De Norte a Sul do Espírito Santo, pequenos negócios apostam no turismo da experiência para fortalecer o empreendedorismo local

Turistas podem colher morangos direto do pé em Casrelo/ES (Foto: Reprodução/Instagram @mporiodomorangofornogrande)
Turistas podem colher morangos direto do pé em Castelo/ES (Foto: Reprodução/Instagram @mporiodomorangofornogrande)

Bruno Caetano e Esther Laurentino

O Espírito Santo vive um novo momento no setor turístico, impulsionado pelo crescimento do turismo de experiência, um segmento que valoriza o contato direto entre visitantes e comunidades locais por meio de vivências culturais, históricas e gastronômicas.

De Norte a Sul do Estado, iniciativas ligadas às tradições quilombolas, à gastronomia regional das Montanhas Capixabas e ao turismo de aventura no Caparaó, têm criado oportunidades para pequenos negócios e contribuído para o fortalecimento da economia local.

Longe das grandes redes hoteleiras e dos pacotes tradicionais, pousadas familiares, cafés artesanais, roteiros culturais e atividades de imersão têm ganhado espaço e os resultados já aparecem.

Segundo o superintendente do Sebrae-ES, Pedro Rigo, empreendimentos que apostam nesse modelo conseguem agregar valor aos serviços e se destacar no mercado. “São exemplos a degustação e harmonização de cafés e cervejas. Na sede do Polo Sebrae de Turismo de Experiência temos a Casa Nostra, onde o visitante pode fazer uma imersão na cultura italiana”, explica.

Para impulsionar esse movimento, o Sebrae tem mapeado territórios com vocação turística e promovido ações que conectam empreendedores e investidores. A atuação vai desde o planejamento dos produtos até a implementação das experiências no mercado. “Também temos trabalhado na construção de políticas públicas que facilitem a abertura de novos negócios e apoiado os empreendedores na modelagem de ideias”, afirma Rigo.

Em 2025, os esforços se concentram em regiões estratégicas, como a Rota Quilombola (São Mateus e Conceição da Barra); o Grande Buda (Ibiraçu); Lajinha (Pancas); o Polo Cervejeiro de Araçatiba (Viana); Pindobas (Venda Nova do Imigrante); Araguaia (Marechal Floriano); a Rota da Ferradura (Guarapari); e os 7 Cumes (Caparaó). Cada uma dessas localidades carrega saberes e práticas únicas que ganham força quando transformadas em experiências turísticas genuínas.

“Esses territórios foram escolhidos com base no fluxo turístico, na vocação local e na presença de empreendedores engajados. Por isso, atuaremos no fortalecimento da governança, na melhoria dos produtos e na abertura de mercado”, conclui Rigo.

Vinho fermenta Enoturismo

Zosimo e Genisete Carlini comemoram com o filho Wilhan o sucesso da Vinícola (Foto: Arquivo Pessoal)

Em Santa Teresa, um antigo sonho de família se transformou em referência para quem busca experiências autênticas. Em meio às montanhas capixabas, a Vinícola Ziviani chama a atenção não só pelos rótulos produzidos, mas pela forma como vem impulsionando um novo olhar sobre o enoturismo no Estado.

Wilhan Ziviani, 29 anos, é um dos rostos à frente do negócio criado ao lado dos pais, Zosimo e Genisete Carlini. Filho de agricultores, ele cresceu entre parreirais e trilhas de terra. A ideia de abrir a vinícola veio da vontade de valorizar o que já era feito ali há décadas, mas com outro olhar: o do visitante.

“A gente sempre cultivava uva, fazia vinho artesanal. O que faltava era entender que isso podia ser mais do que tradição: podia ser negócio, experiência”, conta Wilhan.

A virada veio nos últimos anos, com capacitação e reestruturação da empresa, parte de um movimento maior que tem fortalecido o turismo de experiência em várias regiões do Estado. O Sebrae/ES entrou como parceiro na jornada, oferecendo desde consultorias em gestão e marketing até apoio para transformar a propriedade num espaço de acolhimento e vivência.

