O Negócio é Ser Patroa
Mulheres Empreendedoras provam que o Negócio é Ser Patroa. Sete histórias e sete patroas. Os relatos apresentados ao longo da reportagem carregam a superação, a coragem, a força de vontade e uma coisa em comum: o desejo de transformar a vida
José Modenesi, Loren Peterli e Karol Costa
Em um mundo que está em constante mudança e na busca de um futuro mais justo, humanizado e inspirador, o empreendedorismo feminino surge como uma força poderosa e transformadora que impulsiona o crescimento econômico, desafia estereótipos e cria oportunidades para a sociedade. O empreendedorismo feminino é, ainda, um poderoso instrumento de empoderamento e transformação social para que as mulheres alcancem a independência financeira, tomem decisões sobre as próprias vidas e contribuam para o bem-estar da sociedade.
A cientista social Rafaela Uliana defende que o empreendedorismo ultrapassa as barreiras do mercado. Ela explica que empreender é ter uma ideia e colocar em prática. A partir dessa ação, o foco e o planejamento se tornam essenciais para que o negócio seja um sucesso.
A gente pode pensar que a ideia mais ampla de empreender é o empreender na vida
Rafaela Uliana
Ao falar sobre as mulheres no empreendedorismo, Rafaela lembra que muitas delas precisam dar conta das despesas familiares sozinhas, sem nenhum tipo de ajuda externa. É diante dessa realidade que inúmeras mulheres encontram no empreendedorismo o caminho para transformar a própria realidade.
Em muitos casos, o emprego formal não se mostra disponível e elas precisam ofertar o próprio serviço para conseguir suprir as necessidades da casa. Além dessas questões, Rafaela traz ainda a realidade do Brasil e faz um paralelo com a ação de empreender como uma necessidade para as mulheres brasileiras. “É uma necessidade. Para muitas, é a forma que elas têm de sobreviver e manter a vida dos seus filhos”, explica.
A cientista social explica também que empreendedorismo feminino, quando se torna realidade na vida de uma mulher, impacta toda a rede de pessoas ao redor dessa mulher. Isso, porque, como relata Rafaela, essas mulheres buscam no empreendimento uma maneira de transformar a própria realidade da vida e, consequentemente, a vida da família.
Eu penso que a gente tem que ampliar essa visão do empreendedorismo com uma visão da coletividade
Rafaela Uliana
As mulheres empreendedoras, então, demonstram que a força, a inteligência, a criatividade e a capacidade de liderança não são atributos exclusivos do gênero masculino, mas qualidades inerentes ao ser humano. Para se ter uma ideia dessa força, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE apontou que em 2023 o número de mulheres à frente de negócios atingiu cerca de 9,9 milhões.
Já no Espírito Santo, segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES), o número de mulheres empreendedoras alcançou a marca de 190 mil mulheres em 2023, cerca de 11% da população total feminina do Estado. A pesquisa Empreendedoras Capixabas do Sebrae mostra ainda que 57% das mulheres deixaram o emprego para empreender.
A Gestora estadual do Sebrae Delas, Andréa Gama, afirma que com o decorrer dos anos, mais portas foram se abrindo para as mulheres empreenderem em diversas áreas. Apesar de terem desafios crescentes, elas têm liderado negócios mais diversificados. No entanto, é muito importante que os negócios sejam cada vez mais inovadores e que sejam investidos de tecnologia para agregar mais valor e serem mais rentáveis para as mulheres.
Essas mulheres precisam ter sua autonomia financeira. Ter condições de conquistar uma renda que seja suficiente, não somente para a própria sobrevivência, mas para a realização de sonhos, para transformar a própria realidade e de pessoas que estão a sua volta. E o empreendedorismo é uma das melhores vias para que isso aconteça
Andréa Gama
Além disso, Andréa conta que as características que mais se destacam nas empreendedoras frente a outros tipos de trabalho são a autoconfiança e a persistência. É necessário de um posicionamento para empreender e ter coragem de ousar. As dicas que a especialista oferece é que as mulheres precisam ter conhecimento sobre o seu desenvolvimento e usar a inspiração de mulheres que tiveram a mesma necessidade, o mesmo sonho de empreender e que deram certo, como, exemplo, para fazer novos negócios.
