Cinema x Streaming: o futuro da experiência audiovisual
Enquanto o conforto de casa conquista multidões, o ritual de ir ao cinema ainda tem valor
Felipe Marques
Cinema é uma palavra que desperta muitos sentimentos e sentidos, fazendo a memória nos levar automaticamente para momentos e filmes que para sempre serão lembrados em nossos corações. Nos últimos anos, a forma como consumimos filmes teve uma transformação profunda, fazendo o público hoje ter acesso a catálogos imensos de filmes e séries a um clique de distância, graças as plataformas de streaming.
Afinal, estamos presenciando o fim das salas de cinema como conhecemos ou haverá espaço para a convivência entre o streaming e a experiência cinematográfica tradicional?
Impacto da pandemia e a ascensão do streaming
As plataformas de streaming chegaram e ganharam força muito rápido, principalmente em 2020, onde os cinemas estavam fechados por conta da pandemia. A cada ano, novos serviços são disponibilizados e essa ascensão das plataformas faz muitas pessoas acharem que a experiência de ir ao cinema está sendo ameaçada. Uma pesquisa feita pelo instituto J. Leiva com o DataFolha revela que o setor cinematográfico ainda não se recuperou completamente dos impactos da pandemia de Covid-19. Já os serviços de streaming fazem parte do orçamento de 79% dos brasileiros, segundo pesquisa feita pelo Serasa. Ao mesmo tempo, 70% dos entrevistados se viram frequentando menos o cinema. Mais da metade (60%) concorda que o crescimento dos streamings impacta nessa diminuição.
Com essa grande popularização, como as salas de cinema estão fazendo para se reinventar e atrair o público? O estudante de Cinema Cauã Christian critica a falta de histórias originais. “É inevitável que com a ascensão do streaming, muitas pessoas vão optar por assistir filmes ou séries dentro de casa, seja pelo conforto ou também pelo fator econômico. Ir ao cinema hoje não é uma atividade barata. Mas, creio que fazer filmes com histórias mais originais é uma forma de se reinventar”, afirma
Cauã também dá exemplos sobre lançamentos recentes que não seguiram essa linha e consequentemente não tiveram o sucesso esperado:
“Não é à toa que recentemente vimos vários filmes que são clássicos, como filmes de super-heróis, animações que foram adaptadas para live action, ou sequências de filmes famosos, terem uma arrecadação mais fraca na bilheteria, muito pelo fato do público estar um pouco cansado dessas histórias. Então, acho que trazer histórias novas é uma ótima forma da indústria se reinventar, trazendo tanto o público jovem quanto a velha guarda. Um bom exemplo é o filme Ainda Estou Aqui, onde poucas pessoas conheciam a história de Eunice e Rubens Paiva”, destaca.
O valor da experiência e os novos caminhos para o cinema
Apesar da praticidade e o valor abaixo que o streaming tem, muitos ainda consideram a ida ao cinema uma experiência única. A tela gigante, a sala escura, a atenção total, o som envolvente e até o silêncio ansioso pelo começo do filme formam um tipo de sensação praticamente impossível de replicar em casa. Para muitos, esse ritual vai além do filme em si: é um momento de pausa, encontro e emoção coletiva.
Ao ser perguntado sobre quais são os desafios e as estratégias da indústria para manter a experiência cinematográfica viva, Cauã Christian acha que ter ideias para fazer as pessoas se apaixonarem por cinema é muito importante, fazendo promoções, reexibindo clássicos e investindo em eventos especiais.
“Como um apaixonado por cinema, eu acho que as experiências cinematográficas estão muito atreladas a memória. Eu amo ver a tela grande, eu amo ver as pessoas reagindo, batendo palmas, interagindo com a obra. Então, acho que fazer uma construção para as pessoas se interessarem por cinema é extremamente importante. Como eu disse, está se tornando cada vez mais caro ir ao cinema, então acho que promoções são fundamentais. Não é atoa que quando acontece o dia do cinema ou semana do cinema por um valor bem mais em conta, o público vai. Investimento em cultura é sempre importante, porque arte é vida e acredito que as pessoas não conseguem viver sem filmes”, afirmou.
Em um cenário onde o público é quem dita as regras, o futuro do cinema não depende apenas da tecnologia ou da nostalgia. Depende, sobretudo, da capacidade da indústria de oferecer experiências relevantes, acessíveis e conectadas com o tempo em que vivemos.
Talvez não estejamos vendo o fim do cinema como conhecemos, mas sim o nascimento de um novo modelo de convivência entre plataformas e salas, entre o digital e o presencial, entre o conforto do sofá e a sensação inexplicável da tela grande.
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