As dificuldades para empreender e ter sucesso com a arte da dança no Espírito Santo
Empreender na dança é um caminho repleto de desafios e de muita resiliência. Histórias de profissionais mostram como é possível enfrentar as adversidades e se destacar nessa arte
Mariana Bernardino
A dança é arte e oferece, além dos benefícios para a saúde mental e física, uma oportunidade de carreira para aqueles que desejam seguir por esses passos, pois dançar pode, simultaneamente, unir uma expressão artística a uma atividade profissional. Entretanto, por ser vista como um passatempo pela sociedade, existe a desvalorização desse mercado.
O pouco reconhecimento desse meio persiste como um desafio significativo, muitas vezes refletindo-se na remuneração baixa e na falta de reconhecimento dos envolvidos. Para dançarinos em locais como o Espírito Santo, esse problema é, ainda, mais evidente, pois a dança não é vista de forma lucrativa e, para isso, precisam de uma boa estratégia.
A dançarina e empreendedora Malu Braga, influenciada desde nova pela mãe e nascida no ambiente de dança e música, começou no ballet clássico com 3 anos de idade. Atualmente, com 28 anos, é, também, publicitária, professora de jazz funk e nunca cogitou abandonar a paixão. Malu começou no ballet, mas atualmente tem o jazz como modalidade.
Malu também organiza eventos, workshops, dá aulas particulares ensaio para festas para fazer as coisas fluírem, mas admite que nem sempre funciona e que há desvalorização até mesmo dos próprios profissionais. Malu usou a publicidade e estudou bastante para conseguir entender mais sobre o mercado. “Um dos maiores desafios que a gente enfrenta diariamente e ninguém fala (dançarinos e artistas) é a questão do mercado. Ninguém ensina a gente a se ver como um produto e a se vender na dança”, afirma Malu.
Sinto que muita gente está falando e fazendo dança, mas poucas pessoas fazem e falam de forma diferente
Malu Braga
Malu ainda afirma que conta nos dedos quem realmente usa a dança para criar conteúdo de forma atrativa. Segundo a empreendedora, as pessoas tentam se reinventar, mas faltam extrair esse conteúdo de forma diferenciada. Além disso, Malu Braga lançou um e-book “O que ninguém te contou sobre o mercado da dança” para aqueles que querem iniciar uma carreira na dança ou que já estão no mercado, mas buscam se aprofundar.
Já Yuri Satélite, 26, começou na dança em 2009 com o estímulo do pai. Hoje, é dançarino, coreografo, professor de hip hop, breaking e empreendedor. Atualmente, lançou um curso básico online de breaking para dançarinos iniciantes e experientes que desejam seguir esse modelo de dança.
Satélite afirma que o mercado da dança é muito desvalorizado e que os próprios dançarinos não se valorizam, assim como os contratantes. Esse cenário que se aplica no Espírito Santo e em outras regiões. “Acabam contratando o serviço mais barato a profissionais que não vão entregar aquilo que um qualificado entregaria”, conclui.
Paixão imediata
Monique Vieira começou desde criança na arte da dança e está há mais de 20 anos na carreira. Hoje, é professora de ballet e fundadora da estação de dança que leva o próprio nome. Ela ama o que faz e afirma que gerenciar uma escola não é fácil.
Eu dou vida na minha escola. Lidar com as crianças e a família é algo muito gratificante. Nem sempre tudo são flores, pois dirigir uma escola é bem difícil
Monique Vieira
Monique teve e, ainda, tem uma jornada intensa com a dança. Ela afirma que os próprios pais dos alunos veem a dança sempre como segundo momento na parte financeira da família. Ela relata que os pais deveriam ver a dança de outro modo. “A dança traz tantos benefícios como a realização de muitos sonhos e vivência em grupo a forma como se vê na sociedade. Na dança, a gente trabalha muito com a inclusão do aluno e a disciplina, o foco, resiliência e a determinação”, conta.
Outro empreendedor que batalhou muito foi Gabriel Paulucio, 28 anos. Ele teve o primeiro contato com a dança aos 12, quando começou a fazer aula experimental de breakdance e, hoje, é também praticante de hip hop. A partir dos 18 anos, ele começou a participar de eventos e entendeu “na marra” como funciona o mercado para quem vive da arte.