As informações apresentadas refletem a determinação, a dedicação e o poder feminino de construir e de ocupar o próprio espaço na sociedade. Cada dia mais “ser patroa é um grande negócio“. A prova disso são as empreendedoras Andrea Pereira, Ingrid Victória Sepulveda, Sandra Motta, Angela Ferreira, Mariana Teixeira, Luciana Costa e Maria Júlia dos Santos.
Empreendedorismo – é o processo de iniciativa de implementar o próprio negócio, investindo na capacidade e disposição para conceber, desenvolver e gerenciar um empreendimento a fim de obter lucro
Sete histórias, Sete Patroas
Andrea Pereira trabalhava no setor financeiro de uma empresa antes de empreender. Ela recebeu uma oportunidade de abrir o próprio negócio em um espaço da FAESA Centro Universitário e, assim, nasceu a Maria Bonita Food, uma tapiocaria que faz sucesso junto à comunidade acadêmica.
Logo após a abertura do primeiro empreendimento, Andrea teve a oportunidade de abrir uma lanchonete e pouco tempo depois também começou a realizar eventos de coffee break. Contando sempre com o apoio de familiares, a empreendedora sempre acreditou que seria muito mais feliz sendo dona do próprio negócio.
O avanço das mulheres empreendedoras no comando dos negócios é muito importante, pois temos garra e, ao mesmo tempo, sensibilidade para aplicarmos no dia a dia empresarial
Andrea Pereira
Hoje, Andrea emprega três pessoas na Maria Bonita Food. Para aprimorar ainda mais os conhecimentos, a empreendedora participou de um laboratório e conheceu outras tapiocarias para entender o modelo de negócio e aplicar as necessidades na empresa.
Sensibilidade e Delicadeza
A sensibilidade e delicadeza no negócio também é uma das marcas de Ingrid Victória Sepulveda Ribeiro, carinhosamente chamada de Victtoria, que atua como empreendedora há 10 anos. Essa história tem vestígio na tradição familiar, pois a mãe tinha junto com a filha uma loja de roupas e alternava o espaço com um estúdio de tatuagem. Com o passar dos anos, a mãe, tatuadora, ensinou a arte da tatuagem para a filha e, assim, nasceu a Victtoria tatuadora. Tudo começou em 2012 quando a mãe sentiu a necessidade de ensinar algo a mais para a filha ter uma realização própria, sem depender de trabalhar para ninguém.
O meu ponto de partida sempre foi a minha mãe. Ela sempre tentou de tudo. Ela não foi sempre tatuadora. Ela fez várias coisas e essa força de vontade dela que me motiva. Minha mãe foi empreendedora de até de vender balinha na porta da escola. Ela fez tudo que tinha que fazer para vencer na vida
Ingrid Victória Sepulveda Ribeiro
A trajetória dos lugares percorridos é longa por Victtoria. Tudo começou em Minas Gerais, especificamente em Belo Horizonte, depois mudou para o Espírito Santo, na Serra, e partiu para Santa Tereza. Em seguida, retorna a repetir o ciclo até chegar em Vitória. Hoje, está fixada na capital e não pretende sair tão cedo. Ela afirma que esse costume de mudar muito atrapalha os negócios e a vida, e que o melhor é se estabelecer em um endereço fixo, sem mudar de cidade ou bairro.
Aos 27 anos, trabalha como empreendedora de serviços em um estúdio. Ela atua juntamente com uma equipe, fazendo tatuagens e colocando piercings. O marido, que também é tatuador, recebeu a proposta e juntos foram trabalhar no mesmo local.
No estúdio, a única mulher é ela. Por ser rodeada de outros tatuadores homens, é um pouco incômodo, pois gosta de tatuar de uma maneira mais íntima, calma e delicada para passar um ambiente de tranquilidade. A tatuadora afirma que está feliz no estúdio em que atua e que não troca o local. Contudo, deixa uma página do mercado de trabalho aberta para um dia ter o próprio estúdio e Ser Patroa.
