Opinião: O que está por trás da Copa
Kaio Diogo
A Copa do Mundo é um dos maiores eventos globais e conta com as participações e audiências de diversos públicos. Contudo, muitas vezes, os bastidores não refletem o show. Este ano, o problema se dá principalmente pela geopolítica do local sede. A Copa ocorrerá entre os dias 20 de novembro e 18 de dezembro no Catar, país que passa por problemas variados, como corrupção, censura, trabalho escravo e outros mais.
Um exemplo claro é o alerta dado pelo Conselho de Direitos Humanos da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA). O órgão independente encaminhou uma recomendação a FIFA sobre a homofobia e suas consequências. As censuras sobre os fatos foi outro alerta. Causas importantes não podem ser deixadas de lado por um evento do tamanho e alcance da Copa do Mundo. E, independentemente da cultura, o respeito mútuo deve prevalecer. Assim, cabe aos espectadores protestar e mostrar solidariedade e apoio ao combate ao preconceito com a bandeira LGBTQIA+.
O Catar ainda passa por mais problemas de cunho geopolítico. Depois de se afastar da Arábia Saudita e se voltar para o Ocidente, o país sede da Copa de 2022 usou a riqueza do petróleo para criar o Al-Jazeera e investir no futebol europeu com a compra de clubes e atletas. O ato reflete diretamente nas transferências europeias. O mercado futebolístico europeu é, atualmente, o maior mercado do segmento. Um exemplo do distanciamento financeiro europeu em relação ao resto do mundo é que, juntos, Benfica, Monaco, Red Bull Salzburg, Borussia Dortmund e Sporting faturaram 344,1 milhões de euros (quase R$ 1,9 bilhão) nesta janela de transferências. O valor equivale a 26% do total de 1,3 bilhão de euros (R$ 7 bilhões) movimentado pelas compras e empréstimos de atletas no mundo inteiro.
A Copa do Mundo recebe públicos de todos as nacionalidades, mas o país, por influências políticas, não tolerará liberdades e tentará conter turistas para não atiçar os conservadores. Sinal de rejeição. Durante as semifinais da Copa da Ásia de 2019, espectadores do país anfitrião em Abu Dhabi jogaram garrafas e chuteiras na equipe do Catar. Abu Dhabi é a capital dos Emirados Árabes Unidos, uma monarquia rica em petróleo no Golfo Pérsico. Os Emirados Árabes Unidos são um importante parceiro da Arábia Saudita. Ambos os países resistem à crescente influência do Catar.
Três dias após as semifinais, o Catar venceu o Japão na final e se tornou campeão asiático pela primeira vez. Autoridades esportivas e políticos dos Emirados Árabes Unidos boicotaram a cerimônia de premiação. “O futebol é um espelho das tensões no Golfo”, diz Jassim Matar Kunji, ex-goleiro da liga profissional do Catar e agora jornalista da televisão Al Jazeera. “Os contratos de patrocínio entre países foram rescindidos e as transferências de jogadores foram canceladas”, completou.
O ex-goleiro diz também que muitos catarenses consideraram possível uma invasão da Arábia Saudita. Segundo a especulação da imprensa do mundo inteiro, o exército da Arábia Saudita tem cerca de 200 mil soldados, enquanto o do Catar tem 12 mil. Para compensar a inferioridade militar, o Catar está buscando uma elaborada estratégia de soft power. O país está investindo bilhões em cultura, ciência e futebol com megaeventos, participações acionárias ou parcerias com grandes clubes como Paris Saint-Germain ou o FC Bayern de Munique.
Dessa forma, pode-se concluir que o futebol é um dos pilares da estratégia do Catar em relação a geopolítica. A organização da Copa do Mundo no final de 2022 é a parte mais importante da tática catariana para evitar um possível conflito com os sauditas. Assim, os rumores de manipulação do sorteio realizado pela maior instituição futebolística do mundo não se mostram sem embasamento.
Edição: Sofia Galois
Imagem do Destaque: Panther Media GmbH/Alamy Stock Photo