Melhor formação dos profissionais e ambiente acolhedor são fundamentais para uma boa receptividade das pessoas trans e travestis na escola
José Modenesi
Na série “Segunda Chamada”, exibida pela TV Globo, em 2019, a travesti Natasha, personagem interpretada por Linn da Quebrada, abandonou a escola por sofrer transfobia. No Brasil, a realidade de Natasha é recorrente também para outras pessoas da comunidade trans. Para se ter uma ideia do problema, uma pesquisa feita pela Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil apontou que 82% das pessoas trans deixam o ensino médio entre 14 e 18 anos. Para mudar essa realidade é preciso que os profissionais da escola saibam receber as pessoas trans e travestis.
Dentro da escola, o acolhimento é indispensável para que o aluno permaneça no ambiente escolar e conclua os estudos sem que passe por situações desagradáveis e por situações de violência. Para que isso ocorra, profissionais explicam a importância da formação continuada e da preparação para uma boa receptividade da comunidade trans na escola.
Confira o primeiro texto que faz parte reportagem “Vivência trans e travesti”. No primeiro texto da série especial, o leitor conheceu um pouco sobre os desafios e o acolhimento no ambiente escolar: ESTUDAR E SER TRANS: DO DESAFIO AO ACOLHIMENTO
A professora de geografia, fundadora e presidenta do Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE) e travesti, Sayonara Nogueira, afirma que a escola seria um lugar mais acolhedor para a comunidade trans se existisse uma formação continuada de professores. Dessa forma, os profissionais da instituição de ensino passariam a saber lidar com as demandas da comunidade trans dentro do ambiente escolar.
Sayonara relata que vivenciou muitas situações de preconceito, especialmente quando frequentou o ensino superior. Para evitar essas violências, ela buscava ocupar lugares importantes dentro das instituições em que estudava para que pudesse ser mais respeitada e mais ouvida.
Atualmente, a professora recebe convites para trabalhar, justamente, com a formação continuada de professores e considera a iniciativa importante para tornar a escola um ambiente menos hostil para a comunidade trans. Sayonara conta que questões de legislação e de pesquisa são trabalhadas nessas formações com o objetivo de reforçar o quanto é fundamental o papel do professor para que a escola não se torne um motor de exclusão da população trans e travesti.
A psicóloga e trans não-binária Duda Pedezert explica que é indispensável o apoio da escola para com alunos da comunidade trans. Ela acredita que, dessa maneira, será possível proporcionar aos alunos da comunidade o sentimento de que eles pertencem ao ambiente escolar.
Duda afirma também que quando os direitos das pessoas trans e travestis dentro da escola não são atendidos, essas pessoas passam a ter a sensação de que aquele ambiente estudantil não é para elas. Esse sentimento de não pertencimento pode acabar tendo como consequência a evasão escolar.
Da mesma maneira que a professora Sayonara, a psicóloga também pontua a importância da formação continuada dos profissionais da educação para que a escola seja um ambiente que saiba receber as pessoas trans e travestis. Consequentemente, com essa formação, a comunidade trans poderia concluir os estudos com paz e com dignidade.
Além disso, Duda também explica que, independentemente do acesso à formação continuada, é importante que os profissionais da educação estejam sempre dispostos a ter a sensibilidade de conhecer o indivíduo e entender as demandas de cada um. Para ela, por meio dessa disposição e dessa sensibilidade, os profissionais da educação construiriam um ambiente escolar de mais respeito e de mais acolhimento para as pessoas trans e travestis.
Edição: Karol Costa
Imagem do Destaque: Núcleo de Publicidade do Lacos/Gabriel Bom Pastor