Victtoria relata que não é rotina trabalhar todos os dias e percebeu que os capixabas têm uma resistência ao lugar que eles não conhecem. Normalmente, os clientes, então, chegam por alguma indicação. Por ser uma empreendedora terceirizada, ela utiliza apenas o espaço. O trabalha é feito no sistema de porcentagem: uma parte para o estúdio e a outra para o tatuador.
O trabalho é sempre é feito em locais fixos e não considera como opção ir até o cliente. Além do estúdio em Vitória, costuma ir uma vez a cada 15 dias até o espaço próprio de tatuagem que a mãe possui em Santa Tereza. Antes de ir, avisa aos clientes, gerenciando o tempo e os agendamentos enquanto está hospedada por lá.
Como começou a ajudar a mãe bem jovem, não estava preocupada com a questão de trabalho, mas apenas sendo uma adolescente normal. A partir do aprendizado, a tatuadora afirma ter amado tanto essa “arte” que pretende fazer isso para sempre e não quer tentar outra coisa.
Quando é questionada se tiraria algo do trabalho que a incomoda, ela afirmou que gosta com tal intensidade que não mudaria nada. Apenas queria equilibrar a vida de mãe e empreendedora. “Queria ter uma fada madrinha que me ajudasse com tudo o tempo todo“.
A empreendedora diz que a primeira tatuagem que colocou no próprio corpo foi uma estrelinha feita pela mãe quando tinha 14 anos. Já a experiência inicial fazendo em outra pessoa foi com 18 anos. Hoje, já perdeu a conta de quantas tatuagens tem e última vez que conseguiu contar tinha cerca de 42 tatuagens. Além disso, afirma que já perdeu a quantidade de pessoas que passaram pela sua agulha.
Victtoria se sente privilegiada de poder escolher os horários e a forma como vai trabalhar. Ela busca uma rotina mais tranquila de trabalho e, assim, uma qualidade de vida melhor. Para a tatuadora é agradável ser dona “do próprio nariz”, pois pode ter mais liberdade, pode se reinventar e procurar aprender várias coisas diferentes. “Se eu trabalhasse para alguém, não teria esse tempo disponível“, afirma.
Já fui funcionária, trabalhando em shopping, na loja da minha mãe, na papelaria. Ser empreendedor é mais exaustivo. Como assalariada, você vai no horário, faz o seu trabalho, recebe seu salário e vai embora para casa. Contudo é muito limitado. Você com o próprio negócio, vai expandir e vai atingir os objetivos da forma como você acredita ser melhor
Ingrid Victória Sepulveda Ribeiro
Pela flexibilidade de horários, atende de terça à sábado na parte da manhã até metade da tarde, com uma média de 5 horas por dia. Essa limitação é por possuir uma filha pequena, mas consegue organizar antecipadamente caso o cliente não consiga ir ao horário delimitado por ela. O maior desafio, então, que encontrou nesse caminho, é ser mãe e conciliar com o trabalho. Muita responsabilidade gera nela um sentimento de culpa por ter a sensação de que está fazendo tudo errado.
A tatuadora percebe que no mercado de trabalho, as mulheres estão cada vez mais ganhando força, procurando uma forma de inovar. No setor de tatuagem, às vezes, é possível enxergar a diferença entre o trabalho do homem e da mulher. Tudo depende muito do que a pessoa gosta e estuda. Enquanto, tem homens que fazem trabalhos muito mais delicados que mulheres, existem tatuadoras que tem um trabalho mais masculino, com toques orientais ou tribais.
Com o tempo, o traçado de Victtoria foi mudando, ficando mais fino e com a mão mais leve para machucar menos a pele do cliente. O aperfeiçoamento vem a com prática. O estilo atual dela é de traços mais finos e minimalistas.
Se conseguisse aconselhar uma mulher que possui o mesmo sonho, Victtoria sugere estudar bastante. No presente sente que poderia estar em um nível bem à frente do que está agora em questão de técnicas e estilos de trabalho.
O público dela costuma ser mais feminino. Ela relata que já recusaram fazer trabalho com ela somente por ser mulher e presume que não tem muito o que fazer. “É necessário aceitar e seguir em frente uma vez que cada pessoa é livre para ter a opinião que quiser“.
