O Futuro das Cidades Capixabas com a Produção de Energias Renováveis
Energias Renováveis se tornam uma “ferramenta poderosa” para impulsionar a gestão das cidades do futuro à medida que o conceito “Smart Cities” se desenvolve no Espírito Santo
Bruno Caetano
Com o rápido crescimento das áreas urbanas, em um cenário global cada vez mais desafiador, as cidades capixabas estão tendo que lidar com os impactos ambientais e sociais nos planejamentos urbanos. A ascensão das tecnologias verdes, como usinas solares fotovoltaicas e parques eólicos, surge como uma opção para os municípios do Espírito Santo lidarem com as demandas energéticas.
No Espírito Santo, diversos projetos estão à frente dessa transformação em busca de soluções que tornem as cidades mais eficientes e sustentáveis. Esse movimento é impulsionado pelo conceito de “Smart Cities” ou “Cidades inteligentes”, que usa tecnologia e a inovação para melhorar a qualidade de vida dos habitantes de forma inteligente, eficiente e sustentável.
Pode-se imaginar que o conceito é inalcançável, mas a tecnologia já está presente na rotina dos cidadãos e tem contribuído para a urbanização das cidades, especialmente com a ascensão de energias renováveis nos últimos anos. No Estado, a tendência nas governanças já está se consolidando e obtendo êxito nas em iniciativas públicas.
O relatório publicado pela ONU-Habitat, em 2022, apontou que 68% da população mundial será urbana até 2050. Para isso, as cidades devem se ajustar ao crescimento. Desse modo, uma solução seriam as “Smart Cities” as quais se baseiam também em estruturas de energias renováveis para que todas as necessidades energéticas da cidade sejam atendidas de forma sustentável. Isso inclui a implementação de tecnologias que, além da aceleração do planejamento urbano, monitoram dados para prevenir, otimizar, melhorar e se adaptar a fluxos urbanos de energia, clima e gestão de riscos a desastres naturais
O especialista em planejamento urbano e Presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira, explica que sistemas de energias renováveis desempenham um papel importante na promoção da sustentabilidade em cidades inteligentes em razão de incorporar soluções em parques eólicos, painéis solares, biomassa, bem como reduzindo a necessidade de grandes áreas de solo para geração de energia. Lira destaca que para um desenvolvimento arquitetônico inteligente o uso dessas soluções se faz necessário para respeitar a sustentabilidade, a inclusão e o protagonismo comunitário aliados a uma em uma gestão inovadora.
Os dados sobre o crescimento populacional, já fornecidos, contribuem para o pensar de políticas públicas e a gestão das cidades do futuro. Pensar nisso implica em planejar um desenvolvimento urbano que incorpore soluções de energia renovável para promover um um desenvolvimento urbano mais limpo e eficiente
Pablo Lira
Energeticamente Inteligente
O Espírito Santo é um dos estados brasileiros que se destaca no cenário de Smart Cities. O Ranking Connected Smart Cities (CSC) de 2023, o qual analisa diversos municípios brasileiros em desenvolvimento, apontou Vitória como a sétima cidade mais Inteligente do País. Outras três cidades, Vila Velha (29°), Linhares (65°) e Serra (66°), figuram entre as 100 mais bem posicionadas do Brasil. Esse destaque se dá pelo Governo do Estado que tem investido nas demandas por desenvolvimento tecnológico e sustentável dos municípios capixabas.
Em 2021, foi lançado o programa ES Inteligente, uma parceria do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) e o Governo do Estado, para incentivar projetos municipais de infraestrutura público-privada. Além de financiar investimentos em sistemas fotovoltaicos para empresas, o banco também atua com um parceiro para a estruturação, desenvolvimento e viabilidade de usinas solares fotovoltaicas nos municipios para cobrir demandas energéticas das edificações públicas e iluminação pública.
O especialista em tecnologia e Gerente de Negócios do Bandes, Vilker Zucolotto, explica que a ideia do programa é trazer soluções sustentáveis para a infraestrutura dos serviços urbanos. Vilker afirma que os municípios têm se tornado cada vez mais conscientes de que é importante ter uma cidade inteligente e que as usinas fotovoltaicas têm sido a primeira tendência de incorporação nos setores públicos.
Para Vilker Zucolotto, a principal contribuição é na redução das emissões de carbono, principal meta do Governo brasileiro e do Espírito Santo que pretende até 2050 zerar a emissão de carbono. Com as usinas fotovoltaicas, Vilker Zucolotto entende que os municípios dão um passo a mais em direção à autonomia energética para, assim, tornar-se mais acessíveis e evoluídas para os habitantes.
As cidades inteligentes somente fazem sentido quando se revertem em benefícios amplos para a para a sociedade
Vilker Zucolotto
Mercado de Energias Renováveis
O mercado atual compreende o modelo de “Smart Cities” cada vez mais como um negócio rentável e com potencial nos planejamentos urbanos das cidades. Dessa forma, surgem ideias inovadoras, como é o caso da empresa Endelevo, cujo objetivo é apresentar soluções em construções sustentáveis para edificações energeticamente eficientes por meio de projetos que conectem jardins verticais, reformem fachadas e gerem energia solar.
