Chevetalks: Intimidade, Humor e Reflexão no assento de um Chevette
“Oii, eu sou o Patrick Maia e eu não tenho carro, eu tenho o Chevette 1978, todo original, motor carburado, tração traseira… Lindo né?! Seria mais legal ainda se ele andasse, mas como ele nem sempre anda, eu pensei em dar um outro uso para ele. Como? chamando uma turma boa pra trocar ideia comigo dentro dele, parado no estacionamento, porque assim como o carro, o papo não vai à lugar algum. Esse é o “Chevetalks”, no meu canal.”

Mirela Rodrigues Machado
Conheça o proprietário do carro
Patrick Maia é comediante, autor e músico, atualmente um dos projetos é o Chevetalks, com episódios novos terça e sexta e “Desmanche” todos os dias. Consiste em um podcast dentro de seu Chevette 78, um clássico da indústria automotiva brasileira.
Lá ocorrem conversas descontraídas com diversos convidados, como Whindersson Nunes, Thiago Ventura, Rafinha Bastos, Clóvis de Barros Filho, Sophia Abrahão e mais. O formato único e criativo se destaca, com uma abordagem intimista e espontânea que se tornou uma marca registrada do programa, o papo é cheio de surpresas e reflexões.
Confira como foi a conversa do EP #48
O bate-papo é com o Gregório Duvivier, escritor, humorista, ator e fundador do canal Porta dos Fundos, um dos maiores canais de humor do Brasil. O assunto não poderia ser outro: O papel do humor na sociedade.
Temas proibidos
O ator diz gostar de assuntos censurados. “O humor, às vezes, é a única maneira de abordar questões que são impossíveis de discutir, como morte, miséria e desigualdade. Claro que alguns comentam, até porque não dá para brincar com isso, mas há tópicos que só podem dizer brincando, já que são tão sérios”, explica Gregório.
Duvivier pontua que apresentar pautas delicadas com músicas, teatros e filmes é considerado apropriado, mas quando explorado pela comédia, é algo inaceitável e profano. “Não se brinca com isso. Não se faz piada com isso! Qual o problema da piada?“, ele questiona.
A satírica e o divino
Patrick pergunta se considera o Brasil muito fanático. Para o humorista, o país tem uma cultura conservadora em respeito à fé das pessoas, prolonga ao declarar que a sociedade considera o sagrado dos outros universal, porém é pessoal.
Durante a temática, analisa em que todos os lugares ocorre constante menção a divindade, como Bolsonaro ganhou e disse “Deus acima de tudo”, Lula venceu e citou “Agradecer a Deus em primeiro lugar”. Complementa ao citar que em lugar de fazer uma escola, é construída uma igreja.
O fundador do Porta dos Fundos ainda destaca algumas incoerências. Para ele, se cogitamos construir a estátua de um Orixá igualmente à do Cristo Redentor, a população fica escandalizada. Existe religião com canal aberto de TV. Há um vídeo do jornalista Datena dizendo que um homem cometeu um crime por não ter Jesus no coração. A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) o processou por intolerância.
O humor é relevante?
“O humorista é um cara que tem importância demais para ser preso, mas não o bastante para ser solto”, afirma Duvivier. Segundo ele, no Brasil, a primeira pessoa a ser punida é o comediante. Não procuram os políticos, pois são poderosos demais e tampouco grandes empresários, visto que são muito ricos.
“Eu acho que a arte tem um papel social, mas às vezes tem que esquecer que tem. Não há nada pior para o humorista que a auto importância, achar que tem uma importância mesmo que tenha, saber que tem estraga, pois o fundamental para o palhaço é a irrelevância, a ignorância e a pureza, sem vaidade.”
Indiferença climática e a governança
Ao ser questionado sobre qual a sensação de estar preparando suas filhas para o mundo, o ator relata sentir-se apavorado. ”Desejo que elas vivam bem, então passei a ficar obcecado com o Colapso Climático. E quem fará a diferença são elas, porque a geração anterior têm cinismo e apatia em relação ao clima”. Na visão de Duvivier, os governantes Biden/Trump e Bolsonaro/Lula supõem não ser o fim do mundo iniciando.
Gregório Duvivier, por fim expressa preferência em inserir a gestão nas mãos da juventude, que de acordo com ele, dispõe de maior conhecimento do que está por vir. Encerra com o pensamento de que, na política atual, os envolvidos votam e governam para si e isso aumenta a divisão.
A influência de diálogos raramente explorados e a criatividade nas mídias
Transmissões como o Chevetalks têm responsabilidade fundamental na propagação de interações íntimas, bem-humoradas e reflexivas, com temas relevantes e provocativos. Os episódios têm originalidade, que se torna uma estratégia poderosa para debater matérias de peso. Vale a pena conferir!