Opinião – Vinicius Júnior é novamente alvo de racismo na Espanha

Cauã Vieira

O atacante brasileiro Vinicius Júnior, do Real Madrid, foi mais uma vez vítima de insultos racistas na Espanha. Em jogo válido pela 35ª rodada de LaLiga, Valencia e Real Madrid se enfrentaram no estádio Mestalla, casa do Valencia. O jogo foi interrompido no segundo tempo da partida por 8 minutos, após torcedores do time da casa chamarem o brasileiro de “macaco”. O jogo foi retomado e, ao final da partida, Vini foi expulso pelo árbitro da partida após uma confusão.

Vinicius Júnior é vítima de racismo em jogo pelo campeonato espanhol (Foto: Pablo Morano)

Não é a primeira vez que Vinicius sofre com situações lamentáveis como essa. Desde 2021 casos como esse ocorrem, mas nunca com punições devidas aos criminosos. Durante todo o jogo era possível escutar gritos racistas destinados ao brasileiro, mas a situação intensificou-se aos 27 minutos do segundo tempo. Após jogada pela parte esquerda do campo, Vinicius conseguiu identificar torcedores que estavam o insultando verbalmente e fazendo gestos imitando um macaco. Ao denunciá-los para o árbitro da partida, nada foi feito. Após diversas reclamações do brasileiro, o árbitro decidiu conversar com Vinicius Júnior e seu treinador, Carlo Ancelotti. Após a partida, o treinador do brasileiro disse que o árbitro prometeu que se Vinicius fosse insultado novamente, ele paralisaria a partida.

Após esse ocorrido, grande parte do estádio começou a atacar Vinicius de uma vez só. Torcedores do clube da casa gritavam repetidamente “mono” (macaco em espanhol) e “Vinicius, morra”. Ao final da partida, Vini se envolveu em uma confusão e levou uma “gravata” de um jogador do Valencia, sendo preso por 8 segundos.

Vinicius Júnior leva “gravata” de jogador do Valencia durante confusão (Foto: Reprodução/ESPN)

Para se soltar, o brasileiro acabou atingindo o adversário no rosto e, após chamada do árbitro do VAR, foi expulso. No entanto, o árbitro do VAR de maneira inexplicável escolheu mostrar para o árbitro de campo apenas o lance em que Vinicius reage a agressão e não o momento em que ele é agredido. O árbitro do VAR foi demitido após a partida.

Após o término da partida, o treinador do Real Madrid, Carlo Ancelotti, mostrou-se revoltado com os crimes praticados contra Vini e, ainda, afirmou que o brasileiro pediu para sair durante o jogo.

Não quero falar sobre futebol. Quero falar sobre o que aconteceu. Se um estádio grita macaco e o treinador está pensando em tirá-lo por causa disso, algo ruim está acontecendo na Liga. Vini não quis continuar e eu disse a ele que não me parece justo porque ele não é o culpado

Não é uma pessoa. É um estádio que insulta um jogador por racismo e o jogo tem que parar. Eles o insultaram desde o primeiro minuto

Vinicius está muito triste, não bravo. É uma tristeza

Carlo Ancelotti

Os companheiros de equipe de Vini prestaram apoio ao brasileiro nas redes socias. Grandes astros do futebol mundial também ofereceram apoio: Neymar, Mbappé, Ronaldo Fenômeno, Kaká, Rio Ferdinand e outros mais.

Neymar e Mbappé se solidarizam com Vinicius Júnior nas redes sociais (Foto: Reprodução/Instagram)

Ao invés de defender Vinicius Júnior, o presidente de LaLiga, Javier Tebas Medrano, atacou o brasileiro nas redes sociais, dizendo que a Espanha não é um país racista e que Vinicius não pode manchar a competição por causa de casos “pontuais”. Casos que o presidente da liga espanhola chama de “pontuais” já ocorreram 11 vezes com Vinicius Júnior desde 2021. O presidente Javier Tebas Medrano raramente se posiciona mediante aos casos, e quando se posiciona, parece defender o agressor, e não a vítima.

Em resposta, Vinicius Júnior disse que o presidente de LaLiga prefere o atacar do que criticar racistas.

Mais uma vez, em vez de criticar racistas, o presidente da LaLiga aparece nas redes sociais para me atacar. Por mais que você finja não ler, a imagem do seu campeonato está abalada

Vinicius Júnior, em pronunciamento nas redes sociais

A Real Federação Espanhola de Futebol anunciou a anulação do cartão vermelho dado ao brasileiro. A RFEF também anunciou o fechamento de um dos setores do estádio Mestalla por 5 jogos e uma multa de R$ 240 mil ao Valencia. Punições essas que parecem ser protocolares, e não com a intenção de combater o racismo no esporte. No Brasil, em casos de racismo, está previsto pela Confederação Brasileira de Futebol a perda de pontos para o time com torcedores criminosos e a proibição de qualquer público no estádio quando o clube for mandante da partida por um período a ser determinado pela entidade. Punições essas que na Espanha, infelizmente, são vistas duras demais. Entre casos recorrentes e punições amenas, o racismo vai cada vez mais se institucionalizando no esporte.

O governo brasileiro, por meio do presidente da república em reunião do G7, cobrou fortes medidas do governo espanhol em relação ao caso. O Itamaraty também afirmou que vai cobrar medidas da embaixadora espanhola no Brasil. O Brasil, por meio da presidência da república e de seus ministérios, demonstrou de maneira clara ao governo espanhol que não é conivente com os casos de racismo, vem cobrando publicamente para que algo seja feito de fato e o caso não caia no esquecimento.

Edição: Cauã Vieira

Imagem do Destaque: Getty Images/Matteo Villalba