A indústria da moda e o meio ambiente estão em crise
Ana Clara Fucci
A cada segundo, o equivalente a um caminhão de lixo cheio de sobras de tecidos usados na indústria têxtil são queimados ou descartados em aterros sanitários. A indústria da moda é responsável por 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa por ano, valor que supera a aviação comercial e a indústria naval juntas. Esses são alguns dos milhares de dados em relação ao impacto da indústria da moda no meio ambiente.
Pouco é falado sobre o assunto devido a uma construção social pautada no consumismo desenfreado para abastecer o sistema capitalista em que o mundo está inserido. Desde a revolução industrial, a fabricação contemporânea de produtos vive em uma corrida constante para disputar quem lucra mais, ignorando as consequências iminentes.
Atualmente, a indústria têxtil está em 2° lugar no pódio das mais poluidoras do mundo, perdendo apenas para a indústria petrolífera. O professor de engenharia e desenvolvimento sustentável da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ednilson Silva explica que o impacto ambiental da moda não começa com a confecção da peça final, mas com todo o ciclo de vida do produto e todos os serviços envolvidos.
Desde o plantio da matéria-prima até o descarte indevido. Uma única peça de calça jeans gasta, em média, 5.196 mil litros de água para ser produzida. Um único item no guarda-roupa é capaz de afetar todo o ecossistema. Em embate a esse consumo desenfreado, grandes nomes já abordam uma proposta baseada em tentativas mais sustentáveis.
A professora do curso de Moda da FAESA Centro Universitário Julia Mello trabalha essas ações conscientes nas salas de aula. Ela incentiva a produção de “itens” com materiais que iriam para o lixo, o reaproveitamento de resíduos têxteis e a técnica “zero waste”, que aproveita 100% do tecido. “A indústria da moda poderia tomar medidas para diminuir esse rápido descarte das peças e investir em recursos mais sustentáveis para o futuro do planeta”.
Essa alternativa é adotada por marcas como a “Florent”, considerada o primeiro ateliê lixo zero do Brasil. A sócia fundadora da Florent Sarah Alves, trabalha com a técnica de “upcycling”, que é caracterizada pelo processo de criar algo novo a partir de um item que já existe. Embora a moda sustentável ainda não represente uma concorrência à indústria convencional, ela desafia a aceleração dos ciclos da produção têxtil.
OPINIÃO – É necessário estar consciente de que esses impactos existem e possuem uma relevância global no planeta. A indústria da moda precisa transformar essa corrida por capital (dinheiro) em uma caminhada leve, em que meio ambiente e indústria possam existir em harmonia. O planeta pede socorro, mas está sendo amordaçado por um suéter de grife que está inserido nos 8% do total de emissões globais dos gases de efeito estufa que são lançados na atmosfera para ser produzido. Soluções são possíveis, já existem e devem ser adotadas. Está na hora de começar a fazer questionamentos a respeito da origem da etiqueta da camisa que coça no pescoço. Da linha que desfia da calça jeans. Do algodão do moletom que esquenta. Saber de onde o vestuário vem, pode ser indício para onde a saúde do planeta vai.
Edição: Loren Peterli
Imagem de destaque: Istock/Ryan Mcvay