Se pudesse dar uma dica para alguém que está começando a empreender, eu penso que a pessoa tem que escolher uma coisa somente. Escolha algo difícil de ser feito. Se ficar colocando dificuldade em tudo, você não vai fazer nada. Então, escolhe uma coisa para ser difícil e faz mesmo assim. Não dá para ficar esperando acontecer, reclamando, procrastinando. Mesmo que seja assustador, é necessário ter persistência, pois se for desistir na primeira dificuldade, você não faz nada. É essencial ter foco e esforço. Sem isso não dá certo
Ingrid Victória Sepulveda Ribeiro
Victtoria define o próprio trabalho como uma forma de liberdade. Ela explica que quando a pessoa vai fazer uma tatuagem, ela se sente livre de alguma forma: seja de um parente que não concordava, vai ressignificar algum sentimento ou vai buscar uma melhor estética.
Reconhecimento
Outro sentimento forte que move o empreendedorismo feminino é o reconhecimento. Este é o caso da fisioterapeuta Sandra Motta, que começou a empreender porque sentia que tinha potencial para autonomia e, essencialmente, por acreditar que deveria ser melhor remunerada.
Seguindo o objetivo com dedicação, Sandra atualmente trabalha com fisioterapia domiciliar e com o programa “Dança sem lesão”. Ela ministra cursos online para profissionais da dança. A empreendedora também gera empregos e relata não ter sentido dificuldade nos negócios por ser mulher.
Sandra explica ainda que no empreendedorismo muitos riscos precisam ser assumidos e que quem deseja embarcar nessa aventura precisa ter iniciativa e saber vender o próprio trabalho.
A cada nova mulher que descobre essa força, outras se animam e se encorajam. Então, é muito importante que mais mulheres comandem negócios. Me sinto realizada por nunca desistir, por ver meu negócio crescer e por ficar mais reconhecida na minha área
Sandra Motta
Família e Tradição
O Bar da Angela já traz no nome a mulher que comanda o negócio. Angela Ferreira cuida do empreendimento junto com o marido José há mais de 20 anos. Ela foi criada rodeada por uma família de empreendedores e sempre teve vontade de ter um bar para chamar de seu. Hoje, está realizada com a vida de dona do próprio negócio.
Angela conta que o pai Saturnino começou no empreendedorismo com uma mercearia simples, em Aimorés-MG, quando ela ainda era criança. Nessa época, a mãe Honestalda fazia doces para vender na mercearia. Angela relata que não tem memórias da infância antes do empreendimento do pai.
Fui criada atrás de um balcão. Meu pai sempre teve bar. Os meus deveres de escola do primário, eu fazia em cima do balcão do bar dele
Angela Ferreira
Depois da mercearia, Saturnino abriu um bar e, aos 15 anos, Angela já começou a trabalhar no estabelecimento. Um pouco mais crescida, ela se mudou para o Espírito Santo com a família em busca de uma vida melhor. Quando já estava há um tempo no Estado, o pai dela ficou internado e precisava ser acompanhado, mas estava difícil conciliar os cuidados que ele precisava com o trabalho de Angela.
Foi, então, que, nessa época, o marido de Angela sugeriu que ela comprasse um ponto para abrir um bar e assim eles fizeram. Em 2000, a Angela foi procurar, nos classificados do jornal, o lugar em que seria o bar que ela sempre quis ter.
Logo, encontrou o local e eles fecharam negócio. O estabelecimento já era um bar e a Angela diz que no dia seguinte os trabalhos já começaram. Naquele momento, nasceu o Bar da Angela.
Apesar de sempre ter sonhado com isso, algumas vezes, a vida da Angela tomou rumos diferentes. Em 2003, ela decidiu se mudar e foi morar com a irmã em Portugal. Mesmo estando distante do balcão do Bar da Angela, ela relata orgulhosa que quando morou em Portugal e, também durante toda a vida, trabalhou atrás de um balcão.
Em um outro momento, no ano de 2017, Angela precisou se mudar para Búzios, Rio de Janeiro, para cuidar da irmã que estava doente. Diante dessa situação, ela e o marido decidiram entregar o ponto e fazer as malas para outra cidade. Ainda assim, conta que o empreendedorismo continuou em Búzios. O marido conseguiu uma lanchonete para seguir com o trabalho.
