‘Setembro é tempo de …’ – Autoestima e Equilíbrio da Saúde Mental

Trazer à tona temas como autoestima e dependência emocional são fundamentais para a compreensão dos problemas que muitas pessoas enfrentam nas relações pessoais e na formação de uma personalidade sadia

(Imagem: Núcleo de Publicidade do LACOS/Alyson Ferreira)

Danilo Muniz

Este texto faz parte de uma série de conteúdos destinada a promover o ‘Setembro Amarelo’. A ideia é conscientizar a sociedade sobre a importância que cada vida tem e, ainda, ajudar na prevenção ao suicídio. Confira os conteúdos da série idealizada pelo Lacos – “Setembro é tempo de …”: “História e Importância do Setembro Amarelo” e “Inclusão e Acolhimento” e “Rede de Apoio para Pessoas com Depressão”

O Setembro Amarelo trata da valorização e também de qualidade de vida. O autocuidado está atrelado a percepção que a pessoa tem de si e a autoestima contribui para a saúde mental, fortalecendo vínculos sociais saudáveis. A baixa autoestima distorce a imagem pessoal, podendo refletir em transtornos alimentares, quadros depressivos e de não-aceitação, mas, em especial, relacionamentos no qual há uma relação de dependência emocional.

A autoestima, então, é influenciada por diversos fatores internos e externos. Seja a comparação – a percepção de melhor ou pior que leva a autocobrança – ou experiências vividas, que definem a autoavaliação positiva ou negativa. De tal maneira dependência emocional e autoestima estão intrinsecamente ligadas da mesma forma que duas faces da mesma moeda. Uma autoreprovação sustenta a dependência emocional, que por sua vez pode enfraquecer a confiança em si. 

A busca incessante por aprovação reflete nas tomadas de decisões baseadas em opiniões de terceiros. A submissão afetiva instaura a razão da existência de uma pessoa a outra. Um exemplo é um recém-nascido que depende de adultos para sobreviver. Essa dependência reforça a ideia de incapacidade de cuidar de si e faz a pessoa se sentir inferior. 

(Imagem: Freepik)

Uma pesquisa realizada na Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido, revelou que o Brasil ocupa a 10° posição de país com menor confiança corporal. Na sociedade atual existe uma busca pela perfeição que têm elevado os alertas dos perigos do excesso de procedimentos estéticos. Segundo dados divulgados pela  Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) mais de 1,5 milhão de procedimentos estéticos são realizados no Brasil anualmente. 

A pesquisa realizada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), em 2020, expôs que o Brasil está em segundo lugar no ranking mundial de realizações de cirurgias plásticas. O estudo traz também que 61,8% das mortes no país ocorreram – em 2020 – devido somente à lipoaspiração. Exemplo do caso da influenciadora digital e modelo Luana Andrade que morreu, em 2023, após uma lipoaspiração realizada no joelho.

O filme Barbie, lançado no ano passado, trata de maneira geral assuntos sobre autoestima, dependência emocional e padrões sociais. Na obra cinematográfica é apresentada versões opostas da boneca: a barbie estereotipada e a barbie ‘’estranha’’ – como é conhecida na Barbieland. A personagem de Margot Robbie é querida e saudada por onde passa, diferente da personagem de Kate McKinnon que vive isolada e se sentindo deslocada.

Cena do filme Barbie. Barbie Estereotipada e Barbie Estranha (Foto: Reprodução/WanerBros)

Na trama, o personagem Ken existe em função da Barbie. Em diversos momentos o boneco tenta chamar a atenção da figura principal, inclusive seguindo ela no mundo real. Ideia é evidenciada no slogan: ‘’Ele é só o Ken’’. Uma vez instrumentos para estudos sociais, as obras de entretenimento servem para analisar condutas,  refletindo as dinâmicas culturais, sociais e psicológicas que moldam a vida cotidiana.

A fundadora da plataforma de atendimento psicológico online Terapize e psicóloga clínica, Ana Rubia Cunha Papi, explica que a autoestima é fundamental para a percepção e valorização pessoal, formando a base de pensamentos, sentimentos e experiências. Ana Rubia afirma que a autoestima impacta diretamente a forma como enfrentamos desafios, mantemos relações e tomamos decisões.

Uma autoestima saudável nos ajuda a lidar melhor com frustrações, a manter relações equilibradas e a buscar nossos objetivos com mais segurança e confiança. Quando a autoestima está fragilizada, pode afetar tanto o bem-estar emocional quanto a forma como vivemos nosso dia a dia, limitando nosso potencial. 

Ana Rubia
A fundadora da plataforma online Terapize Ana Rubia Cunha Papi (Foto: Arquivo Pessoal)

A conexão entre autoestima e dependência emocional é expressiva. Uma autoestima fragilizada pode levar a uma busca constante por validação externa, resultando em dependência emocional. De acordo com a psicóloga, neste caso, a pessoa pode colocar a felicidade nas mãos dos outros, acreditando que será completa ou amada apenas se atender às expectativas externas. Ela considera essa dinâmica prejudicial. “A pessoa passa a ignorar suas próprias necessidades e desejos, vivendo em função do outro, o que acaba reforçando um ciclo de insegurança e baixa autoconfiança”.

Em contraste, uma autoavaliação saudável garante autonomia emocional, permitindo que a pessoa reconheça o próprio valor sem depender do reconhecimento ou aprovação alheia. Ana Rubia afirma que a dependência emocional geralmente está ligada a vivências anteriores que impactaram negativamente a autoestima e a autoconfiança. Ela cita alguns dos casos comuns que tratou na experiência clínica.

Outra causa comum são os relacionamentos abusivos, nos quais a pessoa é manipulada a acreditar que precisa do parceiro para ser feliz ou completa. Também vejo casos em que a dependência surge como resultado de traumas emocionais, como perdas, rejeição ou abandono, que fazem a pessoa se sentir insegura e desesperada para evitar que essas situações se repitam

Ana Rubia

Redes Sociais

As redes sociais têm se mostrado cada vez mais presentes na vida das pessoas. A influência produzida no ‘’ciberespaço’’ reflete na comparação de realidades e procura persistente por um padrão estabelecido. Ana Rubia explica que da mesma maneira que as plataformas podem ser maléficas também podem ser benéficas, desde que usadas com sabedoria. O importante é lembrar de usar as redes sociais com consciência, equilibrando a exposição com momentos de introspecção e autocuidado para que elas se tornem uma ferramenta que reforça, e não diminui, a autoestima”.

A fundadora do Terapize recomenda dedicar tempo ao autoconhecimento, aceitando tanto os pontos fortes quanto os pontos para melhorar. Ela salienta que é importante também desafiar pensamentos negativos, questionando sua verdade, substituindo-os por pensamentos positivos. Ana Rubia cita também que estabelecer e respeitar limites pessoais, reconhecer pequenas vitórias diárias e investir em autocuidado são práticas que contribuem para uma vida mais saudável.

Melhorar a autoestima é como um trabalho de amor com nós mesmos … A cada passo que você dá nessa jornada, você está construindo uma relação mais forte e amorosa com você mesmo

Ana Rubia

Todos os dias o foco deve ser a saúde mental. É fundamental refletir sobre a importância do equilíbrio emocional e cuidado psicológico. Cuidar da autoestima é  essencial para promover um bem-estar. Ao fortalecer a autopercepção, consegue-se construir uma base sólida para a saúde mental, estimulando um estado de harmonia que beneficia uma vida satisfatória.


Edição: Danilo Muniz

Imagem do Destaque (Home): Núcleo de Publicidade do LACOS/Alyson Ferreira