Fake News: o perigo da desinformação
José Modenesi
Fake News, numa tradução da língua inglesa, significa “Notícia Falsa”. Essas notícias falsas são publicadas em veículos de comunicação e redes sociais como se fossem uma informação verdadeira e muitos leitores acabam acreditando nelas. Com potencial de se tornarem virais, as Fake News, em sua maioria, trazem conteúdos falsos relacionados à política.
O termo em inglês foi popularizado no ano de 2016, nos Estados Unidos, durante o período de campanha eleitoral, quando os eleitores de Donald Trump começam a compartilhar inúmeras desinformações sobre a oponente, Hillary Clinton.
Já no Brasil, durante o período eleitoral, em 2018, e com as redes sociais sendo parte indispensável da vida das pessoas, as Fake News também foram disseminadas pelos eleitores de Jair Bolsonaro que afirmavam inverdades sobre as propostas do candidato Fernando Haddad – concorrente direto de Bolsonaro.
O que esses dois momentos históricos revelam é que o avanço tecnológico e a rapidez no compartilhamento de informações ou de desinformações, permitem que uma Fake News seja rapidamente disseminada pelas pessoas e que se torne verdade para alguns leitores, que vão acreditar.
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O professor universitário dos cursos de Jornalismo e Publicidade da FAESA Centro Universitário Felipe Dall’Orto explica que as pessoas tendem a acreditar nas Fake News porque os conteúdos apresentados são, geralmente, informações que aqueles leitores gostariam que fosse verdade, além da notícia falsa ser bem construída.
Felipe complementa dizendo que essas notícias falsas são compartilhadas por fontes consideradas confiáveis e por quem o leitor tem uma relação de afeto. “As Fake News chegam por meio de fontes ‘confiáveis’ e afetivas, como amigos e parentes”, explica Dall’Orto.
Segundo o comunicador, na sociedade atual, o perigo da disseminação de Fake News é que as pessoas passem a acreditar verdadeiramente nas notícias falsas que chegam até elas e que, dessa forma, passem a determinar o próprio comportamento baseado também nessas mentiras.
O Professor lamenta que os profissionais jornalistas estejam sendo cada vez mais atacados e mais desacreditados atualmente. Ele explica que a desvalorização dos profissionais de comunicação atrapalha a credibilidade do jornalismo, permitindo que as pessoas possam acreditar em qualquer um que produza conteúdo, seja ele verdadeiro ou não.
Jornalista e Mestrando em Comunicação e Poder pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Kennedy Cupertino acredita ser mais adequado que as Fake News sejam chamadas de desinformação, uma vez que são baseadas na mentira e que criam uma realidade paralela dos fatos.
Para o jornalista, a desinformação, disfarçada de notícia, é perigosa para a sociedade, que pode acabar vendo o mundo a partir de um olhar enganoso.
Kennedy explica ainda que a consequência dessa disseminação de desinformação é preocupante, tanto na vida individual de cada um, quanto no cenário político. “A desinformação sempre existiu na nossa sociedade e há registros que comprovam isso. Contudo, na atualidade, com as redes sociais digitais, a desinformação é mais preocupante“.
Cuidado com ‘sites de fofoca’
Jornalista de formação, Kennedy afirma que os “sites de fofoca” fazem parte do entretenimento para o público. Apesar disso, ele explica que, hoje, muitas dessas páginas focam no lucro, nos likes, na divulgação e acabam compartilhando desinformação.
Além disso, o jornalista sugere que se os gerenciadores das páginas não têm responsabilidade, o consumidor deve ter. Ele alerta para que as pessoas não troquem páginas de jornalismo por páginas de memes em que, muitas vezes, não se conhece quem administra ou financia o perfil e não se sabe o motivo pelo qual está sendo publicado aquele conteúdo.
Ninguém quer consumir um alimento que é feito de qualquer forma, com processos duvidosos e questionáveis. Assim também é com as notícias
Kennedy Cupertino
Algoritmo
Com o objetivo de entender melhor a disseminação de Fake News na sociedade por meio das redes sociais, é importante entender também como os algoritmos colaboram para que isso aconteça.
Os algoritmos são utilizados para processar múltiplas informações em uma velocidade extremamente rápida. Por meio dessa coleta de informações, é possível traçar o perfil de cada usuário na internet e oferecer a ele o que é de interesse próprio.
Kennedy faz uma relação entre as Fake News e os algoritmos afirmando que, uma vez que o reconhecimento do perfil da pessoa é feito por esse mecanismo, aquilo que o usuário deseja será entregue para que possa ser consumido por ele.
Dessa forma, o jornalista explica que uma vez que o algoritmo faz esse reconhecimento e entende que o comportamento de determinado usuário tem ligação ou relação com Fake News, o algoritmo vai oferecer, cada vez mais, desinformações para que a pessoa continue acessando conteúdos que tem interesse.
Dicas do Kennedy para fugir das Fakes
Burle o algoritmo: busque um conteúdo verídico e diferente do que já aparece nas suas redes sociais. Terá um trabalho extra, mas valerá a pena
Tenha paciência: não compartilhe ‘notícias’ no impulso da emoção ao ler algo que te agradou, pois pode ser Fake News. Reflita sobre o conteúdo para tentar identificar o que é fato e o que é desinformação
Observe o que você supõe: a sua própria mente pode fazer ligações automáticas ao receber uma desinformação para que aquela fake faça sentido. Mantenha a atenção
Tenha interesse: procure sempre ler várias notícias e prestar atenção nas datas, além de se atentar também ao site.
Antes de compartilhar, busque os fatos: é interessante que, após ler um conteúdo, você procure confirmar o que foi dito antes de mandar para as pessoas.
Seguindo essas dicas, a vida das Fake News será mais difícil e a possibilidade das desinformações ficarem longe das suas redes sociais é grande
Kennedy Cupertino
Para entender melhor
O documentário O Dilema das Redes, disponível na Netflix, expõe de que maneira as redes sociais são capazes de controlar a forma que as pessoas vivem, pensam e agem. A produção traz funcionários de algumas das redes sociais mais utilizadas e, também, apresenta, ao longo do documentário, uma história que se relaciona com o que é mostrado, o que facilita a compreensão do telespectador.
Edição: José Modenesi
Imagem destaque: Núcleo de Publicidade do Lacos/Carolina Schaeffer