Hoje, quem chega à vinícola encontra muito mais do que vinho. O visitante percorre os parreirais, conhece o processo de produção, prova os rótulos em um ambiente rodeado de verde e, se quiser, ainda leva para casa uma garrafa feita no quintal da família.

A vinícola, que antes vivia do “boca a boca”, agora recebe grupos com agendamento, conta com presença digital e aparece em roteiros turísticos da região. “Nosso foco sempre foi oferecer algo verdadeiro. O turista percebe isso. Ele quer ouvir nossa história, entender o que está por trás do vinho”, diz Wilhan.

O resultado é que o fluxo de visitantes cresceu, a renda da família aumentou e o negócio ganhou fôlego para novos investimentos. “Não é só sobre vinho. É sobre o que ele representa: herança, identidade e possibilidade de futuro aqui, onde a gente sempre viveu,” afirma.

Assim como os Ziviani, muitos pequenos empreendedores capixabas têm apostado no turismo de experiência como alternativa para gerar renda e valorizar a própria cultura. A nova aposta é investir naquilo que o Espírito Santo tem de mais autêntico: suas histórias.

O diretor técnico do Sebrae/ES, Eurides Pedrinha, destaca o papel central do empreendedor nesse movimento. “O turista de hoje quer sentir. E para entregar isso, é preciso estar preparado. Gestão, atendimento e posicionamento devem caminhar com o produto”, afirma.

Com investimento, capacitação e incentivo para pensar grande, o turismo de experiência no Espírito Santo começa a ganhar protagonismo. E os resultados já aparecem.

Em 2024, o Sebrae/ES atendeu 19.261 empresas do setor, representando 33,8% dos negócios capixabas ligados ao turismo, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Foram realizados 79.971 atendimentos, com destaque para a modalidade presencial, que respondeu por 45,1% do total, mais de 36 mil interações diretas com empreendedores.

ES lidera crescimento do setor turistico no Brasil, segundo levantamento da Fecomercio-SP (Imagem: SETUR)

A instituição, também, registrou a chegada de 5.936 novos clientes, o que corresponde a 30,8% do total atendido no ano. Entre eles, 83% buscaram apoio presencial, evidenciando a força da estratégia de proximidade e suporte técnico adotada pelo Sebrae.

Com a iminente Reforma Tributária e a adoção de modelos de arrecadação baseados no consumo, estados que souberem atrair visitantes se tornarão mais competitivos. “Se temos belezas naturais, gente acolhedora e atrativos escondidos, por que não transformar tudo isso em experiências comercializáveis?”, questiona Rigo.

A modalidade de atendimento direto tem sido destaque na estratégia da instituição. Pedro Rigo aponta que esses números comprovam o quanto o Sebrae está apostando no setor turístico capixaba. “Isso mostra que o Sebrae foi direto ao ponto, esteve ao lado do empreendedor, ajudou a virar a chave. A gente motivou, preparou, orientou. E isso se reflete nas experiências que foram fortalecidas e nos territórios que passaram a respirar turismo com mais intensidade”, reforçou.

Turismo ancestral no Norte

 Foto: Reprodução/TV Gazeta

No Norte do Espírito Santo, o turismo de experiência ganha força com a produção artesanal do beiju, uma iguaria tradicional das comunidades quilombolas do Sapê do Norte, localizadas nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra. Feito à base de mandioca, o alimento é preparado com técnicas transmitidas de geração em geração, desde o século XIX. Cada etapa carrega saberes ancestrais que preservam a história e a identidade da região.

Esse selo fortalece o turismo cultural e atrai visitantes interessados em vivenciar o processo completo de produção, desde o plantio da mandioca, respeitando os ciclos naturais, até a fabricação manual nas tradicionais casas de farinha, conhecidas como quitungos.

