Opinião – ‘Love & Pop’: entre a abordagem sensível e a mensagem necessária

Love & Pop” é um filme japonês que, ao abordar temáticas sensíveis e consideradas tabus para a sociedade japonesa, traz uma abordagem muito sincera sobre o tempo e o valor da vida

“Love & Pop” apresenta uma visão de mundo positiva em volta de cenas e temas desconfortantes (Foto: Divulgação)

Love & Pop” (1998) aborda assuntos considerados sensíveis: pedofilia, assédio sexual e violência psicológica. Se você se sente desconfortável com essas temáticas, o recomendado é que evite a leitura desse texto e, principalmente, não veja o filme que será resenhado nesse conteúdo.

Janderson Vicente Júnior

Love & Pop” (1998) é um filme japonês dirigido pelo diretor e animador japonês Hideaki Anno e adaptado da obra “Tokyo Decadence” escrita por Ryu Murakami. A protagonista da história é a colegial Hiromi Yoshii que, junto com um grupo de amigas, exerce o Enjo Kōsai (relacionamento remunerado), prática em que colegiais realizam encontros com homens mais velhos e, ocasionalmente, relações sexuais em troca de dinheiro.

Logo no começo da trama Hiromi apresenta ao público a própria percepção de que nada na vida é eterno, tudo é passageiro. Por isso, com o auxílio de uma câmera fotográfica, registra momentos dela com o grupo de amigas para que esses momentos efêmeros se tornem, pelo menos em foto, duradouros.

Por ter esse pensamento Hiromi sente que a vida dela é incompleta e que é completamente incapaz de manter os próprios sentimentos “vivos” por muito tempo. Ela se agarra emocionalmente às amigas e, na metade do filme, a um anel que a submete a uma série de acontecimentos desconfortáveis, mesmo tendo ciência de que, como em outras ocasiões, o apreço depositado nelas e no acessório acabará sumindo.

Yosshi e as outras personagens do filme são abordadas em momentos diferentes por homens mais velhos que desejam sair com elas em troca de dinheiro. Ainda com cenas que apresentam adultos saindo com menores de idade, o clima do longa-metragem permanece tranquilo na medida do possível. Contudo, ao passar do tempo, essa “tranquilidade” dá lugar a cenas pontuais que causam estranhamento e desconforto.

A reta final de “Love & Pop” é o epicentro de toda a agonia que a produção é capaz de criar. Após exibir momentos tensos e angustiantes, a obra apresenta uma mensagem sincera e positiva à protagonista e ao público de que, mesmo diante de situações, sentimentos e pensamentos ruins, sempre há alguém que se preocupa com você e isso é um motivo para sempre seguir em frente.

Por que assistir “Love & Pop?”

Love & Pop” é uma experiência única e muito diferente, principalmente, para os telespectadores acostumados a somente consumir produções em audiovisual ocidentais. O filme, além de aparentar ser uma produção amadora, utiliza constantemente ângulos de câmera de baixo para cima que podem, intencionalmente, causar desconforto ao telespectador.

É verdade que a obra de Hideaki Anno aborda temas delicados, mas em nenhum trecho o diretor busca romantizar e normalizar a situação passada por Hiromi Yosshi e as outras personagens. A todo momento, Anno busca representar no longa-metragem uma sociedade japonesa que regularmente finge não ver os problemas enraizados na própria cultura.

A criação de Hideaki exige do público uma atenção total à trama e o incentiva a pensar sobre o conteúdo que está sendo apresentado. Da mesma forma que em outras produções do diretor e animador japonês, “Love & Pop não possui apenas um significado ou mensagem. Isso contribuí para que o filme “converse” de maneira especial e individual com cada telespectador.


Pôster de “Love & Pop” (1998)

Ficha técnica

Filme: Love & Pop

Gênero: Drama

Diretor: Hideaki Anno

Adaptação: Tokyo Decadence

Elenco: Asumi Miwa, Hirono Kudō, Yukie Nakama, Kirari Toyomoto, Tezuka Toru e Tadanobu Asano

Disponível: Atualmente, o filme não está presente em nenhum streaming do Brasil

Duração: 1 hora 52 minutos e 12 segundos


Edição de texto: Janderson Vicente Júnior

Imagem do Destaque da Home (Capa): Arte feita pelo Núcleo de Publicidade/Bruna Firmes