A produção artística como ato de viver, sobreviver e se orgulhar de ser quem é: artista mulher

Leticia Vilaronga

Em cada linha escrita, nota musical composta e cena teatral atuada, mulheres se encontram não mais apenas como musas inspiradoras, mas como as próprias artistas. Durante muitos anos, espaços culturais e produções artísticas eram de difícil acesso para as mulheres, restando como única opção serem objetos de representação por homens. Obras de arte realizadas por punho feminino acabaram se perdendo no tempo e espaço atrás de pseudônimos ou personalidades masculinas para não mostrarem algo que, atualmente, se negam a esconder: a essência e o poder de ser artista mulher.

Produções como a Oficina Teatro para Mulheres, a Filarmônica de Mulheres do Espírito Santo e o Projeto Mulheres de Escrita mostram à sociedade todo esse poder que por anos havia sido escondido. Ainda que, principalmente nas partes técnicas, a presença dos homens seja maioria, as mulheres ganham cada vez mais espaço em todos os setores. “As mulheres estão lutando por seus espaços. Estão se potencializando e se fortalecendo”, afirma a produtora cultural Bruna Sirena, mas ressalta que, apesar da presença maior, ainda há muito a alcançar.

O empoderamento, a segurança e a liberdade para se expressar são alguns dos pontos mais importantes ao se escolher participar de espaços culturais apenas com mulheres. “O objetivo é criar uma rede de apoio para que possamos nos expressar e ter contato com nossas dores e amores através da arte”, diz a idealizadora da Oficina Teatro para Mulheres, Thais Bicalho, destacando que o resultado de projeto é sempre a autoestima fortalecida, algo confirmado pelas alunas dela. “Cria-se um ambiente seguro, acolhedor, sendo possível compartilhar experiências sem medo”, diz a aluna da Oficina Andreza Teixeira.

Ser mulher artista e poder dizer isso em voz alta por intermédio de cada nota tocada no violino na frente de uma plateia repleta de pessoas é o que deixa Claudine Abreu realizada. “Para nós, musicistas, fazer música é uma realização. Ser uma pessoa realizada, protagonista de sua vida, é ser também empoderada”, diz a musicista da Filarmônica de Mulheres do Espírito Santo. Ela destaca ainda que, quando se é mãe, é ainda mais nítido a força que se recebe.

Escrever textos e poemas é escrever a sua história: a de uma mulher artista, sem a interferência de vírgulas e pontos finais eventualmente colocados por homens. Com escritas que abordam o universo feminino e do que ele é feito, participantes do projeto Mulheres de Escrita debatem temas importantes para a sociedade por meio da arte. “Eu utilizo a arte para expressar minha visão de vida como mulher e como mulher preta. Dessa forma, eu me reinvento, me levanto, me sinto orgulhosa”, diz a artista Cinthia Caetano, declarando ainda que a arte não poderia ter outro significado possível, se não “vida”.

Imagem do Destaque: Arquivo Pessoal/Naoto Irie

Foto da Galeria da Filarmônica de Mulheres: Naoto Irie e Débora Benaim

Foto da Galeria Oficina Teatro para Mulheres: Arquivo Pessoal/Thais Bicalho