Mais do que saborear o beiju, a ideia é que o turista possa participar de rodas de conversa, aprender práticas tradicionais e se conectar com a história quilombola local. Para as cerca de 21 famílias envolvidas na produção, o crescimento do turismo de experiência representa uma importante fonte de renda e uma forma concreta de preservar a cultura.

De acordo com a presidente da Associação das Produtoras de Beijú do Sapê do Norte, Domingas Verônica, o turismo de experiência traz uma transformação real para a comunidade. “Com a chegada dos visitantes, nossa cultura ganha visibilidade e nossa economia local se fortalece”, afirma.

Segundo Domingas, a tradição do beiju deixa de ser apenas um hábito familiar e é vivida e valorizada por todos por meio do turismo. “Isso é muito importante para mantermos nossa história viva e oferecer uma nova fonte de renda para as famílias”, explica. 

Essa movimentação está integrada ao Projeto Rota Quilombola, que envolve os municípios de Conceição da Barra, São Mateus e Jaguaré. A iniciativa teve início em 2024, com o Roteiro Negro Rugério, em Conceição da Barra, e atualmente está em fase de atualização. Para 2025, está previsto o início do diagnóstico do Roteiro dos Quitungos, com foco especial na região de Itaúnas.

Segundo a analista da Regional Norte do Sebrae/ES, Gianni Fagundes, o projeto tem como eixo central a transformação sustentável das comunidades. “O objetivo é promover impactos econômicos, sociais e culturais positivos, incentivando o empreendedorismo e a oferta de produtos e serviços turísticos autênticos, como culinária quilombola, artesanato, agroecologia, manifestações culturais e experiências de base comunitária”, destaca.

Ela destaca que a iniciativa, também, fortalece o protagonismo das comunidades e ajuda a preservar sua identidade cultural. Para ela, valorizar os saberes e tradições gera sentimento de pertencimento, contribui para que as famílias permaneçam em seus territórios, e estimula o cuidado com o meio ambiente e com os recursos naturais.

Gianni observa que os turistas estão cada vez mais em busca de vivências autênticas, culturais e sustentáveis.  “O turismo de experiência é uma tendência crescente, por isso, a Rota Quilombola conecta história, ancestralidade, natureza e gastronomia. É um produto turístico com identidade própria que vai aumentar o tempo de permanência dos visitantes e diversificar a oferta além do turismo de sol e praia”, afirma Gianni.

As novas gerações ajudam a manter viva a tradição do beiju (Foto: Reprodução/TVE)

Mesmo em fase inicial, a rota já estimula o surgimento de pequenos negócios e o fortalecimento de associações nas comunidades envolvidas. Segundo Gianni, há um aumento significativo do interesse por capacitações e melhorias na gestão. A expectativa é de crescimento no número de empreendimentos formais, individuais e coletivos. Também, se amplia a oferta de atividades como alimentação típica, artesanato identitário, agroecologia e serviços de apoio ao turista.

O secretário de Estado do Turismo, Victor da Silva Coelho, afirma que o Norte do Espírito Santo tem ganhado atenção especial do governo por sua diversidade natural e riqueza cultural. Ele destaca que a Secretaria tem investido na infraestrutura turística e na valorização de roteiros culturais, históricos e comunitários. “Estamos fortalecendo iniciativas como o turismo de praias, o turismo de experiência nas comunidades quilombolas, nas reservas naturais e nas áreas de pesca artesanal”, explicou. 

Cidades como Conceição da Barra, São Mateus, Linhares e Pedro Canário, segundo ele, estão recebendo apoio tanto na qualificação dos serviços quanto na divulgação dos atrativos. “Nosso compromisso é fazer com que o Norte do estado seja cada vez mais reconhecido como um destino completo, onde o turista vivencia cultura, natureza e tradição”, completou.

Gastronomia afetiva nas Montanhas

Mel e morango para transformar a gastronomia efetiva nas montanhas capixabas (Foto: Júlio Huber)

A comida é uma das formas mais potentes de contar histórias. Nas Montanhas Capixabas, esse princípio tem ganhado força com o crescimento do turismo de experiência, segmento que transforma o cotidiano de pequenos produtores em vivência para visitantes, os quais buscam mais do que belas paisagens e clima ameno. Eles querem se conectar com a essência do lugar. E, muitas vezes, essa conexão acontece pela boca.