Na época a gente não sabia qual valor cobrar. Então nos contentamos com pouco mesmo. Não tivemos apoio nenhum e foi tudo pela gente
Gabriel Paulucio
Gabriel é integrante do grupo Favela Dança que existe há mais de dois anos com integrantes de Cariacica, Vila Velha e Vitória. É um grupo empreendedor que tem como objetivo difundir a cultura do estado do Espírito Santo por meio de performances, aulas e produções culturais. Hoje, ele não trabalha somente com a dança, mas, também, empreende com organização de eventos e dançarino em shows.
Dedicação e Carreira
Estudantes de Dança que desejam seguir uma carreira precisam se dedicar muito no período de formação. Muitos novatos acabam prejudicados por não saberem como o meio funciona e encontram dificuldades para iniciar profissionalmente. É preciso muito estudo, dedicação e ouvir experiências de pessoas que já estão neste mundo há mais tempo. Neste sentido, a participação em aulas regulares com práticas para melhorar as técnicas nos múltiplos estilos de dança, como, por exemplo, ballet, jazz, dança contemporânea, urbanas e outros tipos são determinantes para evoluir como dançarino.
Além disso, o impacto do meio digital na disseminação e democratização dessa arte tem revolucionado a maneira como a dança é praticada, consumida e vista na sociedade contemporânea. As redes sociais são ferramentas usadas para a popularização, para a ampliação do mercado e, também, na propagação da dança. As redes facilitam a vida das pessoas e muitos profissionais da dança as utilizam para propagar o próprio trabalho. Além de empreendedor, Yuri Satélite afirma que a rede social é um fator determinante para levar o trabalho para um número maior de pessoas.
A partir do momento que você consegue alcançar mais pessoas, a facilidade de entregar o conteúdo acaba ficando muito mais fácil
Yuri Satélite
Orientação para começar
O desafio existe. Por isso é preciso enfrentá-lo e saber como começar. Primeiro, é importante verificar os trabalhos de quem está consolidado. A gerente de relacionamento do Sebrae, Adriana Rocha, afirma que negócios voltados à arte enfrentam dificuldades no mercado, especialmente para manterem uma estabilidade na carreira. Ela aponta também que outra dificuldade é segurar bons profissionais nessa jornada.
O próprio artista quanto empreendedor, precisa de um capital inicial e avaliar questões como: uma boa localização, facilidade de acesso, se preocupar em deixar o ambiente agradável com uma boa estética, avaliar o público-alvo, ter uma boa gestão financeira para manter uma escola, um bom fluxo de alunos e as manutenções do local
Adriana Rocha
Adriana afirma ainda que é preciso uma diversificação de músicas, qualidade dos profissionais, saber se inovar, criar eventos e momentos de alegria. A flexibilidade nos horários também é muito importante, pois muitas pessoas não participam das aulas pela falta de flexibilidade.
A dança, além de arte, é uma forma cultural e expressa linguagem corporal, sem distinguir cor da pele, etnia e condição social. Monique Vieira afirma que é necessário dar acolhimento para os alunos. “Tenho alunos de 46 e 70 anos. A dança não tem idade”, pontua.
Diante dos desafios enfrentados pelos empreendedores no mercado da dança, é crucial reconhecer o valor intrínseco dessa forma de arte e o impacto positivo que ela tem nas comunidades e na sociedade em geral. À medida que mais indivíduos se aventuram nesse universo empreendedor, é fundamental investir não apenas na qualidade técnica, mas, também, na compreensão dos princípios de gestão, marketing e inovação.
Para os artistas, iniciantes ou não, é fundamental buscar apoio e orientação especializada. Instituições especializadas, como o Sebrae, oferecem ferramentas e serviços que podem auxiliar nessa jornada empreendedora. Desde a gestão financeira até estratégias de marketing, o apoio das instituições pode ser decisivo para o sucesso no mercado da dança. Dessa forma, as chances de “dançar” na profissão são mitigadas e ficará restrita ao palco ou tablado.
Edição: Mariana Bernardino
Imagem do Destaque: Mariana Bernardino