Depois que tudo passou, eles voltaram para o Espírito Santo. Em 2020, retornaram para Vitória e o Bar da Angela renasceu, na Ilha de Santa Maria. Já no início do mesmo ano, a pandemia começou. Apesar de ter sido desafiador, ela diz que, no final, tudo deu certo. “Foi difícil, mas vencemos”, relata Angela.
Desde que começaram, Angela e o marido dividem as atividades do bar: ele cuida das mercadorias enquanto ela fica responsável pelo atendimento aos clientes. Para ter sucesso com 20 anos de bar, ela fala que a simpatia e o alto astral são indispensáveis para se dar bem com as pessoas.
Aos que têm vontade de ter o próprio negócio, da mesma maneira que Angela sempre desejou, ela aconselha que arrisquem, pois é muito bom e vale a pena.
O empreendedorismo é uma forma de ter independência e liberdade financeira sem depender de outras pessoas para conseguir pagar as contas
Angela Ferreira
O recado para as mulheres, que sonham com o mesmo que ela, é ainda mais inspirador. Angela lembra que há pouco tempo, as mulheres não eram livres para serem donas do próprio negócio. Atualmente, a realidade é diferente e ela fala que, hoje, com essa liberdade conquistada, as mulheres podem e devem se aventurar nesse caminho do empreendedorismo.
Angela revela que é importante para ela poder ter controle sobre quais dias ela trabalha e quais dias ela descansa. Por isso, não gosta de ser mandada por ninguém e o empreendedorismo, para ela, significa a liberdade de ser dona de si mesma e do próprio negócio.
Patrão, não! Melhor ser patroa (risos)
Angela Ferreira
Persistência
Se aventurar de uma forma diferente foi o que fez a empreendedora Mariana Teixeira entrar no ramo alimentício. Pensando em comemorar os sete meses de vida do filho caçula, Mariana resolveu fazer um bolo para testar as habilidades. De início, a produção não deu muito certo, mas ela não desistiu e continuou tentando. Desse esforço nasceu a Mari Bollos, uma confeitaria artesanal que está atraindo cada vez mais clientes no município de Cariacica.
O motivo da persistência de Mariana na arte de criar bolos confeitados foi por conta da depressão que a empreendedora se encontrava na época. Ela descobriu durante o processo que produzir e decorar bolos a fazia bem. Então, continuou com o apoio do marido e de familiares próximos.
Me sinto realizada demais. Poder levar amor em forma de bolo para as pessoas e receber um feedback cheio de carinho não tem preço. Saber que muitas pessoas confiam de olhos fechados no meu trabalho é gratificante demais. Sou mulher, mãe e confeiteira com muito orgulho
Mariana Teixeira
Mariana destaca também que o empreendedorismo feminino é extremamente importante, principalmente em casos de mulheres que vivem em relacionamentos abusivos e violentos. Seja por necessidade ou oportunidade, o ato de empreender demonstra coragem, atitude e determinação.
O empreendedorismo significa idealizar e realizar, combinando imaginação e criatividade no mundo moderno. Empreender, então, é a arte de potencializar uma ideia e colocar em prática artifícios para atingir o sucesso
Atitude e Recomeço
Atitude foi o que não faltou para Luciana Costa, que é patroa da loja Lú Modas e começou a trajetória no empreendedorismo como sacoleira. A empresa de locação de cópias que ela trabalhava fechou por falta de demanda e Luciana encontrou um mercado de trabalho que não estava disposto a contratá-la. Diante disso, a proprietária da Lú Modas encontrou no empreendedorismo o recomeço da carreira e da vida.
Quando ficou desempregada, Luciana enfrentou dificuldade para ingressar novamente no mercado por ser uma mulher de mais de 40 anos. “Mesmo tendo experiência com comércio, não me contratavam depois de ver a minha idade”, explica a empreendedora.
Diante dessa situação, mesmo após quatro anos colocando currículo, ela não foi contratada. Sem o sucesso desejado nessa área e, aparentemente, sem saída, Luciana decidiu recomeçar a carreira. Dessa vez, sendo dona do próprio negócio.
