Lembrando de Elisa Lam com Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil

Sofia Galois

Às vezes, a vida real consegue ser mais assustadora do que a pior das ficções de terror. Ao longo da história da humanidade, diversas tragédias e pessoas ganharam destaque pela crueldade. Alguns dos crimes mais famosos ainda permanecem sem explicação após muitos anos. Um exemplo mais comentado é o caso do desaparecimento da jovem Elisa Lam, retratado no documentário Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil, a recomendação da semana. 

Pôster do documentário da Netflix, Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil (Imagem: Divulgação/Netflix)

O gênero true crime, traduzido literalmente como crime real, tem intrigado e conquistado cada vez mais audiência atualmente. Trata-se de uma não-ficção que aborda casos de tragédias e crimes verdadeiros e o narrador expõe detalhes sobre as ações de cada indivíduo envolvido nos casos e acompanha as investigações. Seja por meio de Podcasts, Vídeos, Documentários ou Livros, o público cresce a partir do sentimento de curiosidade. 

Elisa Lam era filha de imigrantes chineses que haviam se mudado para o Canadá em busca de melhores condições para a família (Divulgação/LAPD)

Em Cena do Crime, a audiência é levada a acompanhar o passo a passo de um dos nomes mais famosos do universo de True Crime, Elisa Lam. Em 2013, A jovem estudante canadense tinha apenas 21 anos quando decidiu fazer uma viagem a Los Angeles, Estados Unidos, onde ficaria hospedada no Hotel Cecil. Após desaparecer por cerca de 19 dias, o corpo de Elisa foi encontrado em uma das caixas d’água do hotel. 

Diversos fatores contribuíram para que o caso se tornasse um dos mais comentados da história, sendo o principal deles as condições misteriosas do desaparecimento. O último registro de Elisa foi um vídeo gravado pela câmera de um dos elevadores do hotel. Depois de dias de investigação sem resposta, a polícia de Los Angeles liberou o vídeo em busca de ajuda do público. Rapidamente, o registro viralizou nas redes sociais com mais de 5 milhões de visualizações. 

No vídeo, uma série de eventos suspeitos seguiram. Elisa aparece apreensiva e nervosa apertando os botões do elevador mas as portas não se fecham. A jovem então entra e sai do lugar diversas vezes, olhando para os lados e fazendo movimentos estranhos com as mãos. 

O registro foi alvo de diversas análises e teorias da conspiração. As acusações por parte da audiência foram desde assassinato à perseguição e até a atividade sobrenatural. Alguns ainda afirmaram que a jovem poderia estar passando por um episódio de surto psicológico devido à bipolaridade.  

Os pais e irmã de Elisa foram a Los Angeles recuperar o corpo e o casal não falava a língua inglesa. O caso de Elisa também tornou-se famoso na China (Foto: On cc news)

Além do vídeo misterioso, o local onde a estudante foi encontrada também é um dos fatores pelo qual o caso atingiu grandes proporções. Quando os hóspedes do hotel começaram a reclamar da coloração escura da água, um dos funcionários apressou-se em checar as caixas d’água, infelizmente encontrando o corpo de Elisa. 

Por anos, as autoridades debruçaram-se em dar ao caso uma conclusão final. Contaram ainda com uma legião de detetives amadores na internet, analisando os detalhes e criando hipóteses. Nenhuma resposta foi encontrada até os dias de hoje. Esse foi o motivo que levou o diretor Joe Berlinger, irritado pela forma irresponsável com a qual o crime foi tratado, a produzir o documentário de 4 episódios sobre a história.

Fundado em 1924, o Hotel Cecil já foi palco de diversos crimes, funcionando normalmente até hoje (Foto: Web)

Ao longo da obra, Joe retrata cada detalhe e teoria que poderiam ter afetado o resultado da história. Adicionando inclusive o histórico de tragédias e mortes do próprio Hotel Cecil e o contexto de Los Angeles. O diretor também demonstra os aspectos positivos e negativos dos detetives virtuais, criticando a desumanização do crime, além de abordar o lado da família de Elisa. 

Casos como esse despertam a curiosidade dos espectadores, ainda mais pelo fato de não ter uma conclusão concreta. Eles mexem com as emoções e fazem com que o público se sinta parte de algo maior, com a possibilidade de ajudar as vítimas ou simplesmente ouvir e aprender com as histórias. Não é à toa que as produções estão crescendo ao redor do mundo e nas plataformas de streaming. 

Contudo, é necessário destacar que são histórias verdadeiras. Pessoas e famílias que passaram por traumas incompreensíveis e ainda sofrem com a situação. Por isso, o respeito e a ética são o mínimo que se espera. Ao invés de explorar os indivíduos por meio de uma fantasia de Sherlock Holmes, cabe a cada espectador lembrar-se das vítimas e o que representam, preservando a dignidade. 

O documentário lançado em 2021 está disponível na Netflix atualmente. Que tal tirar um tempo para aprender um pouco mais sobre a história de Elisa Lam? Fazendo, assim, com que seja lembrada por muitos anos. Afinal, esse dever ser o objetivo de comentar sobre true crime.

Edição: Sofia Galois

Imagem em destaque: Núcleo de Publicidade do Lacos/Bruna Firmes