A região, formada por dez municípios da região serrana do Espírito Santo, já se consolidou como polo de agroturismo. Com temperatura média amena, ar puro e estrutura de hospedagem cada vez mais qualificada, atrai cerca de 500 mil turistas por ano, segundo dados da Secretaria de Turismo do Estado. Mas é fora dos roteiros tradicionais que um novo tipo de turismo vem se destacando: aquele que une afeto, história e sabores.

A chamada gastronomia afetiva, conceito que valoriza a relação emocional com a comida, virou aposta de empreendedores locais que transformam saberes de família em produtos com identidade. Em vez de somente vender, eles convidam o turista a participar: colher, provar, ouvir, lembrar.

Arno Wiering já foi premiado por boas práticas no turismo brasileiro (Foto: Júlio Huber)

No Apiário Florin, em Domingos Martins, o apicultor Arno Wieringa leva esse conceito ao pé da letra. O mel que produz não é somente um alimento, mas parte de uma narrativa que começa nas flores e termina na memória de quem prova. “Quando o turista experimenta, ele sente mais do que o sabor. É um resgate de lembranças da infância, da casa da avó, do sítio”, afirma.

Arno percebeu que, para valorizar esse diferencial, precisaria ir além da produção. Por isso, buscou capacitação no programa Acelera Turismo, oferecido com apoio do Sebrae. Com foco em gestão, planejamento e posicionamento de mercado, ele passou a enxergar o apiário como uma marca com propósito. “Não basta só divulgar. Se você não sabe seu ticket médio, não tem metas, nem nicho definido, o marketing fica solto, sem direção”, explica.

A aposta deu certo. Em 2024, o Apiário Florin foi premiado no Prêmio Braztoa de Sustentabilidade, que reconhece boas práticas no turismo brasileiro. O reconhecimento nacional confirmou o potencial da proposta: oferecer uma experiência sensorial e emocional, conectando o produto à história de vida do consumidor.

Histórias como a de Arno se repetem em diferentes cantos da região. Em Pindobas, zona rural de Venda Nova do Imigrante, a produtora Jaqueline Amabile Andreão transformou o próprio sítio em ponto turístico.

Aquilino Andreão e Marai Dalva, pais de Jaqueline, são propietários do Angar Sítio Jaboticabeira (Foto: Arquivo Pessoal)

À frente do Angar Sítio Jaboticabeira, ela recuperou receitas da infância para criar um cardápio que mistura tradição e identidade. “O pé de moleque de macadâmia é o mesmo que minha mãe fazia. As geleias, a goiabada cascão… tudo vem da nossa cozinha de família. E quem prova sente isso”, diz.

Com apoio técnico do Sebrae, Jaqueline reestruturou a identidade visual dos produtos, apostou em embalagens mais atrativas e passou a contar a história de cada item. “Hoje o rótulo chama atenção, mas o mais importante continua sendo o que tem dentro: sabor e afeto.”

Outro exemplo vem de Castelo, onde a produtora Joelma Kuster comanda o Empório do Morango. A propriedade, que antes se limitava ao cultivo da fruta, virou destino turístico com a implantação do sistema “colha e pague”. 

A produtora Joelma Kuster comanda o Empório do Morango (Foto: Reprodução/Instagram @mporiodomorangofornogrande)

Lá, o visitante entra na plantação, escolhe os próprios morangos e, de quebra, vivencia o dia a dia no campo. “Quando a pessoa colhe o próprio morango, ela sente que faz parte daquilo. É diferente de pegar uma caixa no supermercado. Tem cheiro de infância, de passeio em família”, diz Joelma.

