Os Desafios e os Impactos do Empreendedorismo Feminino na Sociedade

As mulheres empreendedoras conseguem a cada dia derrubar obstáculos e conquistar espaço na sociedade. A luta diária é uma dura realidade para essas mulheres que buscam construir um futuro com mais liberdade, igualdade e oportunidades no mercado de trabalho

(Foto: Freepik)

Gabriella Guerra e Lívia Athaydes

Segundo pesquisa feita pelo Sebrae e com base em dados do IBGE, no ano de 2023 o percentual de empreendedoras em relação total de negócios chegou a 34% no Brasil, são mais de 10 milhões de mulheres que possuem o próprio negócio. Cada empreendedora carrega consigo uma dificuldade de abrir um novo negócio no próprio bairro, gerando diversos obstáculos pelo caminho. Mas há, também, histórias de mulheres que superaram os desafios e conseguiram empreender.

A empreendedora Kelly Nantes (Foto: Instagram/ @espacokellynantes)

A empreendedora e cabeleireira Kelly Nantes relata que o empreendedorismo feminino é responsável por grande parte da movimentação do dinheiro e de alguns empregos na região onde mora. Ela afirma que quando abriu o próprio salão teve o apoio do marido e isso a impulsionou a continuar. Já a microempreendedora que possui um comércio em que vende joias e semijóias, Luiza Kister, 19 anos, afirma que o maior desafio é se manter firme, não desanimar e conseguir construir uma boa cartela de clientes.

O empreendedorismo feminino tem crescido exorbitantemente nos últimos tempos. Uma pesquisa feita pelo Sebrae apontou que as mulheres são proprietárias de 48% dos próprios negócios no Brasil. As mulheres estão conseguindo se destacar na sociedade, mas ainda existe a desigualdade imposta a elas. A mentora, palestrante e idealizadora do “Mulheres empreendedoras ES”, Liliane Porto, 46 anos, alerta os benefícios do empreendedorismo feminino para a sociedade em geral e que serve como um importante passo para destacar e incentivar a igualdade de gênero no ambiente empresarial. Com isso, pode-se criar um ambiente mais inclusivo e equitativo na sociedade.

A mentora Liliane Porto (Foto: reprodução/ Instagram/ @lilianeportoluz)

O apoio da sociedade, da família e de amigos é de suma importância para qualquer mulher empreendedora que está abrindo o próprio negócio. A empreendedora Kelly acredita que um negócio tem que apoiar o outro como puder, comprando ou compartilhando em redes sociais, etc.

A parte financeira é outro ponto de extrema importância para abrir um negócio e mantê-lo. Liliane Porto afirma que o planejamento financeiro ajuda a garantir a viabilidade do negócio em longo prazo, a tomar decisões adequadas, gerenciar os recursos financeiros de forma eficaz e se antecipar de imprevistos que possam trazer prejuízos aos negócios. Para garantir isso, é importante elaborar um orçamento de forma detalhada, monitorar as entradas e saídas de recursos financeiros, garantir uma reserva financeira e se possível consultar um profissional da área que pode dar dicas e informações. Luiza Kister acredita que de início é bom ter um capital social, pois o retorno não é imediato. Após a inserção do empreendimento no mercado, traçar metas de vendas é muito importante.

A microempreendedora Luiza Kister avisa que não se deve começar pensando que terá muitas clientes, pois conhece muita gente. A maioria das clientes é pessoa desconhecida e deve-se ter um valor para investir e não o usar com demandas pessoais. Já Kelly diz que se deve-se investir em conhecimento e cursos em especialização na área escolhida.

Liliane Porto também relata que sempre conscientiza mulheres a buscar redes de apoio, antes mesmo do planejamento e da abertura do negócio. Uma rede de contatos sólida abre muitas portas e facilita a vida de quem quer empreender, principalmente no que tange o desenvolvimento de habilidades empreendedoras, conhecimento do mundo dos negócios e a autoconfiança. Ela afirma ainda que hoje as redes sociais viraram uma ferramenta poderosa para quem quer empreender e saber criar conteúdo é essencial para o sucesso do negócio. Luiza Kister conta que usa as redes sociais como sua principal ferramenta de trabalho.

Dificuldades para Empreender

No mundo do empreendedorismo, as mulheres estão ganhando espaço com ideias inovadoras e negócios próprios. Contudo, o caminho para se tornar uma empreendedora é cheio de desafios. O machismo ainda é uma barreira constante e as mulheres relatam preconceito e tratamento desigual.

