Fanfics para expressão e representatividade
Ana Clara Gonçalves
Protegidos por pseudônimos, jovens escritores com vontade de ter maior contato com as próprias histórias ou celebridades preferidas assumem espaços on-line com expressividade e com liberdade, criando um objeto cultural. As fanfics também ultrapassam limites midiáticos e abordam temáticas pouco representadas em meios culturais dominantes, mas as concepções estigmatizadas afetam os autores – ficwriters – e a denominação fanfiqueira (o) é encarada de forma pejorativa pela sociedade.
Confira o primeiro texto que faz parte reportagem “Fan Fictions”. No primeiro texto da série especial “Fan Fictions”, o leitor conheceu um pouco desse universo literário: Desbravando o Universo das Fanfics .
Muitas vezes, as histórias – escritas por fãs e para fãs – surgem, pois as pessoas não se enxergam dentro das histórias com maior circulação. A jornalista e autora de fanfics que usa o pseudônimo de Mc Fanfiqueira conta que começou a escrever com 14 anos. Hoje, com 26 anos, segue escrevendo histórias com elementos que ela sentia falta e que gostaria de ter tido contato quando adolescente.
No meu casulo de proteção, eu me sentia bem e dentro dele existia as fanfics. Contudo, nas fanfics, eu nunca estava porque não existia um corpo igual ao meu, não existia uma existência ou uma experiência como a minha
Mc Fanfiqueira
A psicóloga comportamental e professora Caroline Corrêa justifica o pensamento da escritora. Segundo a professora, a pessoa que não se percebe representada tende a entrar num processo de exclusão próprio. Por isso, a representatividade tem grande importância, principalmente para o aspecto de saúde mental dos jovens, pois reforça a possibilidade de ser determinada forma, promovendo identificações sociais e ajudando no processo de aceitação, fazendo, assim, valer os direitos do diferente.
Apesar do diferencial dos sites de fanfics que trazem interatividade – disponibilizando troca de características físicas e de nomes – o estudo “Fanfics interativas que não são tão interativas assim” mostra que 52,6% de 57 entrevistadas não se sentem representadas. Para a psicóloga Carolina, isso se dá por conta de um contexto social que impõem e que exige um padrão estético por parte das autoras. Então, mesmo com o surgimento de personagens pessoas com deficiência (PCDs), negros e gordos, o ser humano ainda não está isento das exigências sociais.
As autoras optam também pelo uso de pseudônimos. Mc Fanfiqueira conta que assumiu essa personalidade em 2020 para proteger a identidade real e não atrapalhar a carreira de jornalista. Caroline explica que, além de ser uma proteção social e uma prática comum entre os autores, o pseudônimo serve também para o processo de aceitação, sendo mais fácil se expressar por meio de um personagem e se isentando em parte de possíveis retaliações.
Edição: Karol Costa
Imagem do Destaque: Núcleo de Publicidade do Lacos/Bruna Firmes