Além da experiência rural, o espaço oferece cafeteria, refeições, sobremesas e produtos artesanais como geleias, doces e licores. Tudo feito com a fruta e um toque de lembrança. “A gente nota que o que mais encanta o visitante é essa conexão emocional. Eles lembram da infância, da roça, da mãe. E isso cria vínculo com a marca.”

Joelma, também, buscou apoio do Sebrae e da Secretaria de Turismo de Castelo para se profissionalizar. Agora, planeja investir mais no marketing digital e expandir a presença da marca nas redes sociais. “O futuro é digital, mas o coração do nosso negócio é afetivo. Queremos crescer, sim, mas sem perder a essência do que somos”, conclui.

Caparaó será maior rota de montanha do Brasil

Sete Cumes abre novos caminhos para fazer do Caparaó a maior rota de montanha do Brasil (Foto: Reprodução/Instagram @ecotrilhasbrasil)

O Parque Nacional do Caparaó é uma das maiores e mais impressionantes áreas protegidas do Espírito Santo compartilhadas com Minas Gerais. Abriga os cumes mais altos da região, entre eles o icônico Pico da Bandeira. Em seu território, a Mata Atlântica preservada convive com campos de altitude, formando paisagens únicas e exuberantes.

É nesse cenário majestoso que nasce a Travessia dos Sete Cumes, uma rota inédita no país, com lançamento previsto para 2026. Com cerca de 60 quilômetros de extensão, a travessia vai interligar os principais picos do Caparaó capixaba, passando pelos municípios de Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Ibitirama e Iúna.

Articulado por instituições públicas e privadas, entre elas o Sebrae/ES, o projeto está em fase de estruturação e já envolve mais de 150 pequenos negócios locais. A proposta é criar a maior e mais bem organizada travessia de montanha do Brasil, com trilhas sinalizadas, hospedagens integradas ao trajeto, gastronomia local e experiências culturais ao longo do caminho.

O percurso terá nível dois de dificuldade, uma classificação inédita entre rotas brasileiras. Isso representa um desafio técnico para montanhistas experientes, comparável a trilhas internacionais, como as da Aconcágua, na Argentina e do Everest, no Nepal, com a vantagem de estar no território nacional.

Em Patrimônio da Penha, cursos sobre cafés especiais são oferecidos a turistas (Foto: Arquivo Pessoal)

O guia turístico e fundador da agência Eco Trilhas Brasil, Jorge Adriano Peixoto de Oliveira, destaca que o turismo no Caparaó vem se fortalecendo há quase duas décadas. “Em 2005, abri minha agência e comecei a profissionalizar o turismo na região. Hoje, oferecemos passeios que vão muito além da bicicleta, incluindo trilhas, cachoeiras, acampamentos e experiências gastronômicas.”

Para Jorge, o principal desafio é dar visibilidade ao Caparaó em âmbito nacional. “Quando as pessoas chegam aqui, ficam encantadas com a estrutura, a natureza e a cultura local. Nosso objetivo é levar essa percepção para fora, fazendo do Caparaó um dos principais destinos de turismo de natureza do país.”

Ele ressalta que a Travessia dos Sete Cumes vai movimentar a economia local e consolidar a região como referência em turismo de natureza “As pessoas não querem mais só subir o Pico da Bandeira. Elas desejam conversar com quem vive aqui, provar o café da roça, aprender como se faz um doce de leite. A Travessia dos Sete Cumes surge desse desejo por pertencimento.”

Gabriel França e a sobrinha de sete anos, Dominique Tellels, curtiram três dias de experiências em Divino de São Lourenço/ES (Foto: Arquivo Pessoal)

Quem já viveu a experiência no Caparaó confirma a riqueza do destino. O estudante Gabriel França da Silva, de Vitória, visitou a região, em 2022, e encantou-se com as cachoeiras, as trilhas e a comunidade local. “Subi várias trilhas, conheci cachoeiras e me hospedei com moradores. A conexão com a natureza e a cultura do lugar é muito forte. Tudo é muito verdadeiro, desde o café até a forma como as pessoas cuidam do meio ambiente.”

