulgação/Sicoob