Cenita Carvalho é empreendedora no ramo de merenda escolar (Foto: reprodução/Arquivo Pessoal)

A empreendedora Cenita Carvalho relatou que desistiu de ser funcionária por carteira assinada para ter a escolha de ser a própria chefe e dona do negócio. Hoje, Cenita administra duas cantinas escolares. Cenita diz que empreender não é uma tarefa fácil, principalmente para as mulheres, pois o machismo ainda é muito presente no mundo todo.

As mulheres tendem a receber menos do que os homens e, em alguns casos, são demitidas por terem se tornado mães ou por duvidarem da capacidade. Ao ser questionada sobre machismo no mundo do empreendedorismo, Cenita afirmou que existe um machismo quando se trata de empreendedorismo feminino. A empreendedora conta que já sofreu preconceito da diretora da escola onde possui uma cantina. Ela somente se dirigia ao marido da Cenita, mesmo sabendo que quem respondia pela cantina era ela e não o esposo.

De acordo com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), apenas 19,7% dos fundadores de startups são mulheres e elas ocupam apenas 28% dos postos de liderança no Brasil em 2023. Essas mulheres, na maioria das vezes, empreendem por necessidade e acabam sendo responsáveis por uma grande parte do sustento familiar. Aprender sobre estoque, vendas, organização financeira e gestão de um pequeno negócio é crucial para que possam gerar mais renda com autonomia e dignidade.

O Secretário de Estado de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades), Bruno Lamas, afirma que os maiores dificuldades do empreendedorismo feminino no Espírito Santo é conciliar a vida profissional e pessoal e enfrentar o preconceito em ambientes predominantemente masculino. Nesses ambientes dominados por homens, as mulheres encontram resistência para desenvolver suas habilidades.

O Secretário relara que para fortalecer o empreendedorismo feminino, o Estado investe em políticas públicas com programas de capacitação como o “Qualificar ES – Educação Profissional” que oferece cursos que auxiliam no desenvolvimento de habilidades essenciais para mulheres que desejam iniciar a empreender. É disponibilizado ainda o acesso a financiamento e crédito específico para mulheres empreendedoras, facilitando, assim, o acesso ao capital para iniciar ou expandir com condições facilitadas, taxas de juros reduzida e prazo maior para pagamento.

Izabela Dutra é empreendedora e dona de uma loja capixaba (Foto: reprodução/Instagram/ @izacarladutra)

A empreendedora Izabela Dutra, dona da marca Meraki, contou as dificuldades de se inserir no mercado do empreendedorismo. Ela afirma que começou sem nenhuma ajuda e, hoje, possui uma loja onde realiza entregas em todo o Brasil. O sonho de se tornar empreendedora começou quando finalizou o ensino médio e não sentia vontade de fazer nenhuma faculdade. Izabela Dutra sempre tinha dificuldade de encontrar peças de roupas que fossem de seu agrado e, assim, decidiu criar a própria marca de roupas que possui tamanhos do XPP até o GG.

O economista Normann Kalmus afirma a importância em destacar que, apesar desses obstáculos, as mulheres empreendedoras no Brasil estão superando barreiras, inovando e contribuindo significativamente para a economia. Ele conclui afirmando que existe um machismo quando se trata de empreendedorismo feminino, mas a mulher a cada ano que passa se insere no empreendedorismo mesmo tendo que construir redes de apoio e superar barreiras culturais e de gênero.

Enfrentando Desafios

Com o crescimento constante do empreendedorismo feminino diversas áreas estão se desenvolvendo e buscando valorização. Um ramo que explodiu de uns tempos para cá é o ramo do crochê. Diversas empreendedoras estão apostando em diversos setores, mas como qualquer outro trabalho existem suas dificuldades e desafios

A microempreendedora do ramo de crochê Iara Zottele Medeiros relata que o principal motivo para ter começado a empreender nessa área foi por falta de emprego. Ela diz que o maior desafio é a desvalorização do serviço dela, pois as pessoas não valorizam e querem colocar preço nos produtos.

Iara Zottele afirma ainda que é um desafio constante empreender por não ter uma renda fixa. Ela vive na sorte se vai ou não vender bem no mês. Iara relata que para se destacar no meio do crochê está sempre se renovando e criando a própria arte. “A indústria, hoje, não quer mais um crochê padrão, coisas novas”.

