Os desafios de manter o autocontrole emocional para os jovens da atualidade

Marina D’Angelo

A saúde mental é um estado de bem-estar em que o indivíduo consegue aproveitar ou apreciar a vida, trabalhar e ajudar o meio em que vive, ao mesmo tempo em que consegue administrar os próprios sentimentos. Contudo, o adoecimento mental tem crescido mundialmente e já se encontra entre as principais causas de incapacitação do século XXI.

A saúde mental não é sinônimo da ausência de transtornos e doenças. Metade de todos os transtornos mentais começam aos 14 anos, porém a maior parte dos casos não é detectado e nem tratado. Em termos de doença entre adolescentes, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 28 anos, já a depressão se encontra em terceiro lugar.

Dentre as características de uma pessoa depressiva destaca-se falta de motivação, baixa autoestima, tristeza excessiva e perda de energia (Foto: Pixabay)

De acordo com o psiquiatra José Ciro, o mundo contemporâneo contribui muito para o desenvolvimento de quadros ansiosos, depressivos e de outros transtornos. O profissional destaca que a falta de uma base familiar sólida, somado com a competitividade precoce com o objetivo de TER e não pelo SER, influencia o surgimento de transtornos mentais em jovens na atualidade.

Outro grande fator para o desenvolvimento dos transtornos, segundo a estudante de psicologia Manoela Manhães, é a era digital.

Acredito que pelo contexto digital atual, existe uma problemática no sentido do que é real e virtual, gerando, assim, ansiedade e depressão

Manoela Manhães

É importante lembrar que os fatores são anteriores ao adoecimento emocional e que não acontece da noite para o dia. Dessa forma, é essencial a busca por ajuda médica quando a saúde mental está em jogo. Dentre as características de uma pessoa depressiva destaca-se: falta de motivação, baixa autoestima, tristeza excessiva e perda de energia. Entretanto, uma pessoa com ansiedade apresenta sintomas como agitação, dificuldade de concentração, irritabilidade e preocupações em excesso.

Segundo a jovem Ana Luiza Rodrigues, 19 anos, diagnosticada com ansiedade, o futuro é algo que a assusta, principalmente por não ter controle sobre ele. A jovem destaca que quando a ansiedade está muito forte, costuma respirar fundo e anotar tudo que está sentindo em uma tabela e, em alguns momentos, utiliza a medicação prescrita pela psicóloga.

A busca por ajuda psicológica é a melhor maneira de cuidar da saúde mental (Foto: Freepik)

Ao contrário do que muitos acreditam, buscar a ajuda de um psicólogo ou de um psiquiatra ainda é um grande “tabu” na atualidade. Segundo o psiquiatra José Ciro, alguns dos tabus que o mesmo convive com os pacientes são: medo de consultar o profissional, medo de estar ou enlouquecer, críticas ignorantes contra a profissão e o tratamento.

Assim, é evidente o quão importante é cuidar da saúde mental na atualidade. Passar por episódios de desestabilidade emocional não deve ser encarado como fraqueza. A prevenção se inicia com o conhecimento e a compreensão dos primeiros sinais ou sintomas de alerta da doença mental.

Desse modo, o reconhecimento da importância da saúde mental aumentou e, com isso, a ajuda para que jovens consigam construir uma resiliência mental também aumentou. É necessário ressaltar que não são apenas psiquiatras e psicólogos os responsáveis pela saúde mental, os assistentes sociais, os pedagogos e os enfermeiros também podem garantir o bem-estar emocional.

Ansiedade

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil está entre os principais países com maiores índices de pessoas com ansiedade. São mais de 18,6 milhões de brasileiros que enfrentam essa condição. Dessa forma, cerca de 12% da população sofre com esse transtorno, sendo a maior prevalência em mulheres.

Segundo a psicóloga Carolina Silva Guterres, o quadro de ansiedade envolve agitação psicomotora, preocupação excessiva com o futuro, boca seca, taquicardia, dificuldade em dormir e, em alguns casos, falta de vontade de interagir ou de simplesmente sair do quarto.

Cerca de 12% da população brasileira sofre de transtorno de ansiedade, sendo a maioria mulheres (Foto/Reprodução: Freepik)

A psicóloga ressalta ainda que um dos motivos para os jovens da atualidade estarem desenvolvendo a ansiedade com mais facilidade é a baixa tolerância a aceitação de maneira geral, além de uma inabilidade de lidar com sentimentos, sejam eles positivos ou não, gerando, assim, uma frustação consigo mesmo.

De acordo a professora Yolanda Castro, nos últimos cinco anos os números de estudantes com o transtorno de ansiedade se tonaram mais perceptível e isso se dá pelo fato desses sintomas serem mais discutidos na atualidade, gerando, assim, mais conhecimento.

A professora ressalta também que no ensino médio é raro não ter estudantes com ansiedade. Os professores são instruídos a comunicar o coordenador da instituição para o mesmo alertar os pais do aluno, além de encaminhar o estudante para um psicólogo da escola.

A educadora finaliza afirmando que sempre tenta ter um diálogo com os alunos fora da sala de aula. Desse modo, quando percebe que algum dos discentes apresenta sintomas de ansiedade tenta iniciar um diálogo, caso o mesmo permita, e dessa forma busca ouvi-lo e acalmá-lo para ganhar a confiança.

Um dos motivos para os jovens atualmente desenvolverem ansiedade com mais facilidade é a baixa tolerância a aceitação de maneira geral (Foto/Reprodução: Pixabay)

Segundo Amanda Anixia, 19 anos, diagnosticada com transtorno de ansiedade, quando pensa no futuro a ansiedade ataca, já que não sabe por onde começar a organizar a vida. A jovem diz que pensa em tudo, porém não consegue fazer nada para se concentrar apenas em um assunto e isso acaba afetando a vida universitária.

Ter uma estilo de vida saudável, assim como mudanças de hábitos diários, são ótimas formas de combater e prevenir o transtorno. Deste modo, é de extrema necessidade lembrar que a saúde do ser humano é composta por diversos pilares sendo eles a parte biológica, psíquica e social. Hábitos como ir para a cama cedo, utilizar menos o celular e se alimentar melhor são fundamentais para a diminuição ou prevenção da ansiedade.

Edição: Karol Costa
Imagem em destaque: Freepik