Pela Glória Eterna: O Fluminense na Final da Libertadores 2023
Bruno Caetano
É raro encontrar um torcedor que diga: “Meu time joga hoje.” Ele sempre afirma: “Nós jogamos.” Os versos de Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio, escritos em 1995, talvez possam ilustrar o que é ser Fluminense. Para os tricolores, não é apenas sobre assistir ao time jogar, mas, sim, sobre fazer parte do time, ser parte de algo maior. Quando o Fluminense entrar em campo, não é ‘o time joga’, é ‘nós jogamos’. Para um torcedor do Flu, não há metas, apenas sonhos. E o maior de todos? A Glória Eterna.
Há quinze anos, o sonho de conquistar a América era adiado. O silêncio, o choro era o que restava no estádio do maracanã contra a LDU. Mas o futebol tem recomeços, trajetórias, novas oportunidades… No dia 04 de novembro de 2023, o Fluminense volta novamente para uma final de Libertadores. Dessa vez, um clássico, Brasil x Argentina, e o Maracanã novamente como palco central, Fluminense e Boca Juniors buscando o triunfo final. Onze jogadores entraram em campo com a camisa do Flu, novamente um sonho, para escrever os nomes na história do tricolor carioca.
Para muitos torcedores, a paixão pelo clube vem antes mesmo de nascer. A universitária Ana Júlia Alvarenga, 21 anos, conta que quando nasceu já tinha a primeira camisa do Fluminense herdada do pai, Emmanuel Alvarenga, 90 anos. A conexão com o tricolor se tornou tão intensa que superou até mesmo a do pai. Ela conta que um dos momentos especiais na libertadores foi assistir ao jogo contra o Argentinos Juniors na libertadores ao lado de Emmanuel.
Ana Júlia, recentemente, mudou para Espanha e a distância para o Rio de Janeiro ficou maior, mas o amor continua. Os últimos jogos são assistidos por meio do celular ou do computador. O mesmo acontecerá na transmissão da final. Ela diz que a única certeza é que no dia 4 de novembro às 21 horas (17 horas no Brasil) ela estará vendo o jogo e mandando boas energias para o Maracanã.
A ansiedade em relação à final cresce a cada dia que passa. A tradição do Boca Juniors e do futebol argentino impõe respeito. Ana Júlia acredita no título, mas sabe que o jogo será bastante acirrado. O trunfo é o Maracanã lotado. Para ela, com a torcida entoando cânticos apaixonados pelo Fluzão, eles serão o 12º jogador em campo.
A Trajetória
A trajetória da máquina tricolor na Libertadores 2023 começou avassaladora com 3 vitórias consecutivas, inclusive com uma goleada histórica em cima do River Plate, 5 a 1 no 3º jogo da fase de grupos. No caminho houve percalços, mas nada que tirasse a liderança do grupo. No “mata-mata”, o time comandado por Fernando Diniz mostrou a que veio, chegando às semifinais da competição. O penúltimo percalço, o mais difícil até então, o Internacional.
No segundo jogo das semis, o Fluminense estava sendo eliminado da Libertadores até os 35 minutos do segundo tempo, mas nesse momento a fé fala mais alto. E são nessas histórias que se criam os milagres. Germán Cano e John Kennedy foram os iluminados da partida. Uma virada épica em 6 minutos e nas preces de milhões de torcedores tricolores. O Fluminense está na finalíssima da Conmebol Libertadores 2023.
O estudante universitário Artur Santos, 21 anos, é membro da torcida organizada, Bravo 52-ES, e é um dos 4 mil tricolores que viajaram para Porto Alegre no Rio Grande do Sul e acompanharam as semifinais da competição no estádio Beira-Rio. Para ele, a partida foi o momento mais marcante até então.
A classificação. Uma virada histórica. Ver meus amigos, pessoas de todas as idades chorando e, depois de 15 anos, estar voltando à final da Libertadores, não tem preço. Foi uma das viagens mais incríveis da vida. Fico feliz de poder vivenciar cada momento dessa libertadores
Arthur Santos
Torcer é uma união em movimento. Frequentemente, é acreditar em milagres, compartilhar a alegria do gol com desconhecidos, derramar lágrimas pela derrota ou reclamar da arbitragem. É vibrar com a vitória e escapar da rotina para fazer do time a religião. E nessas horas vale qualquer fezinha.
Arthur têm vários rituais. Um deles é usar a mesma camisa grená, a mesma bermuda cinza e até o mesmo tênis em todos os jogos do Fluminense. Dependendo, até na mesma cadeira do ônibus ele senta durante a viagem. Dessa vez, a última viagem na Libertadores 2023 será até o Rio de Janeiro, palco da final. Arthur foi um dos 20 mil sortudos a conseguir comprar o disputado ingresso para a final destinando a torcida do Tricolor carioca. Ele diz que está na final. “Era o que a torcida mais desejava. A obsessão da nossa torcida tricolor é ganhar a Taça Libertadores“.
A Redenção
Quando o apito final soou, as cobranças de pênaltis estavam encerradas e a LDU levantou o troféu da Libertadores em 2008. A dor foi sentida, não apenas pelo time e os jogadores, mas por todos os torcedores que investiram a paixão e a esperanças naquele momento. Perder a final da Libertadores para a LDU foi um golpe doloroso para o torcedor apaixonado do Fluminense.
O torcedor Douglas Costa, com apenas 04 anos na época, não sentiu a derrota, mas, tempos depois, veria o Fluminense ser campeão brasileiro. Numa família de 8 irmãos, somente ele é tricolor. Para aqueles que não são torcedores, podem não entender, mas apenas o futebol tem dessas paixões que nascem de lugares inesperados.
Para Douglas, a conquista da Libertadores será de grande importância para o Fluminense e, também, para todos os torcedores do tricolor carioca. Ele diz que não ter um título internacional de peso, dói muito e, portanto, ser campeão tem algo ainda mais especial para tirar essa “zoação” dos rivais.
Está chegando a hora e os torcedores têm grandes expectativas em relação a essa conquista. Para eles, a trajetória do clube na competição faz valer o título. O sonho é grande, mas a “Glória Eterna” somente será conhecida após o apito final…
Edição: Bruno Caetano
Imagem do Destaque: Divulgação/FFC