Além de colocar o Caparaó no mapa como polo de turismo de aventura e de experiência, a Travessia dos Sete Cumes já contribui para a geração de empregos. Segundo o Painel Economia do Turismo da Secretária Estadual de Turismo, o número de admissões na região passou de 43, no segundo trimestre de 2021, para 118, no segundo trimestre de 2024.

Nesse período, o setor alimentício foi responsável pelo maior crescimento em contratações. Com o circuito consolidado, a expectativa é que o destino atraia visitantes de todo o Brasil e do mundo, aquecendo ainda mais a economia local.

Segundo o secretário de Estado do Turismo, Victor da Silva Coelho, o Caparaó Capixaba vem se destacando no fortalecimento do turismo sustentável. Um dos marcos desse avanço é a realização, em maio deste ano, do 2º Fórum Caparaó Sustentável, em Jerônimo Monteiro, que reuniu poder público, iniciativa privada, universidades e sociedade civil para discutir o desenvolvimento regional com foco em turismo, saneamento e sustentabilidade.

“A Secretaria tem investido na qualificação dos atrativos, sinalização turística, fortalecimento das rotas regionais e capacitação dos empreendedores locais”, afirma. O objetivo, segundo ele, é consolidar o Caparaó como referência em ecoturismo e turismo de natureza, valorizando as belezas do parque nacional, a cultura local, a gastronomia e a hospitalidade capixaba.

Essas iniciativas mostram que o turismo de experiência no Espírito Santo vai além do lazer: é um caminho para preservar culturas, fortalecer comunidades e gerar renda local. Ao conectar visitantes às histórias, sabores e tradições de cada região, o Estado cria um turismo mais autêntico e sustentável, com potencial para crescer e se consolidar como uma importante fonte de desenvolvimento social, cultural e econômico.

R$ 50 milhões no turismo até 2026

Ao mesmo tempo em que movimenta a economia local, esses negócios preservam saberes, incentivam a sucessão rural e oferecem ao turista uma vivência que vai além do consumo.

A iniciativa inclui programas de capacitação e apoio a pequenos negócios turísticos em diversas frentes, como cursos, workshops, missões técnicas, consultorias e atendimentos personalizados. A proposta é beneficiar centenas de empreendedores, estimulando a economia capixaba e promovendo o desenvolvimento regional de forma sustentável.

Segundo o diretor técnico do Sebrae/ES, Eurides Pedrinha, a meta é tornar os negócios locais mais competitivos e preparados para atender às novas demandas do setor. “O turismo é uma das grandes vocações de várias regiões capixabas, mas para que ele gere emprego e renda de forma sustentável, os empreendedores precisam estar preparados”, destacou.

Entre os focos das ações estão os setores de hotelaria, gastronomia e turismo de experiência, considerados fundamentais para atrair visitantes e prolongar sua permanência nas regiões turísticas, promovendo vivências enriquecedoras e duradouras para os turistas e para quem os recebe.

Mapa do Turismo 2024 foi atualizado e passou a incluir 61 municípios capixabas distribuídos em nove Regiões Turísticas (Imagem: SETUR)

O secretário de Estado do Turismo, Victor da Silva Coelho, reforça que o Espírito Santo vive um momento promissor no setor. Segundo ele, a estratégia da Secretaria tem sido atuar com base em três pilares: infraestrutura, qualificação e promoção dos destinos.

“São investimentos que vão desde o fortalecimento de roteiros consolidados, como o Caparaó e as Regiões de Montanhas, até o desenvolvimento de novos polos, como o Norte capixaba, que cresce com o turismo cultural, de natureza e de base comunitária”, explicou. 

Ele também destaca a importância de debate e a inovação no setor. “Olhando para o futuro, estamos apostando cada vez mais em um turismo sustentável, inovador e conectado, que gere emprego, renda e qualidade de vida para os capixabas, além de oferecer experiências autênticas e transformadoras para quem nos visita. Nosso estado está preparado para crescer no turismo, valorizando suas raízes e suas potencialidades”, finalizou.