Então, a história da Lú com o empreendedorismo começou. Ela deu os primeiros passos trabalhando como sacoleira, vendendo roupas para amigos e pessoas conhecidas. Assim que deu início ao novo negócio, decidiu criar um espaço para a mercadoria dentro da própria casa. Depois de 4 anos empreendendo dessa forma, Luciana decidiu ampliar o próprio negócio e abrir a loja física.
A loja Lú Modas vende roupas e acessórios, tem como público-alvo as mulheres e fica localizada em Monte Belo, na cidade de Vitória-ES. Pouco tempo após a inauguração da loja, a pandemia começou e Luciana explica que foi preciso manter a loja fechada por um período, mas que logo voltou a funcionar, com as medidas de segurança.
Pelo Facebook e pelo Instagram, Luciana divulga as mercadorias que tem disponíveis na loja e por lá muitas vendas começam. Por não trabalhar mais como sacoleira, as pessoas que são clientes da Lú Modas precisam ir à loja física para, ao menos, retirar o produto que foi adquirido.
A mercadoria que Luciana vende vem, principalmente, do Brás e, também, da 25 de Março, ambos em São Paulo. Ela conta que sempre viaja, uma ou duas vezes no mês, para renovar o estoque e manter a loja dentro das tendências do momento.
Além das viagens mensais, ela também administra o próprio negócio. Arruma a loja, trabalha como vendedora e lança as novidades nas redes sociais. Em outras palavras, a Luciana faz tudo. Atualmente, a Lú Modas tem uma funcionária que trabalha quando é preciso, mas, principalmente, enquanto Luciana viaja a trabalho para fazer as compras da loja.
A empreendedora conta que cuidar de todas as demandas da loja é o maior desafio que encontrou desde que decidiu ter o próprio negócio. “Eu gostaria de somente viajar e cuidar da parte financeira, que é o que eu mais gosto”, relata Luciana.
Mesmo diante dos desafios de “Ser Patroa”, Luciana explica que, hoje, se sente mais motivada porque sabe que o esforço para manter a loja de pé terá um retorno financeiro direto para ela, diferente de quando ela trabalhava para outras empresas. Além disso, Lú também fala da garantia de que estará empregada, enquanto, na condição de funcionária, a demissão poderia chegar a qualquer momento.
Por ter essa independência, Luciana relata que se sente mais confiante e mais segura desde que passou a ser dona do próprio negócio. Ela fala com orgulho sobre o quanto a loja pode colaborar com a autoestima das clientes e também com a própria autoestima, já que se vestir bem pode fazer parte da construção de uma boa imagem de si mesma.
Hoje, com a loja, eu me sinto mais segura e mais confiante. E eu sou dona do meu próprio negócio
Luciana Costa
O fato de não depender das outras pessoas para ter o que ela precisa, faz com que Luciana se sinta mais à vontade até mesmo com os amigos e com a família. Ela explica que, hoje, se sente dessa maneira por ser independente financeiramente e por ocupar o lugar de protagonista da própria vida.
Luciana explica que se tivesse tido a oportunidade, teria começado muito mais cedo a investir no próprio negócio. Por isso, para quem, assim como ela, tem vontade de empreender, o recado é de que não se pode deixar de batalhar e de correr atrás dos objetivos. “Se der certo, beleza! Se não der certo, você tentou”, reforça Luciana.
Além disso, ela também incentiva as pessoas a não terem medo e por ser uma mulher religiosa, para quem também acredita, Lú fala da importância de ter fé e de colocar Deus à frente dessas decisões. A empreendedora complementa dizendo que os sonhos de cada um precisam vir sempre em primeiro lugar, para que possam, aos poucos, ser realizados. “Nada é impossível”, afirma Luciana.
Para Luciana, se arriscar como empreendedora deve ser uma opção para quem tem esse sonho e ela defende ainda que tem mercado para todo mundo. Ela finaliza dizendo que todo o esforço que faz, durante os dias de trabalho, vale a pena, pois com o empreendedorismo ela passou a ser dona do próprio negócio e, com isso, se tornou independente e confiante.