Iara Zottele produz arte em crochê (Foto: reprodução/ Instagran/@iarazm)

Já a empreendedora Samira Raquel Dias Canabrava afirma que não teve nenhum apoio quando abriu o restaurante e isso a afetou, principalmente, nas vendas, pois teve que conquistar aos poucos clientela. Samira conta que no início do negócio investiu todo dinheiro para abrir e, inicialmente, não teve o retorno esperado e isso foi um grande obstáculo financeiro. Com o decorrer do tempo, conquistou clientes, Samira apresentou uma boa gestão financeira e a empresa foi crescendo. Samira recomenda ter uma boa gestão financeira por meio de planilhas para ter controle de estoque, caixa e despesas e que uma boa estratégia para o negócio. Atualmente, está na divulgação, principalmente por tráfego pago.

A economista Bruna Souza Lourenço afirma que o impacto das empreendedoras vai além do aspecto econômico. As mulheres têm sido agentes de transformação em diversos setores, introduzindo novas perspectivas, soluções inovadoras e produtos/serviços direcionados às demandas específicas das mulheres. A economista relata também que um plano de negócios bem elaborado é essencial para o sucesso do empreendedor.

Para Bruna, o empreendedor deve buscar uma pesquisa de mercado detalhada, definição clara do público-alvo e concorrência, estabelecimento de metas realistas e adoção de estratégias de marketing eficazes, além de buscar orientação e apoio de profissionais experientes e mentores. É muito importante o papel da mulher empreendedora, seja na área do crochê, alimentícia e diversas outras. O mercado financeiro tem crescido por esses empreendimentos. A economista entende que o crescimento do empreendedorismo feminino ao longo das últimas décadas é uma conquista crucial para a economia global.

Sociedade Inclusiva

As mulheres ainda enfrentam desigualdade salarial, assédio e discriminação no mercado de trabalho global. Em resposta, programas governamentais, como o “Agenda Mulher” no Espírito Santo, buscam empoderar mulheres com cursos e suporte ao empreendedorismo, mas desafios na equidade de gênero e acesso a oportunidades permanecem significativos. O programa Agenda Mulher é um programa para empoderar e dar visibilidade às mulheres por meio do empreendedorismo, oferecendo e customizando cursos, desde formações e qualificações diversificadas, até o empreendedorismo emocional, que se dá pelo processo de autoconhecimento.

Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial mostrou que a desigualdade de gênero no mundo é de 32%, ou seja, mulheres têm apenas 68% dos direitos, oportunidades e recursos acessados pelos homens no mundo. Essas diferenças e a velocidade com que trabalha-se para diminuí-las variam de país para país. Mas, segundo o estudo, se mantiver as condições atuais, serão necessários 100 anos para que todas as pessoas, independentemente do sexo biológico e da orientação sexual, vivam de forma igualitária.

O economista Normann Kalmus explica que para tornar a sociedade mais inclusiva para mulheres é essencial implementar políticas de igualdade de remuneração, fortalecer leis contra assédio e discriminação, promover a educação sobre igualdade de gênero e apoiar a liderança feminina em todos os setores.

O Secretário Bruno Lamas
(Foto: reprodução/Instagram/ @brunolamases)

O Secretário Bruno Lamas explica como o governo tem atuado para melhorar a desigualdade gênero. Quando se trata de empreendedorismo feminino, o programa Qualificar ES Mulher surge a partir do Agenda Mulher, liderado pela ex-governadora Jacqueline de Moraes. O Secretário afirma que a ideia surgiu com o intuito de contribuir para superar as dificuldades vividas pelas mulheres em situação de vulnerabilidade e favorecer o crescimento econômico com foco no empreendedorismo, na empregabilidade e inovação.

A estudante do Agenda Mulher Angélica Sales relatou dificuldade em conseguir um emprego. Por isso se inscreveu em um programa do governo que possui diversos cursos gratuitos para ampliar o conhecimento e, assim, ter maior facilidade inserção no mercado de trabalho. Já Raissa Pinheiro, 22 anos, formada pelo curso Qualificar ES Mulheres, afirma que é preciso de incentivo dos grandes donos de negócio para que diminua essa desigualdade de gênero. Ela conclui que somente incentivo de cursos não irá fazer com que mulheres adquiram sua independência.


Edição: Gabriella Guerra

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