Bruno Caetano

Há 32 anos, em 1991, o Estado do Espírito Santo era palco de debates importantes. De um lado, um recém-libertado líder político lutava pelo fim de um regime segregacionista e buscava um mundo onde todos tivessem direitos iguais. Do outro, um líder religioso pregava a paz e o combate à pobreza. Duas visitas ilustres que trouxeram visibilidade a temas mundiais relevantes.

Abaixo, você confere um pouco mais sobre como foi a passagem desses dois líderes mundiais no Espírito Santo.

Nelson Mandela

O líder sul-africano Nelson Rolihlahla Mandela saiu da prisão em 1990, após 27 anos de prisão pela sua participação na luta contra o regime racista e segregacionista do apartheid, o que o tornou um símbolo na luta por um regime mais justo e igualitário. Após a sua libertação, Mandela buscou apoio internacional até ser eleito Presidente da África do Sul. O País ainda erada marcado pela divisão racial. Em agosto de 1991, apenas um ano após sua libertação da prisão, Nelson Mandela veio ao Brasil.

O processo de negociação para as eleições sul-africanas de 1994 estava apenas começando, mas a a chegada ao Brasil teve dois propósitos. O primeiro objetivo era obter um apoio internacional sem precedentes para ser o primeiro negro a ocupar a Presidência da África do Sul. A segunda foi solicitar o apoio do então Presidente do Brasil, Fernando Collor, na manutenção das sanções à África do Sul para enfraquecer o apartheid até que deixasse de existir e todos tivessem o direito de votar.

Mandela, então com 79 anos, escolheria Rio de Janeiro, Brasília, Espírito Santo, São Paulo e Bahia como destino da viagem ao Brasil. Albuíno Azeredo se tornaria o primeiro líder negro a governar o Estado do Espírito Santo naquele ano e a ligação com o movimento negro seria um dos principais fatores para a chegada do líder sul-africano ao Estado. No dia 4 de agosto de 1991, apesar dos rumores de que os eventos programados seriam cancelados por motivos de saúde, Mandela chegou a Vitória e foi recebido pela delegação chefiada pelo então governador do Estado.

Mandela era esperado por muitos capixabas no aeroporto de Vitória. No dia seguinte, Mandela discursou para cerca de sete mil pessoas no estádio Engenheiro Araripe, em Cariacica. Durante o comovente discurso, Mandela relembrou a batalha contra o Apartheid, expressou felicidade e agradeceu-lhe a gentileza e o acolhimento. Mandela destacou as belezas do Espírito Santo. Por fim, Mandela afirmou que o povo capixaba está inteiramente com ele na luta pela libertação da África do Sul e com o apoio de todos venceria.

O evento contou com a participação de diversas atrações: bandas do Congo, grupos folclóricos e cantores capixabas e nacionais. O sul-africano e a esposa Winnie Mandela ficaram três dias no Residencial Oficial onde tiveram a oportunidade de provar e aprovar a tradicional moqueca capixaba. Eles também destacaram o sabor do caranguejo e do badejo servidos no almoço e adoraram o guaraná.

Papa João Paulo II

O Papa João Paulo II foi um dos Papas mais influentes da história recente da Igreja Católica. Ele serviu de 1978 até a morte em 2 de abril de 2005. O líder religioso foi o primeiro Papa não italiano em 455 anos e o segundo Papa mais antigo na história. Conhecido por suas extensas viagens apostólicas, visitou mais de 129 países durante seu papado, promovendo o diálogo inter-religioso, a paz e os direitos humanos e, em uma dessas oportunidades, o Estado do Espírito Santo foi incluído.

No roteiro da segunda visita do Santo Padre ao Brasil, Vitória foi escolhida para uma visita de dois dias. No dia 18 de outubro o Sumo Pontífice desembarcou na capital. No dia seguinte presidiu uma missa no Aterro da Condusa, na Enseada do Suá, que mais tarde se chamaria Praça do Papa. Na celebração, com o Arcebispo de Vitória, Dom Silvestre Luiz Scandian, rezaram com um público de 200 mil pessoas.

O evento teve vários momentos marcantes, como o momento em que o Papa se ajoelha diante da imagem de Nossa Senhora da Penha, forte símbolo católico para o povo capixaba. Durante a homilia, o Santo Padre falou intensamente sobre grandes questões, especialmente o aborto. Ao mesmo tempo que defendeu a vida, também condenou todos os tipos de violência e apelou a um mundo mais justo e pacífico. O sermão, interrompido diversas vezes por aplausos, durou cerca de 20 minutos.

Após a missa, o pontífice foi levado à região de São Pedro, uma das regiões mais carentes da Grande Vitória, e realizou uma celebração. O bairro na época era uma visão clara da pobreza global, havia um enorme aterro de lixo a céu aberto na região e a população vivia ali para sobreviver. Durante muitos protestos contra o extermínio de crianças, João Paulo II criticou duramente o capitalismo e a acumulação de riqueza.

A visita do pontífice ao Estado foi repleta de emoção e, por vários momentos, ele quebrou o protocolo e se aproximou da população. As crianças receberam abraços e terços. Durante as mais de 18 horas no Espírito Santo, o Papa provou a moqueca capixaba e aproveitou os doces entregues e plantou uma muda de pau-brasil. No final, fez uma doação no valor de US$ 100 mil para a construção de um centro pastoral e voo para Maceió.

Edição: Bruno Caetano

Imagem do Destaque: Bruna Firmes/Arquivo: Núcleo de Publicidade do Lacos