Você é dona de si, do seu próprio negócio. Então, você sabe que pode estar em diversos lugares porque você vai gastar daquilo que trabalhou
Luciana Costa
Empreendedorismo Comunitário – promove mudanças, acumula recursos e atua em benefício de comunidades. Busca atender as demandas e necessidades sociais de uma região, visando a transformação da realidade de quem vive e frequenta aquela área
Satisfação
Assim como a Lú, a empreendedora Maria Júlia dos Santos também sabe muito bem a sensação de satisfação diária por ser a dona do próprio negócio. Ela é empreendedora no bairro Jaburu, comunidade da cidade de Vitória, local onde Maria Júlia nasceu, cresceu e plantou os frutos da vida que colhe hoje com o empreendedorismo.
Atualmente, ela é dona da padaria e lanchonete “Depois do Culto”. Bem-humorada, Maria Júlia conta que decidiu batizar o negócio com esse nome porque o momento de maior movimento da lanchonete era sempre que as pessoas retornavam da igreja para um lanche “Depois do Culto”.
Antes de abrir a lanchonete, o empreendedorismo sempre esteve presente e a força para continuar nunca saiu de cena. “São muitos desafios, muitas lutas, muitas dificuldades. Então, tem que olhar para o foco e acreditar na força”.
Eu sabia que ela (a filha) dependia de mim e levantava todo os dias para trabalhar. Minha filha é um sonho realizado e a maior inspiração da minha vida
Maria Júlia dos Santos
Maria Júlia conta que trabalhava na rua com barraquinhas de doces e de cachorro-quente. Essa jornada, apesar de ter um bom resultado, era uma rotina cansativa e atravessada inúmeras vezes pelo preconceito. Ela relata que viveu situações de racismo enquanto estava trabalhando, mas que sempre encarou a realidade diária do trabalho como uma oportunidade para mudar a própria vida e a vida da filha.
Foi no ano de 2019, depois de passar um período morando na cidade de Linhares, que Maria Júlia retornou às origens: o Jaburu. Na época, ela estava determinada a inaugurar o próprio negócio e buscar a independência – que já era realidade – de uma forma um pouco diferente, com um negócio fixo no bairro em que morava.
Com essa determinação, Maria Júlia buscou reconquistar o seu lugar na comunidade e alugou o espaço para inaugurar o negócio. Naquele ano, a empreendedora montou todo o cantinho com o objetivo de oferecer aos moradores do bairro um estabelecimento versátil. Por lá, é possível encontrar lanches, pães, doces e até mesmo itens como escovas de dente e sabonete.
O que alimenta a alma empreendedora de Maria Júlia é a fé. O empreendedorismo surge como uma necessidade para sobreviver, mas é a fé que gera força para continuar e torna esse trabalho uma grande paixão na vida dela. “A primeira força é a fé”.
Ao pensar em toda a trajetória que percorreu para chegar até o momento de inaugurar um negócio própria e se dedicar completamente ao empreendedorismo, Maria Júlia lembra de toda a persistência que a levou até o momento de ser patroa e deixa uma mensagem importante para quem sonha em conquistar essa independência.
O conselho que eu dou é: persista. Seja uma pessoa persistente, não desista porque a sua persistência pode te levar a lugares que você nem imaginou chegar. Obstáculos e desafios você vai encontrar, mas não tem vitória e conquista sem luta
Maria Júlia dos Santos
Mas existem diversas formas para facilitar esse caminho. Uma delas, é por meio de capacitações que despertem a patroa que existe dentro de cada mulher. O programa Sebrae Delas desenvolve mulheres líderes apaixonadas pelo sucesso, ajudando a acelerar o resultado dos negócios.
O curso “Mulheres em Foco” e o prêmio “Sebrae Mulher de Negócios” também são alternativas de valorização e inspiração entre o público feminino. Com essas oportunidades, vidas podem ser transformadas e novos caminhos podem ser trilhados a partir do empreendedorismo feminino.
As trajetórias dessas mulheres no mundo do empreendedorismo se destacam em histórias de superação, coragem e força de vontade. Cada um dos relatos carregam uma coisa em comum: o desejo de transformar a própria vida. É a partir desse desejo cheio de revolução que a busca por uma realidade melhor se torna possível. Dessa forma, o empreendedorismo feminino encontra na vida de cada mulher empreendedora o espaço para chegar, ficar e transformar tudo que rodeia essas mulheres.
Edição: Loren Peterli
Imagem do Destaque: Loren Peterli