O engenheiro civil e fundador da Endelevo, João Vitor Freire, afirma que o mercado de Smart Cities apresenta uma alta perspectiva de crescimento. Com isso, ele viu uma oportunidade de negócio a qual permite a integração de energias renováveis nas grandes cidades. O engenheiro também destaca que as placas solares têm sido uma solução eficaz para enfrentar os desafios energéticos das cidades modernas. Por meio das placas ocorre o fornecimento de uma fonte limpa e eficiente de energia a baixo custo, proporcionando ajuda aos setores a aderirem ao modelo e, com isso, buscar novas oportunidades sustentáveis.
João Vitor Freire ressalta, também, que, para maximizar os impactos das energias renováveis, é essencial a fomentação pelas políticas públicas as quais acelerem a adoção dessas tecnologias. Ele acredita que a integração da energia solar nas cidades inteligentes pode transformar a forma como as pessoas entendem e vivem nas áreas urbanas, criando, assim, um ambiente funcional, como uma extensão da própria casa em harmonia com o meio ambiente.
Incentivo a Projetos
Como parte da política pública de promoção da sustentabilidade e inovação tecnológica, o Parque Cultural Casa do Governador agora abriga o projeto “Árvores Solar”, uma iniciativa inovadora que busca gerar energia limpa, bem como promover o urbanismo inteligente no Espírito Santo. Quem visitar o espaço pode usar um aplicativo dedicado, ainda, a fornecer informações adicionais sobre o projeto, além de outras inovações tecnológicas.
Esse projeto capixaba, desenvolvido pelo Centro de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento do Espírito Santo (CPID) em colaboração com o Laboratório de Telecomunicações da Universidade Federal do Espírito Santo (LabTel/Ufes), conta com seis metros de altura e 21 placas solares, em formato de folhas alongadas e que pode abastecer até duas casas. Durante dois anos, o protótipo da “Árvore Solar” foi desenvolvido com uma verba governamental de R$ 3 milhões e investimentos empresariais para se tornar um produto comerciavel nos próximos meses.
O coordenador do CPID, Paulo Rocha, explica, em razão de ser um protótipo com funcionalidades que vão além de um sistema fotovoltaico tradicional, a “Árvore Solar” possui um alto valor agregado em aspectos culturais, tecnológicos e educacionais para as cidades. “A inspiração nas formas naturais e a aplicação de tecnologias de ponta demonstram como é possível combinar sustentabilidade energética e inovação, oferecendo à sociedade uma nova perspectiva sobre a produção de energia”, comenta Paulo Rocha.
A escolha do Parque Cultural Casa do Governador como local de instalação da “Árvore Solar” não foi por acaso. O espaço, que já é um importante centro cultural do Estado, torna-se agora um palco para a educação ambiental e a valorização da tecnologia.
A pesquisadora do CPID Lohane Barcelos Palaoro vê a escolha do local como uma oportunidade para promover informações sobre necessidades energéticas. “O projeto reflete nossa interação com o ambiente e a qualidade dos espaços construídos. Além disso, introduz uma abordagem inovadora na geração de energia elétrica para os capixabas”, explica.
Residências Capixabas
A adoção de sistemas de energia solar, também, tem entrado no gosto da população capixaba e se tornado uma opção, cada vez mais, nas residências. O estudante de Direito e morador de Cariacica Daniel Oliveira é um dos moradores que optou por instalar placas solares onde reside para reduzir os gastos com ar condicionado, chuveiro e outros eletrodomésticos.
Segundo o estudante, a economia gerada já representa 60 a 70% nos gastos com energia de duas casas que possui. “No mês passado, minha produção de energia atingiu 990w. O ganho tem sido cada vez mais rentável no meu orçamento doméstico”, afirma Daniel.
Daniel não é o único que optou por ganhar economia de energia. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), cerca de mais de 8 mil consumidores já possuem esses sistemas instalados em telhados e pequenos terrenos.
A crescente procura se deve, em grande parte, à queda nos preços de equipamentos, com uma diminuição de cerca de 40% ao longo de 2023. Dados de uma das franqueadoras de energia solar, a Portal Solar, destacam que a redução nos preços médios dos painéis solares tem tornado a tecnologia mais acessível para a população. Hoje, o número de consumidores residenciais já representa 75% dos sistemas de energia solar instalados no Brasil.
Para as franqueadoras, a opção por energia solar não é uma tendência passageira. A economia financeira imediata chama atenção do público, mas o investimento quase nulo em manutenção, aliado a vida útil longa do produto, faz com que cada vez mais adentre as casas dos capixabas e gere oportunidades de negócio no estado.
Edição: Bruno Caetano
Foto do Destaque: Bruno Caetano
Fotomontagem do Destaque: Bruno Caetano